terça-feira, 12 de setembro de 2023

Monsenhor Orivaldo Robles (A bolsa ou a vida)

Era um senhor idoso podre de rico, mas muquirana de não pagar cafezinho para a própria mãe. Trabalhara duro na roça até comprar uma propriedade. Daí para frente, a coisa deslanchou. Conseguiu acumular fortuna considerável. Filhas casadas há tempo, vivia agora com sua velha num confortável casarão de fazenda, cercado de todos os confortos da vida urbana.

Depois dos tantos anos de luta, começou a acusar os sintomas da idade. Com receio de ver reduzido o vultoso patrimônio, recusava-se a consultar um médico. Pouco valia a insistência da mulher e das filhas. Ele se esforçava para disfarçar qualquer sinal de dor. Se aparecia algum desconforto maior, recorria a remédios caseiros. Até que, não suportando mais os reclamos do velho corpo, foi obrigado, um dia, a pedir arrego. Acabou no consultório.

O médico lê a ficha preenchida pela secretária e pergunta: – “Então, seu Giácomo, o que é que o senhor tem”? – “Doutor, eu tenho”…, fez uma pausa; temia uma conta salgada, mas tinha também seu orgulho, tenho uma fazendinha de gado (mil e duzentos bois), de soja (dois mil hectares), tratores, colheitadeiras, uns apartamentos na cidade”… – “Acho que eu não me expliquei direito. Quero saber o que o senhor sente”. – “Ah, doutor, o que eu sinto é deixar tudo para os meus genros, três vagabundos, que não veem a hora de eu fechar os olhos para por a mão no que eu construí com uma vida inteira de sacrifício”.

Claro que é só uma anedota, mas poderia ter acontecido. Não é tão raro que genros lancem olhares gulosos para a fortuna dos sogros. Muita gente deve ter ouvido contar sobre o diálogo entre amigos: – E o velho seu sogro como vai”? “Ih, rapaz, aquilo é uma aroeira: está com uma saúde irritante”. Muitos adoram seus sogros, é verdade. Talvez em até maior número, porém, há os que não os suportam. Na maioria dos casos, a desavença passa longe do fator financeiro. Mas existem situações em que o peso do dinheiro figura no centro da questão.

Não se pode negar que a riqueza material define, às vezes de forma decisiva, a constituição de uma família. Quem já não ouviu afirmação do tipo: “Você viu que sujeito mais burro? Namorava a filha de um milionário e, sem mais nem menos, terminou com ela”. A mensagem é evidente: se a outra parte era rica, só um grande idiota deixaria escapar a chance de se ajeitar na vida. Apesar de tantos casais, por aí, infelizes por causa do dinheiro, ainda existe quem coloque a riqueza como exigência primeira de um casamento. Muitos parecem seguir à risca o jocoso ensinamento de que “ter pai pobre é destino; ter sogro pobre é burrice”.

Ninguém está defendendo o ingênuo romantismo de um amor e uma cabana. União nenhuma resiste à falta de uma razoável garantia material. Mas seria loucura dar como suficiente a segurança financeira. Muitos lares se esfarelam por carência de alicerces mais sólidos, que muita gente não entende necessários. Revela despreparo quem se satisfaz somente com beleza de corpo e bom cadastro bancário.

Que futuro haverá para jovens portadores de defeitos graves – falta de fé, de estudo, de trabalho, irresponsáveis, mentirosos, aproveitadores – ainda que belos e ricos? Será que, desde a infância dos pupilos, os pais estão atentos a isso? Se não corrigem os filhos pequenos, mais tarde poderá ser tarde demais.

Fonte:
Portal do Rigon
https://angelorigon.com.br/2012/03/17/a-bolsa-ou-a-vida/

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