Caio Riter nasceu em Porto Alegre. Escritor, doutor em Literatura Brasileira e pós-doutorando em Escrita Criativa, publicou mais de 60 livros, dentre eles infantis, juvenis, contos e poesias. Recebeu diversos prêmios, incluindo os prêmios Açorianos, 1º Barco a Vapor, Ages – Livro do ano, Orígenes Lessa, Ofélia Fontes, além do Selo Altamente Recomendável da FNLIJ. Teve seus livros inclusos nos Catálogos de Bolonha e White Ravens. Vários de seus livros foram selecionados para programas governamentais, como o PNBE e o Kit Escolar BH. Além de escritor, é professor e ministra oficinas, cursos e palestras sobre criação literária por todo Brasil.
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Publicar um livro é um sonho de muita gente, o que faz com que amantes da leitura e da escrita por vezes caiam em grandes armadilhas. Para discutir este complexo mercado editorial, ainda mais em tempos de livros digitais, iniciamos hoje uma série de entrevistas com escritores de diferentes trajetórias sobre carreira, publicação e o futuro do livro. A primeira entrevista é com Caio Riter, professor, escritor premiado, com diversos livros recomendados pelo PNBE e presidente da Associação Gaúcha de Escritores.
Entrevista realizada por Marcelo Spalding
Como e quando surgiu a vontade de ser escritor? Você já iniciou publicando em livros?
Olha, quando puxo pela memória, não encontro um marco da minha decisão de ser escritor. Acho que a vontade foi se instalando aos poucos, veio devagarzinho e acabou se apossando graças ao tanto de livros que foram fazendo parte da minha vida como leitor. Aí, um rascunho aqui, outra ameaça de texto ali, fui começando a acreditar que poderia ser escritor, que poderia ser lido também. Então, fiz oficina literária com o Assis Brasil na PUC. Porém, minha primeira publicação individual, ocorreu apenas em 1994, com o livro infantil, hoje esgotado, "Um Palito Diferente".
Você tem livros publicados por importantes editoras, mas iniciou publicando por conta própria. Quais as principais vantagens de estar vinculado a uma editora tradicional?
Na verdade, meus dois primeiros livros, "Um Palito Diferente" e "A menina que virou bruxa" não foram edições por conta própria. Foram publicados pela Editora Interpretavida, que estava iniciando seu plano de edições. A editora, infelizmente, durou pouco, publicando um catálogo bastante pequeno. Após isso, é que acabei me vinculando ao projeto de edição da WSEditor. Em 2005, parei de editar por conta própria, publicando livros com a Artes e Ofícios e com a Paulinas. Hoje publico por mais de dez editoras. Creio que publicar por uma editora comercial, cujo processo de edição envolve várias pessoas, depende de muitos aceites, acaba por dar ao texto maior credibilidade junto ao público e junto à crítica, embora o meu primeiro livro premiado, "A cor das coisas findas", ter sido publicado, inicialmente, por conta própria. Além disso estando no catálogo de um editora tradicional sempre é maior possibilidade de distribuição, e isso acaba fazendo com que o livro possa cumprir, de forma mais intensa, sua função primeira: ser lido pelo maior número de pessoas possível.
Vamos falar um pouco sobre as editoras tradicionais. Como você chegou à primeira publicação? Foi enviando originais às editoras ou foi pelo Barco a Vapor?
Meu primeiro texto publicado por editora tradicional foi através do envio de um original para a Paulinas (na verdade, enviei três e um foi aceito: "O fusquinha cor-de-rosa"). O segundo produzi por convite da Editora Artes e Ofícios. Porém, após vencer o Barco a Vapor, as coisas começaram a acontecer de forma mais tranquila. Várias editoras do centro do país e algumas do RS me procuraram interessadas em originais. Outras encomendaram textos que se adequassem a seus catálogos.
A partir de que momento você percebeu que sua carreira deslanchou? Foi a partir de algum prêmio importante?
O Prêmio Barco a Vapor foi fundamental em minha carreira. Fui o primeiro brasileiro a ganhá-lo e, quando isso ocorreu, editores do centro do país estranharam que eu já publicasse há dez anos, sem ser conhecido fora do RS.
Nas editoras tradicionais, como se dá o pagamento de cachê para a realização de palestras e oficinas em escolas?
Normalmente, o cachê está ligado ao número de livros vendidos, oscilando. Todavia, normalmente fixo um valor mínimo, a fim de não fragilizar o mercado, visto que entendo que visitar escolas e feiras não seja uma função do escritor. Escritor escreve, as demais atividades para as quais é convidado devem, portanto, ser remuneradas. Para fixar meu cachê, normalmente levo em conta o número de atividades, sua natureza, a distância do local do evento, o público.
Quanto as editoras têm oferecido de direito autoral para o escritor de livro infantil?
Meus contratos, em sua maioria, são de 10% de Direitos Autorais.
Para um autor reconhecido como você, vale mais a pena ser exclusivo de uma editora ou ter livros em diferentes editoras? Por quê?
Não curto exclusividade, embora já tenha recebido convite para tal. Creio que a não-exclusividade torna o autor mais livre para apostar em novos projetos, em novos públicos.
Você percebe alguma diferença importante entre publicar por grandes editoras nacionais ou com editoras regionais? Quais as vantagens e desvantagens das editoras nacionais?
Não há diferenças substanciais, pois as editoras gaúchas com as quais trabalho têm boa distribuição nacional. Hoje, o mais importante para o autor é mesmo a capacidade distributiva que as editoras têm, pois é a garantia de que seus textos estarão circulando e também disputando as compras governamentais em nível municipal, estadual e federal.
O que o autor deve cuidar no contrato da editora?
São tantos os detalhes. Eu sempre procuro garantir os 10% de DA, julgando que, caso algum ilustrador deseje DA, este deva ser negociado por ele com a editora e não comigo. Procuro que o contrato não seja por tempo muito longo, a fim de que, caso haja algum problema com a editora, o texto não fique atrelado por muito tempo a ela. Gosto também de olhar com certo cuidado os artigos que versem sobre tradução.
O que você responde para aqueles tantos que perguntam se dá para virar de literatura? E, acrescento eu, você acha que a publicação de livros impressos contribui com sua carreira profissional de professor?
Olha, se o escritor encarar a escrita como profissão, creio que viver de literatura é possível, sim. Para alguns, é mais fácil; para outros, mais difícil, tudo depende da forma como a carreira será conduzida. Depende dos prêmios ganhos, das vendas para governo que seus livros conquistaram. Quanto à tua segunda pergunta, sou daqueles que amam o livro impresso e que creem que eles terão vida longa. Sua existência é de suma importância para minha atividade como professor, afinal é o livro impresso que promete histórias ou poemas ao ser aberto em sala de aula. Há, ainda, certo encantamento com o abrir das páginas, e isso é fundamental na construção do ser leitor: a magia do abrir as páginas. Pode ser uma visão ingênua para muitos, mas para mim, como disse antes, é acreditar na magia, na sintonia que há entre o olhar que traduz as palavras e a mão que acaricia as páginas, que faz anotações. Adoro ler livros comentados pelos leitores anteriores a mim: eles narram histórias de leitura, caminhos, descobertas, que por vezes iluminam a minha, por vezes, contradizem minhas chaves de compreensão. E isso é rico demais. Sobretudo para quem pretende formar leitores.
Como e quando surgiu a vontade de ser escritor? Você já iniciou publicando em livros?
Olha, quando puxo pela memória, não encontro um marco da minha decisão de ser escritor. Acho que a vontade foi se instalando aos poucos, veio devagarzinho e acabou se apossando graças ao tanto de livros que foram fazendo parte da minha vida como leitor. Aí, um rascunho aqui, outra ameaça de texto ali, fui começando a acreditar que poderia ser escritor, que poderia ser lido também. Então, fiz oficina literária com o Assis Brasil na PUC. Porém, minha primeira publicação individual, ocorreu apenas em 1994, com o livro infantil, hoje esgotado, "Um Palito Diferente".
Você tem livros publicados por importantes editoras, mas iniciou publicando por conta própria. Quais as principais vantagens de estar vinculado a uma editora tradicional?
Na verdade, meus dois primeiros livros, "Um Palito Diferente" e "A menina que virou bruxa" não foram edições por conta própria. Foram publicados pela Editora Interpretavida, que estava iniciando seu plano de edições. A editora, infelizmente, durou pouco, publicando um catálogo bastante pequeno. Após isso, é que acabei me vinculando ao projeto de edição da WSEditor. Em 2005, parei de editar por conta própria, publicando livros com a Artes e Ofícios e com a Paulinas. Hoje publico por mais de dez editoras. Creio que publicar por uma editora comercial, cujo processo de edição envolve várias pessoas, depende de muitos aceites, acaba por dar ao texto maior credibilidade junto ao público e junto à crítica, embora o meu primeiro livro premiado, "A cor das coisas findas", ter sido publicado, inicialmente, por conta própria. Além disso estando no catálogo de um editora tradicional sempre é maior possibilidade de distribuição, e isso acaba fazendo com que o livro possa cumprir, de forma mais intensa, sua função primeira: ser lido pelo maior número de pessoas possível.
Vamos falar um pouco sobre as editoras tradicionais. Como você chegou à primeira publicação? Foi enviando originais às editoras ou foi pelo Barco a Vapor?
Meu primeiro texto publicado por editora tradicional foi através do envio de um original para a Paulinas (na verdade, enviei três e um foi aceito: "O fusquinha cor-de-rosa"). O segundo produzi por convite da Editora Artes e Ofícios. Porém, após vencer o Barco a Vapor, as coisas começaram a acontecer de forma mais tranquila. Várias editoras do centro do país e algumas do RS me procuraram interessadas em originais. Outras encomendaram textos que se adequassem a seus catálogos.
A partir de que momento você percebeu que sua carreira deslanchou? Foi a partir de algum prêmio importante?
O Prêmio Barco a Vapor foi fundamental em minha carreira. Fui o primeiro brasileiro a ganhá-lo e, quando isso ocorreu, editores do centro do país estranharam que eu já publicasse há dez anos, sem ser conhecido fora do RS.
Nas editoras tradicionais, como se dá o pagamento de cachê para a realização de palestras e oficinas em escolas?
Normalmente, o cachê está ligado ao número de livros vendidos, oscilando. Todavia, normalmente fixo um valor mínimo, a fim de não fragilizar o mercado, visto que entendo que visitar escolas e feiras não seja uma função do escritor. Escritor escreve, as demais atividades para as quais é convidado devem, portanto, ser remuneradas. Para fixar meu cachê, normalmente levo em conta o número de atividades, sua natureza, a distância do local do evento, o público.
Quanto as editoras têm oferecido de direito autoral para o escritor de livro infantil?
Meus contratos, em sua maioria, são de 10% de Direitos Autorais.
Para um autor reconhecido como você, vale mais a pena ser exclusivo de uma editora ou ter livros em diferentes editoras? Por quê?
Não curto exclusividade, embora já tenha recebido convite para tal. Creio que a não-exclusividade torna o autor mais livre para apostar em novos projetos, em novos públicos.
Você percebe alguma diferença importante entre publicar por grandes editoras nacionais ou com editoras regionais? Quais as vantagens e desvantagens das editoras nacionais?
Não há diferenças substanciais, pois as editoras gaúchas com as quais trabalho têm boa distribuição nacional. Hoje, o mais importante para o autor é mesmo a capacidade distributiva que as editoras têm, pois é a garantia de que seus textos estarão circulando e também disputando as compras governamentais em nível municipal, estadual e federal.
O que o autor deve cuidar no contrato da editora?
São tantos os detalhes. Eu sempre procuro garantir os 10% de DA, julgando que, caso algum ilustrador deseje DA, este deva ser negociado por ele com a editora e não comigo. Procuro que o contrato não seja por tempo muito longo, a fim de que, caso haja algum problema com a editora, o texto não fique atrelado por muito tempo a ela. Gosto também de olhar com certo cuidado os artigos que versem sobre tradução.
O que você responde para aqueles tantos que perguntam se dá para virar de literatura? E, acrescento eu, você acha que a publicação de livros impressos contribui com sua carreira profissional de professor?
Olha, se o escritor encarar a escrita como profissão, creio que viver de literatura é possível, sim. Para alguns, é mais fácil; para outros, mais difícil, tudo depende da forma como a carreira será conduzida. Depende dos prêmios ganhos, das vendas para governo que seus livros conquistaram. Quanto à tua segunda pergunta, sou daqueles que amam o livro impresso e que creem que eles terão vida longa. Sua existência é de suma importância para minha atividade como professor, afinal é o livro impresso que promete histórias ou poemas ao ser aberto em sala de aula. Há, ainda, certo encantamento com o abrir das páginas, e isso é fundamental na construção do ser leitor: a magia do abrir as páginas. Pode ser uma visão ingênua para muitos, mas para mim, como disse antes, é acreditar na magia, na sintonia que há entre o olhar que traduz as palavras e a mão que acaricia as páginas, que faz anotações. Adoro ler livros comentados pelos leitores anteriores a mim: eles narram histórias de leitura, caminhos, descobertas, que por vezes iluminam a minha, por vezes, contradizem minhas chaves de compreensão. E isso é rico demais. Sobretudo para quem pretende formar leitores.
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