Nota: Semana passada recebi pelos correios, do grande poeta curitibano Daniel Maurício, 12 livros de sua autoria. Postarei periodicamente poemas, que selecionei aleatoriamente de cada um deles.
JFeldman
CAÇADOR DE ILUSÕES
Quando a paixão me cegou
corri atrás de ilusões
feito criança perseguindo borboletas.
Os cabelos grisalhos
gritam silenciosos no espelho
os segredos do amanhã.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
CICLO
No princípio era o caos
progredimos, progredimos...
agredimos.
No final era o caos
nos encontramos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
DESENCANTO
A cada não do amor
me sinto oco por dentro
feito casca de barata morta.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
DOR
Dor até que rima com flor
só não tem a sua beleza,
o seu colorido,
o seu perfume.
A dor é seca
feito um estampido de bala
é espinho na carne
é lágrima da alma.
Por isso, não se atraque na bala
distribua chiclete
cultive a paz
distribua sorriso.
Flor rima com amor que
não combina com dor.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
ENTRELINHAS
Não quero dizer nada
quando escrevo.
Quero apenas,
despertar as entrelinhas
adormecidas em cada peito.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
FOLHAS CAÍDAS
Os saltos do sapato
soluçam nas calçadas.
Ah, pedrinhas de paralelepípedos
que não saem da memória!
Pelas avenidas estreitas
saio a procura de mim.
Alvoroço de meninos
nos quintais e nas esquinas.
Hoje, só o vento varre em silêncio
as folhas caídas da minha infância.
Meus sonhos, meus brinquedos,
minhas risadas,
por certo estão trancadas,
empoeiradas, em algum
sótão escuro do passado.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
GOLE D’ ÁGUA
A ira
o fogo
a mágoa.
O melhor a fazer
é tomar um gole
d'água.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
GOMA AMARGA
Senti o barulho da fantasia
a se quebrar dentro de mim.
Não ouvi o sino,
chorei menino
o vazio estava ali
em mim.
Passou o tempo,
chegou a idade
a realidade,
amarga goma de mascar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
GRANIZO
O branco pipocava nas calçadas.
Em sangue,
o morro escorria
pelos rios e pelas ruas da cidade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
INFÂNCIA
Infância
sonhos, risos,
lágrimas.
Imagens confusas
no pensamento.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
LARGADO
Joguei meu cansaço
no tapete da sala,
e meus sapatos
num canto qualquer.
Chorei tua ausência,
por mim já sabida,
mas não compreendida,
e dormi criança abandonada
pois me descobri em casa
de volta com a solidão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
O HOJE
O hoje
é sempre velho demais
para quem tem
saudade do futuro.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
PAPAGAIO
Papagaio
que não papa galho
galho que papou
meu papagaio.
Pobre papagaio
que só tem rabo
e não tem papo.
Por isso não
papa ninguém.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
PARTITURA MUSICAL
Retas linhas
com bolinhas
melodia que soa bem
não seriam
andorinhas,
nos fios, vendo passar
o trem?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
PEDAÇOS DE ESTRELA
Abri o armário da noite
uma tigela branca
copos de cristal
derrubei a prateleira
lua e estrelas em pedaços
na poça de caldo
de pêssego no chão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
PRIMEIRO DE ANO
Entre risos, vivas e abraços,
explode em cores os fogos pelo céu.
As cascatas de artifícios implodem
o ano velho com seus fantasmas,
deixando livre o espaço
pra esperança florescer.
Além da janela, a felicidade
brinda nos lábios sorridentes.
Dentro de mim,
a mesma lágrima lacrada.
O mesmo fel amargando a alma triste.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
SEDUÇÃO
Uma palavra, à noite, voava
como um pernilongo,
sem me deixar dormir.
Era o começo de um poema,
que não queria sair.
Quando a paixão me cegou
corri atrás de ilusões
feito criança perseguindo borboletas.
Os cabelos grisalhos
gritam silenciosos no espelho
os segredos do amanhã.
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CICLO
No princípio era o caos
progredimos, progredimos...
agredimos.
No final era o caos
nos encontramos.
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DESENCANTO
A cada não do amor
me sinto oco por dentro
feito casca de barata morta.
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DOR
Dor até que rima com flor
só não tem a sua beleza,
o seu colorido,
o seu perfume.
A dor é seca
feito um estampido de bala
é espinho na carne
é lágrima da alma.
Por isso, não se atraque na bala
distribua chiclete
cultive a paz
distribua sorriso.
Flor rima com amor que
não combina com dor.
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ENTRELINHAS
Não quero dizer nada
quando escrevo.
Quero apenas,
despertar as entrelinhas
adormecidas em cada peito.
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FOLHAS CAÍDAS
Os saltos do sapato
soluçam nas calçadas.
Ah, pedrinhas de paralelepípedos
que não saem da memória!
Pelas avenidas estreitas
saio a procura de mim.
Alvoroço de meninos
nos quintais e nas esquinas.
Hoje, só o vento varre em silêncio
as folhas caídas da minha infância.
Meus sonhos, meus brinquedos,
minhas risadas,
por certo estão trancadas,
empoeiradas, em algum
sótão escuro do passado.
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GOLE D’ ÁGUA
A ira
o fogo
a mágoa.
O melhor a fazer
é tomar um gole
d'água.
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GOMA AMARGA
Senti o barulho da fantasia
a se quebrar dentro de mim.
Não ouvi o sino,
chorei menino
o vazio estava ali
em mim.
Passou o tempo,
chegou a idade
a realidade,
amarga goma de mascar.
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GRANIZO
O branco pipocava nas calçadas.
Em sangue,
o morro escorria
pelos rios e pelas ruas da cidade.
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INFÂNCIA
Infância
sonhos, risos,
lágrimas.
Imagens confusas
no pensamento.
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LARGADO
Joguei meu cansaço
no tapete da sala,
e meus sapatos
num canto qualquer.
Chorei tua ausência,
por mim já sabida,
mas não compreendida,
e dormi criança abandonada
pois me descobri em casa
de volta com a solidão.
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O HOJE
O hoje
é sempre velho demais
para quem tem
saudade do futuro.
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PAPAGAIO
Papagaio
que não papa galho
galho que papou
meu papagaio.
Pobre papagaio
que só tem rabo
e não tem papo.
Por isso não
papa ninguém.
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PARTITURA MUSICAL
Retas linhas
com bolinhas
melodia que soa bem
não seriam
andorinhas,
nos fios, vendo passar
o trem?
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PEDAÇOS DE ESTRELA
Abri o armário da noite
uma tigela branca
copos de cristal
derrubei a prateleira
lua e estrelas em pedaços
na poça de caldo
de pêssego no chão.
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PRIMEIRO DE ANO
Entre risos, vivas e abraços,
explode em cores os fogos pelo céu.
As cascatas de artifícios implodem
o ano velho com seus fantasmas,
deixando livre o espaço
pra esperança florescer.
Além da janela, a felicidade
brinda nos lábios sorridentes.
Dentro de mim,
a mesma lágrima lacrada.
O mesmo fel amargando a alma triste.
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SEDUÇÃO
Uma palavra, à noite, voava
como um pernilongo,
sem me deixar dormir.
Era o começo de um poema,
que não queria sair.
Fonte:
Daniel Maurício. Cacos e retalhos. SP: Scortecci, 2013.
Enviado pelo poeta.
Daniel Maurício. Cacos e retalhos. SP: Scortecci, 2013.
Enviado pelo poeta.
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