Após sentir aqueles versos genuínos, absorvidos em sua alma, misturados ao DNA de suas lágrimas inocentes, Isadora voltou-se para seu próprio interior... E permaneceu inerte por algum tempo.
Sabia que precisava mover-se, e num impulso, agitou-se, logo procurando no armário o vestido mais bonito: um vestido vermelho, com fundo estampado em flores brancas, o mesmo que seu pai havia repreendido por não considerar um vestido adequado a uma prenda distinta.
Pois foi o que escolheu e, frente ao espelho da penteadeira, prendeu o cabelo, pintou os lábios, pulou a janela do quarto e foi ao encontro de seu amor.
Ao vê-la, em pleno horário de serviço, o rapaz pareceu surpreso. Abriu um largo sorriso e correu ao seu encontro.
- Vieste mesmo... És uma prenda atrevida! Gostei. – disse o peão, tirando o chapéu em reverência à ousadia da moça.
- Vim, porque sou uma mulher de palavra e porque gostaria de te agradecer o poema.
- Gostou, prenda?
- Gostei muito!
No calor da emoção, abraçaram-se fortemente e tornaram-se apenas um. Apenas um, não, grandiosamente um único ser, e a alma de suas naturezas sorriu. Mas logo veio o lampejo de uma falsa realidade, e disse o peão: – Acho que não devemos nos abraçar assim. Lembro que me repreendeste dizendo que somos apenas amigos.
- Verdade! - disse Isadora.
- Que pena! – disse ele, segurando delicadamente as mãos dela.
- Pena, por quê? Isso já não é o bastante?
- Não. Amor amigo é amor de irmão. Não posso mentir: o que sinto por ti é paixão. Febre que me tira o norte.
- Eu sei, mas não podemos ser outra coisa. Por favor, aceite ser meu amigo.
- Céu, terra, ar, o amor da minha vida me chamou de amigo. Anjos, reúnam-se em conselho e deem a sentença do que devo fazer: fugir para outro planeta, cortar os pulsos ou arranjar outro amor, sem amor, só para enciuma-la e fazê-la entender que sou o amor da sua vida? Anjos celestiais, entrego a decisão do que devo fazer, em vossas mãos. Votações abertas! – disse, genuíno, bradando aos céus de chapéu na mão e braços abertos.
Isadora teve um acesso de riso, e ele se vingou pegando-a no colo e dando giros no meio do arrozal. Ela escapou, e feito crianças começaram a correr um do outro, até que, ao tropeçarem numa pedra, rolaram pelo chão. Os olhares se encontraram e o primeiro beijo aconteceu.
- Sua falsa... Diz ser apenas minha amiga, e me beija desse jeito.
- Tu me beijaste.
- Não mesmo. Foste tu. Linda, amiga.
- Nos beijamos... - disse a prenda, emocionada e com o cabelo desfeito. E logo trocaram o segundo beijo.
O vento se fazia quente e pássaros pousavam sobre seus corpos, como costumam pousar em galhos de árvores para cantar as belezas da vida. Borboletas coloridas repousaram em seus ombros e águias sobrevoaram ligeiras suas cabeças, e o perfume da existência se fez presente, exalando bênçãos sagradas.
Ao se entregarem, eles sentiram a alma guardiã do amor presente, e por alguns instantes o resto do mundo deixou de existir, porque naquele momento mágico, eles eram o mundo: o mundo da perfeição. Então, sentados um frente ao outro, ficaram em silêncio, a se contemplar...
- Agora preciso fazer-te uma pergunta séria, Isadora – por que só podemos ser amigos? É porque sou negro e não passo de um simples peão? Já entendi. Sua família nunca permitiria – falou o rapaz, quebrando o silêncio.
- O problema é muito mais sério do que isso, mas não posso contar. Por favor, não estrague este momento tão lindo.
- Então, como vamos ficar? Nos encontrando às escondidas? Preciso pelo menos entender o motivo. Estou disposto a enfrentar qualquer coisa por ti, por favor confia em mim.
- Tens razão. Não pode haver segredos entre nós. Vou contar, mas não hoje. Beija-me outra vez, querido, amigo...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
continua…
Sabia que precisava mover-se, e num impulso, agitou-se, logo procurando no armário o vestido mais bonito: um vestido vermelho, com fundo estampado em flores brancas, o mesmo que seu pai havia repreendido por não considerar um vestido adequado a uma prenda distinta.
Pois foi o que escolheu e, frente ao espelho da penteadeira, prendeu o cabelo, pintou os lábios, pulou a janela do quarto e foi ao encontro de seu amor.
Ao vê-la, em pleno horário de serviço, o rapaz pareceu surpreso. Abriu um largo sorriso e correu ao seu encontro.
- Vieste mesmo... És uma prenda atrevida! Gostei. – disse o peão, tirando o chapéu em reverência à ousadia da moça.
- Vim, porque sou uma mulher de palavra e porque gostaria de te agradecer o poema.
- Gostou, prenda?
- Gostei muito!
No calor da emoção, abraçaram-se fortemente e tornaram-se apenas um. Apenas um, não, grandiosamente um único ser, e a alma de suas naturezas sorriu. Mas logo veio o lampejo de uma falsa realidade, e disse o peão: – Acho que não devemos nos abraçar assim. Lembro que me repreendeste dizendo que somos apenas amigos.
- Verdade! - disse Isadora.
- Que pena! – disse ele, segurando delicadamente as mãos dela.
- Pena, por quê? Isso já não é o bastante?
- Não. Amor amigo é amor de irmão. Não posso mentir: o que sinto por ti é paixão. Febre que me tira o norte.
- Eu sei, mas não podemos ser outra coisa. Por favor, aceite ser meu amigo.
- Céu, terra, ar, o amor da minha vida me chamou de amigo. Anjos, reúnam-se em conselho e deem a sentença do que devo fazer: fugir para outro planeta, cortar os pulsos ou arranjar outro amor, sem amor, só para enciuma-la e fazê-la entender que sou o amor da sua vida? Anjos celestiais, entrego a decisão do que devo fazer, em vossas mãos. Votações abertas! – disse, genuíno, bradando aos céus de chapéu na mão e braços abertos.
Isadora teve um acesso de riso, e ele se vingou pegando-a no colo e dando giros no meio do arrozal. Ela escapou, e feito crianças começaram a correr um do outro, até que, ao tropeçarem numa pedra, rolaram pelo chão. Os olhares se encontraram e o primeiro beijo aconteceu.
- Sua falsa... Diz ser apenas minha amiga, e me beija desse jeito.
- Tu me beijaste.
- Não mesmo. Foste tu. Linda, amiga.
- Nos beijamos... - disse a prenda, emocionada e com o cabelo desfeito. E logo trocaram o segundo beijo.
O vento se fazia quente e pássaros pousavam sobre seus corpos, como costumam pousar em galhos de árvores para cantar as belezas da vida. Borboletas coloridas repousaram em seus ombros e águias sobrevoaram ligeiras suas cabeças, e o perfume da existência se fez presente, exalando bênçãos sagradas.
Ao se entregarem, eles sentiram a alma guardiã do amor presente, e por alguns instantes o resto do mundo deixou de existir, porque naquele momento mágico, eles eram o mundo: o mundo da perfeição. Então, sentados um frente ao outro, ficaram em silêncio, a se contemplar...
- Agora preciso fazer-te uma pergunta séria, Isadora – por que só podemos ser amigos? É porque sou negro e não passo de um simples peão? Já entendi. Sua família nunca permitiria – falou o rapaz, quebrando o silêncio.
- O problema é muito mais sério do que isso, mas não posso contar. Por favor, não estrague este momento tão lindo.
- Então, como vamos ficar? Nos encontrando às escondidas? Preciso pelo menos entender o motivo. Estou disposto a enfrentar qualquer coisa por ti, por favor confia em mim.
- Tens razão. Não pode haver segredos entre nós. Vou contar, mas não hoje. Beija-me outra vez, querido, amigo...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
continua…
Fonte: Texto enviado pela autora
Nenhum comentário:
Postar um comentário