segunda-feira, 12 de junho de 2023

Contos e Lendas da África (Ga’So, o professor)

(por George W. Bateman)


Certa vez viveu um homem chamado Ga’so, que ensinava as crianças a ler, não em uma escola, mas debaixo de uma cabaceira. Uma noite, Ga’so estava sentado debaixo de sua árvore, preparando as aulas para o dia seguinte, quando Paa, a gazela, subiu silenciosamente no tronco dessa mesma árvore para apanhar alguns frutos. Ao fazer isso, sacudiu um dos galhos e derrubou uma cabaça madura, que acertou a cabeça do professor e o matou.

Na manhã seguinte, os alunos encontraram o professor morto no chão e foram tomados de tristeza. Após um respeitoso funeral, concordaram em encontrar o assassino e fazê-lo pagar com sua vida.

Depois de muito discutirem, chegaram à conclusão de que o culpado era o vento do sul.

Então capturaram o vento do sul e o espancaram.

— Parem! Eu sou Koosee, o vento do sul. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Koosee. Foi você quem derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Koosee se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria bloqueado por uma parede de barro?

Então foram até a parede de barro e a espancaram.

— Parem! Eu sou Keeyambaaza, a parede de barro! Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Keeyambaaza. É você quem bloqueia Koosee, o vento do sul. E Koosee derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Keeyambaaza se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria roída pelo rato?

Então capturaram o rato e o espancaram.

— Parem! Eu sou Paanya, o rato! Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Paanya. É você quem rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Paanya se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria comido pelo gato?

Então capturaram o gato e o espancaram.

— Parem! Eu sou Paaka, o gato! Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Paaka. É você quem come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Paaka se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria amarrado por uma corda?

Então apanharam a corda e a espancaram.

— Parem! Eu sou Kaam’ba, a corda. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Kaam’ba. É você quem amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Kaam’ba se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria cortada por uma faca?

Então apanharam a faca e a espancaram.

— Parem! Eu sou Keesoo, a faca. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Keesoo. Você corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Keesoo se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria queimada pelo fogo?

Então foram até o fogo e o espancaram.

— Parem! Eu sou Moto, o fogo. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Moto. Você queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Moto se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria apagado pela água?

Então foram até a água e a espancaram.

— Parem! Eu sou Maajee, a água. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Maajee. Você apaga Moto, o fogo, que queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Maajee se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria bebida pelo boi?

Então foram até o boi e o espancaram.

— Parem! Eu sou Ng’ombay, o boi. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

—Sabemos que você é Ng’ombay. Você bebe Maajee, a água, que apaga Moto, o fogo, que queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Ng’ombay se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria atormentado pela mosca?

Então capturaram a mosca e a espancaram.

— Parem! Eu sou Eenzee, a mosca. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Eenzee. Você atormenta Ng’ombay, o boi, que bebe Maajee, a água, que apaga Moto, o fogo, que queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Eenzee se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria comida pela gazela?

Então foram atrás da gazela, que foi capturada e espancada.

— Parem! Eu sou Paa, a gazela. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Paa. Você come Eenzee, a mosca, que atormenta Ng’ombay, o boi, que bebe Maajee, a água, que apaga Moto, o fogo, que queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

A gazela ficou paralisada ao perceber que havia sido descoberta e sofreria as consequências pela morte acidental do professor.

Os alunos continuaram suas acusações:

— Vejam só! Não é capaz de dizer uma palavra sequer para se defender. Foi ela mesma quem derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Vamos pegá-la!

E assim mataram Paa, a gazela, e vingaram a morte de seu professor.

Fonte:
Elphinstone Dayrell, George W. Bateman e Robert Hamill Nassau. Contos Folclóricos Africanos vol. 1. (trad. Gabriel Naldi). Edição Bilingue. SESC. Distribuição gratuita.

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