quarta-feira, 21 de junho de 2023

A. A. de Assis (Geraldo amava Teresa)

Geraldo Henrique amava de paixão Teresa Helena. Teresa Helena amava de paixão Geraldo Henrique. Havia entre os dois, porém, um porém que atrapalhava: Teresa era rica à beça, Geraldo era um bom moço, todavia modestinho.

Deu então que o pai de Teresa, a mãe de Teresa, os irmãos de Teresa, todos em coro insistiam que aquilo não poda dar certo; era um desatino. Mocinha dengada, acostumada a ter tudo do bom e do melhor, como se sentiria se de repente tivesse que mudar de vida?

Fez-se na casa dela uma reunião de família para discutir a questão em pauta. Ficou decidido que o pai de Teresa daria um jeito de, sem humilhar o despretensioso pretendente, convidá-lo para uma conversa amistosa. Na hora agendada, entrou o rapaz meio assustado, mas de cabeça erguida, no escritório do possível futuro sogro.

Homem prático, o pai de Teresa foi direto ao tema: “Sei que minha filha e você têm projetos sérios. Se essa é a vontade dela, respeito e acato. Gostaria apenas de saber até que ponto você se sente em condição de manter uma família etc. etc.”. Geraldo Henrique não perdeu a dignidade: “Conforto igual sua filha tem na sua casa estou longe de prometer, mas o senhor pode ter certeza de que ela será sempre tratada com o maior carinho”.

– Você tem um emprego?

– Tenho, sim senhor. Trabalho num escritório de contabilidade.

O pai de Teresa, hábil negociador, viu logo que a solução estava ali.

– Ótimo. Além de ganhar um genro, vou ganhar um bom companheiro de trabalho. Estou exatamente precisando de um contabilista de máxima confiança para assumir a chefia das minhas contas. Garanto que o salário será bastante atrativo. Aceita?

Geraldo Henrique não conseguia crer no que estava ouvindo. O pai de Teresa cutucou:     

– Aceita ou não aceita? Se aceita, volte aqui amanhã cedo com os seus documentos e minha secretária providenciará o que for necessário.

Foi tudo assim mesmo, a galope. Uma semana depois, o recatado candidato a genro estava ali convocando a primeira reunião com o pessoal da contabilidade para discutir a nova política da casa e demais detalhes.

O pai de Teresa não era bobo não. Em silêncio, já havia algum tempo vinha estudando o jeitão do mancebo. Tinha o principal para dar certo: honesto, leal, seguro de si. E mais: pelo que ficou sabendo mediante pesquisa, tratava-se de excelente profissional.

Três meses após, o primeiro grande resultado: com o novo sistema adotado na administração, Geraldo Henrique descobriu uma série de furos nas contas da empresa e pôs tudo a limpo, de modo que no final do ano o lucro foi superanimador. De pronto Geraldo foi promovido a sócio.

Teresa Helena, a moça dengada que antes estava pronta para se casar com um moço modestinho, acabou tendo um casamento chique, lua de mel num navio, e mora hoje numa casa grande, bonita, rodeada de jardins.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo, Maringá/PR, 16.3.2023)

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