quinta-feira, 29 de junho de 2023

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) XXVII

A costureira aos farrapos,
velhinha, agulha na mão,
sempre costurava os trapos,
da roupa da solidão!
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Almas gêmeas!... nossas almas,
feitas de luzes pagãs,
despertam batendo palmas
para as luzes das manhãs!
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A paz de mãe, era tanta,
no altar cercada de luz,
que até lembrava uma santa
de joelhos aos pés da Cruz!
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Aquele teu guardanapo,
com marcas de um beijo teu,
que pena que virou trapo,
aos trapos de um beijo meu!
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A tarde com seus dilemas
pendura nos seus varais,
cordéis com lindos poemas
em seus acenos finais!
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Contando as horas antigas,
por que tu me desconfortas?
pondo essas horas amigas
no entulho das horas mortas!
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Desde a passada primeira,
aos passos de um bom velhinho,
ninguém passa a vida inteira
sem pedras no seu caminho!
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Deus te abençoe, disse o cego,
pela esmola recebida!
E aquela bênção, não nego,
encheu de luz minha vida!
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Essas vozes reprimidas
das insones madrugadas,
são plangências das batidas
dos ritos das alvoradas.
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Eu faço o que for preciso,
em tudo que Deus permite,
para fazer teu sorriso
ser feliz sem ter limite!
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Não reclames das pedradas
que te dão pelos caminhos...
Vê, que às vezes, de mãos dadas,
há aqueles que vão sozinhos!
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Naquele rancho de palha,
onde estamos sempre a sós...
O amor chega e se agasalha,
se faz escravo entre nós!
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No morro, de heróis e bravos,
quantos gritos pelos ares,
lembram os gritos escravos
do Quilombo dos Palmares!
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O pai, ao filho abraçado,
passos tropos, voz cansada;
era o outono, lado a lado,
com a primavera na estrada!
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Ouço em silêncio e assustado,
de repente um forte grito;
era o grito do passado
na voz do próprio infinito!
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Penso que tu, não descansas,
nem cochilas, velho mar;
pois sinto em tuas andanças,
que estás sempre a resmungar!
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Por ciúme ou por destemor,
quanto mais linda e mais bela,
a planta protege a flor
pondo espinho ao lado dela!
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Por que tanto dissabor?
crer em mim, tu tens que crer;
se fiz bem, fiz por amor
se fiz mal, foi sem querer!
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Por sermos irmãos em sonhos
e termos almas irmãs,
não há caminhos tristonhos
para os sonhos das manhãs!
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Saudade - doce lembrança
de um velho amor que foi meu;
tão doce, quando criança,
que a vida nunca esqueceu!
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Saudades dos sonhos vãos;
lembranças tortas e tronchas,
das conchas de tuas mãos,
nas minhas, fazendo conchas!
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Senhor, eu te rogo em prece
de joelhos e tão sozinho,
que eu não caia e nem tropece
nas pedras do teu caminho!
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Sentindo da noite os dedos,
nos braços dos sonhos vãos,
eu vou contando os seus medos
nos dedos de minhas mãos!
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Se o destino que me guia,
aceitasse o que eu pedisse,
punha mais luz e alegria
no entardecer da velhice!...
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Sinto na dor desses laços
dessas folhas pelo chão,
a dor de tantos abraços
de outras vidas que se vão!
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Tu me mentiste, é verdade;
se eu te mentir, me perdoas?
Vou sempre sentir saudade
de tuas mentiras boas!
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Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Enviado pelo trovador.

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