sábado, 3 de junho de 2023

Cecy Barbosa Campos (O retorno)

Sentiu, de repente, aquela necessidade de voltar às suas origens. Enquanto sacudido pelos buracos da estrada, olhava pela janela a paisagem que corria diante de seus olhos, revia o seu tempo de criança. Lembrava do menino esperto que brincava, pés descalços e camisa aberta ao peito, sentindo o vento que trazia um cheiro de mato revigorante. Respirou avidamente como se estivesse de volta àqueles dias.

Foi tomado por emoção indescritível. Tanto tempo longe e, agora, a sensação de nunca ter saído. Sua ansiedade beirava o medo. Como estariam a casa onde nascera, a escola, as pessoas com quem lidara no seu dia a dia? Seria reconhecido? Com o coração batendo descompassadamente, chegou à Rodoviária.

Antes de procurar o hotel, resolveu fazer o reconhecimento do lugar. A praça, a igreja, tudo estava igual. A escola continuava no mesmo local, apenas mais velha, desbotada. Depois, procurou a casa, a "sua" casa e não a encontrou. A princípio, pensou que se havia enganado, e que ela poderia estar mais à esquerda ou mais para a direita... Não, teve que reconhecer a verdade — a casa não existia mais. Com o coração apertado, examinou a construção moderna que existia em seu lugar.

Decepcionado, verificou que os rostos que passavam por ele também eram diferentes. "Não se pode voltar ao passado", refletiu. Decidiu-se a tomar o primeiro ônibus e retornar ao presente.

Cansado pelas emoções do dia, caminhou devagar para a rodoviária, levando consigo as recordações de uma vida que ficara para trás.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Enviado pela autora.

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