O OVO NÃO QUERIA mais saber de ficar encarcerado dentro do invólucro apertado que o impedia de ver a vida lá fora, de forma plena e prazerosa. Fora de si, sobretudo apressado e agastado, enjoado e abatido, arranjou um jeito de se livrar daquela prisão que o oprimia e intimidava, e fazia dele um ser inferior e desgraçado, pequeno e detestável. Na verdade, o Ovo precisava se sentir leve e solto, sem amarras, experimentando o frescor do vento balançando as folhas das árvores, e o calor aconchegante de um impecável sol radiante.
A Clara, sua amiga inseparável, sabedora dessa vontade quase doentia do velho zigoto, estava disposta a ajudar o amigo em seus anseios corroborando acirradamente para que as suas pretensões fossem atendidas e levadas à efeito. Assim pensando, foi ter uma conversa de pé de ouvido com a amiga Gema.
Clara:
— Gema, sabia que o nosso querido amigo Ovo fugiu da caixa onde vivia com seus onze irmãos?
Gema:
— Me falaram. E agora você me trazendo essa confirmação, fico mais tranquila. Mas e daí? Ele está realmente livre, leve e solto... ou...?!
Clara:
—... Quem dera, minha amiga. Quem dera! Você nem imagina o que aconteceu! Meu Deus, só de pensar...
Gema:
— Fala de uma vez. Deixe de rodeios. Vamos direito ao ponto...
Clara:
— O nosso amigo Ovo está numa frigideira de cabo preto em cima do fogão...
Gema:
— Jesus, Maria, José!
Clara:
— Precisamos fazer algo, amiga Gema. E urgente, ou nosso amigo virará, dentro em pouco, numa bela fritada, sem contar que irá parar na barriga dos filhos tresloucados da patroa.
Gema:
— Que horror!
Clara:
— Bota horror nisso, amiga. Bota horror nisso.
Gema:
— Como aconteceu?
Clara:
— Na hora da fuga, o Ovo, ao atravessar para os lados de uma dispensa pouco usada, se viu pego numa armadilha pela empregada, a esquisita da Célia da Boca Torta, que passou a mão no coitado, lhe deu vários tapas pelo corpo, e, assim, que o viu pelado, o jogou com tudo, para dentro de uma frigideira. Aliás, é essa em que ele está agora.
Gema:
— Que azar amiga, coitadinho!
Clara:
— Só não virou comida, pelo menos por enquanto, em face de ter faltado óleo e a Célia da Boca Torta se debandar às carreiras até o supermercado, possivelmente a mando da patroa.
Gema:
— Então vamos agir?
Clara:
— Sem mais delongas.
Gema:
— Por onde começamos?
Clara:
— Tenho um plano. Tomara que dê certo. Seguinte: você vigia a Célia Boca Torta. Enquanto isso, eu passo a mão no Ovo e o tiro das incertezas do além.
Gema:
— OK. Vamos nessa.
Clara:
— “Demorô!”.
Numa corrida contra o tempo, Clara partiu para onde estava o Ovo, sem roupa, estirado na frigideira a alguns centímetros apenas do bico do fogo. Em sentido oposto, Gema se precipitou para a porta da sala e se postou à espreita da empregada. O azar, contudo, se faz presente e pegou as duas amigas de surpresa. Astolfo, um dos filhos da patroa entrou inopinadamente na cozinha, e, de forma estabanada, ao se apoderar de uma panela, de arroz, derrubou a pesadona peça em Clara, esmagando-a contra a tampa do fogão.
Em seguida, logo atrás, veio, no vácuo dele, o irmão Astulfo. Não vendo a Gema de olhos arregalados no portal de entrada que acessava a sala, adentrou às carreiras e estraçalhou sobre seus sapatos a desditosa, misturando seu pobre corpo a um velho e surrado capacho. Com esse gesto violento, o rapaz levou a desventurada que igualmente a malfadada Clara (que estavam prestes a salvar o Ovo do seu desditoso porvir) aos grilhões do nunca mais. Por falar no Ovo, esse também não teve como se livrar de sua longa senda sem retorno. Envolto a uma pitada de sal, cebolas picadas, massa de tomates e pedacinhos de linguiça, se transformou, num piscar de pálpebras, em uma bela e saborosa omelete.
Quem se banqueteou com essa guloseima? Antes de responder, o autor do texto quer agradecer penhoradamente aos que não fizeram parte ativa de toda essa horrenda situação, em que o pobre Ovo se viu frente a frente com a desgranhenta Senhora Dona da Foice. Aqui uma lembrança em tempo hábil: não somente o Ovo se viu em palpos de aranha. Com ele, se ferraram, de verde amarelo, e, igualmente, se viram aprisionados pelas voracidades do eterno, a Clara e a Gema. Clara, levada pela ação inconsequente de Astolfo perdeu a vida com uma panelada cheia de arroz diretamente em sua cabeça.
Ao esmo tempo, Astulfo esmagou a Gema, ao se posicionar em vigia à empregada no portal de acesso à sala. Partiu dessa vida sem tempo de se defender, ou dar um berro, sem, mesmo norte, soltar um pio, comprimida debaixo das solas esmagadoras e assassinas de um infeliz destrambelhado que sequer se dava ao trabalho de olhar para onde transitava. Assim, dessa maneira um tanto azarada e cruel, pungente e acrimoniosa (mordaz), terminou a carreira de três inocentes criaturas que só queriam viver felizes em seus respectivos mundinhos.
A Clara, sua amiga inseparável, sabedora dessa vontade quase doentia do velho zigoto, estava disposta a ajudar o amigo em seus anseios corroborando acirradamente para que as suas pretensões fossem atendidas e levadas à efeito. Assim pensando, foi ter uma conversa de pé de ouvido com a amiga Gema.
Clara:
— Gema, sabia que o nosso querido amigo Ovo fugiu da caixa onde vivia com seus onze irmãos?
Gema:
— Me falaram. E agora você me trazendo essa confirmação, fico mais tranquila. Mas e daí? Ele está realmente livre, leve e solto... ou...?!
Clara:
—... Quem dera, minha amiga. Quem dera! Você nem imagina o que aconteceu! Meu Deus, só de pensar...
Gema:
— Fala de uma vez. Deixe de rodeios. Vamos direito ao ponto...
Clara:
— O nosso amigo Ovo está numa frigideira de cabo preto em cima do fogão...
Gema:
— Jesus, Maria, José!
Clara:
— Precisamos fazer algo, amiga Gema. E urgente, ou nosso amigo virará, dentro em pouco, numa bela fritada, sem contar que irá parar na barriga dos filhos tresloucados da patroa.
Gema:
— Que horror!
Clara:
— Bota horror nisso, amiga. Bota horror nisso.
Gema:
— Como aconteceu?
Clara:
— Na hora da fuga, o Ovo, ao atravessar para os lados de uma dispensa pouco usada, se viu pego numa armadilha pela empregada, a esquisita da Célia da Boca Torta, que passou a mão no coitado, lhe deu vários tapas pelo corpo, e, assim, que o viu pelado, o jogou com tudo, para dentro de uma frigideira. Aliás, é essa em que ele está agora.
Gema:
— Que azar amiga, coitadinho!
Clara:
— Só não virou comida, pelo menos por enquanto, em face de ter faltado óleo e a Célia da Boca Torta se debandar às carreiras até o supermercado, possivelmente a mando da patroa.
Gema:
— Então vamos agir?
Clara:
— Sem mais delongas.
Gema:
— Por onde começamos?
Clara:
— Tenho um plano. Tomara que dê certo. Seguinte: você vigia a Célia Boca Torta. Enquanto isso, eu passo a mão no Ovo e o tiro das incertezas do além.
Gema:
— OK. Vamos nessa.
Clara:
— “Demorô!”.
Numa corrida contra o tempo, Clara partiu para onde estava o Ovo, sem roupa, estirado na frigideira a alguns centímetros apenas do bico do fogo. Em sentido oposto, Gema se precipitou para a porta da sala e se postou à espreita da empregada. O azar, contudo, se faz presente e pegou as duas amigas de surpresa. Astolfo, um dos filhos da patroa entrou inopinadamente na cozinha, e, de forma estabanada, ao se apoderar de uma panela, de arroz, derrubou a pesadona peça em Clara, esmagando-a contra a tampa do fogão.
Em seguida, logo atrás, veio, no vácuo dele, o irmão Astulfo. Não vendo a Gema de olhos arregalados no portal de entrada que acessava a sala, adentrou às carreiras e estraçalhou sobre seus sapatos a desditosa, misturando seu pobre corpo a um velho e surrado capacho. Com esse gesto violento, o rapaz levou a desventurada que igualmente a malfadada Clara (que estavam prestes a salvar o Ovo do seu desditoso porvir) aos grilhões do nunca mais. Por falar no Ovo, esse também não teve como se livrar de sua longa senda sem retorno. Envolto a uma pitada de sal, cebolas picadas, massa de tomates e pedacinhos de linguiça, se transformou, num piscar de pálpebras, em uma bela e saborosa omelete.
Quem se banqueteou com essa guloseima? Antes de responder, o autor do texto quer agradecer penhoradamente aos que não fizeram parte ativa de toda essa horrenda situação, em que o pobre Ovo se viu frente a frente com a desgranhenta Senhora Dona da Foice. Aqui uma lembrança em tempo hábil: não somente o Ovo se viu em palpos de aranha. Com ele, se ferraram, de verde amarelo, e, igualmente, se viram aprisionados pelas voracidades do eterno, a Clara e a Gema. Clara, levada pela ação inconsequente de Astolfo perdeu a vida com uma panelada cheia de arroz diretamente em sua cabeça.
Ao esmo tempo, Astulfo esmagou a Gema, ao se posicionar em vigia à empregada no portal de acesso à sala. Partiu dessa vida sem tempo de se defender, ou dar um berro, sem, mesmo norte, soltar um pio, comprimida debaixo das solas esmagadoras e assassinas de um infeliz destrambelhado que sequer se dava ao trabalho de olhar para onde transitava. Assim, dessa maneira um tanto azarada e cruel, pungente e acrimoniosa (mordaz), terminou a carreira de três inocentes criaturas que só queriam viver felizes em seus respectivos mundinhos.
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Texto enviado pelo autor.
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