sexta-feira, 23 de junho de 2023

Contos e Lendas do Paraná – 17 (Campo Largo - Congonhinhas - Corbélia - Ubiratã)


Município de Campo Largo
O mistério da lagoa grande

Existe em Campo Largo uma lagoa misteriosa, cujas águas desaparecem, por vezes, repentinamente. Tendo sido transformada em parque, permanece, ainda, envolta em lendas. Uma das lendas locais diz que ela foi criada através das crenças dos índios Tingüi, que eram os habitantes do local na época da colonização. Segundo esta lenda, Tupã, de visita à terra, derramou sobre um vulcão um cálice de água que extinguiu suas chamas. Mas a enorme serpente de duas cabeças, habitante das profundezas da terra, ficou soterrada, sendo que uma das suas cabeças se encontra na lagoa, outra em Curitiba, e sua cauda na praia de Leste.

Por outro lado, segundo o relato de Edácia do Nascimento Saldanha, o surgimento da lagoa tem outro mistério e outra história. Ela conta: “numa sexta-feira santa um padre entrou em um clube da cidade, onde se dançava um animado baile. Com a bíblia na mão exortou os presentes a respeitarem o dia. Não tendo sido ouvido, retirou-se do lugar indignado. No entanto, havia esquecido sua bíblia. Quando voltou para apanhá-la encontrou a lagoa, cujas águas haviam tragado o salão de baile com todos que estavam dentro”.
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Município de Congonhinhas
Ditinho de Deus

Ditinho de Deus era um pretinho alto, que chegou por aqui lá pelos anos 1950. Sofria de chaga na perna esquerda. Não se sabia em que Estado do Brasil ele nascera. Ficava durante o dia sentado na calçada de uma esquina de qualquer rua, à noite ia dormir debaixo da igreja, somente com um velho cobertor. Não pedia esmola, porém vivia da caridade pública e era muito molestado pelas crianças malvadas. Estas chegavam até a atirar pedras no Ditinho, que sempre rebatia dizendo: “Não façam assim, Deus não gosta”. Não xingava e não dizia palavrões.

Sentindo-se bastante fraco e, sofrendo graves dores na perna e sem nenhum tratamento, veio a falecer debaixo da igreja, sendo de lá transportado para uma casinha de propriedade do senhor João Nogueira da Silva, “vulgo João Carro”, onde se realizou o velório. O sepultamento foi no cemitério local, não se sabe ao certo se foi em 1952 ou 1953.

Ditinho de Deus faleceu sem receber os sacramentos, pois o padre estava em viagem visitando as capelas. As viagens naquele tempo eram feitas a cavalo. Mais tarde, por iniciativa do senhor José Lopes, homem devoto e de formação religiosa, foi construída uma capelinha em sua honra. Lá os fiéis iam rezar e cumprir seus votos. Depois, com o alargamento da rua para pavimentação, seus restos mortais foram transladados para a atual capelinha, muito visitada pelo povo.
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Município de Corbélia
Mistérios na comunidade São Roque

Segundo relato feito, no final dos anos 1970, na região da comunidade São Roque, costumavam acontecer coisas estranhas e até hoje os habitantes da região contam estas histórias.

À noite, por volta das dez horas, surgia em meio à plantação e até mesmo fora dela, o que parecia ser línguas de fogo que se chocavam no ar, rodopiando. Quando iam verificar o local onde estas imagens apareciam, nada havia sido queimado, ou pisoteado. As pessoas que ali viviam e vivem, dizem que se trata de um Boitatá. Dizem que se as pessoas passarem no local das aparições, principalmente à noite, se não quiserem ser atacadas por este Boitatá, elas deveriam prender uma faca entre os dentes, porque segundo a superstição, esse era um meio de proteção contra a aparição.

Nos dias atuais, esses relatos são mais vagos. Entretanto, existem muitas pessoas que lá vivem e que afirmam que existe algo de estranho no lugar. Uns dizem que é um espírito que necessita de orações, ou que provavelmente estes espíritos, ou espírito, querem mostrar algo que esteja enterrado na região.

Alguns trabalhadores da pedreira daquela localidade afirmam, ainda, que existe sim algo de estranho, pois eles já presenciaram alguns acontecimentos, como pedras que são atiradas nas barracas (eles utilizavam barracas de lona nos acampamentos na pedreira). Estas pedras entram nas barracas, sem, entretanto, perfurarem a lona.
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Município de Ubiratã
A lenda da curva da onça

Em 1954, a sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná Ltda. - SINOP, iniciou a colonização desta região. A equipe de engenharia e topografia passava por inúmeras dificuldades, abrindo picadas na mata para chegarem ao local preestabelecido, que denominaram Sauju, ou seja, o espigão mais alto do contraforte da serra do Piquiri, hoje Ubiratã.

Inúmeros obstáculos e dificuldades foram encontrados. Com a ajuda de mais de duzentos homens contratados, construíram acampamentos e um campo de pouso em plena mata virgem.

Foi nesse contexto que surgiu em Ubiratã uma localidade na zona rural, mais especificamente na estrada Caviúna, denominada São Cristóvão. Conhecida popularmente como Curva da Onça, ela era o elo para as cidades de Cascavel, Foz do Iguaçu e a Região sul do país.

O nome se deu, porque diziam existir uma onça naquele local, dado o fato de que este animal tentou apanhar um cachorro dos funcionários do acampamento da SINOP. Os trabalhadores que estavam no acampamento contam que na cabeceira de um córrego, o cachorro, aos latidos, foi arrastado pela suposta onça, mas depois de muito custo conseguiu fugir e voltar ao acampamento, onde recebeu os devidos cuidados.

Logo após o ocorrido foram conferir as pegadas, que realmente pareciam ser de onça. O acontecido foi comunicado ao escritório central da SINOP e técnicos foram até o local, pois os funcionários relutavam em continuar o trabalho de abertura da estrada, temendo novos ataques da onça misteriosa.

O fato é que a onça desapareceu, ninguém nunca mais a viu, mas a história ficou registrada na mente daquelas pessoas e foi contada de pai para filho, chegando até os nossos dias. Este local continua sendo chamado de Curva da Onça.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná.
Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 2005.

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