DE - SEN - VELHECER
Desenvelheço toda vez que me retoco
E a maquiagem que me dou, não me desmente,
Ela é o presente de um passado que eu evoco,
Quando meu foco é viver mais intensamente.
Rejuvenesço quando pinto meus cabelos
Mas alguns pelos denunciam minha idade,
Minha saudade nunca cede aos meus apelos...
Sem atropelos, chega com suavidade.
É impressionante essa leveza cristalina
Que as retinas não contêm, quando algum pranto
Faz meu encanto mais feliz dobrar a esquina,
Mas me deixar algumas notas de acalanto.
Que bom cantar... toda canção tem o poder
De me fazer amar o tempo em que a poesia
Sempre se alia à energia de viver
E compreender o meu amor com alegria.
Minto e desminto minha dor mais escondida
E enquanto há vida num canto da solidão,
A pulsação do meu amor sempre revida,
Quando, atrevida, a dor convida-me à razão.
Desenvelheço ao zombar do meu espelho,
Quando um joelho me impede de levantar...
O meu olhar vê, nos meus olhos, o fedelho
Que eu sempre fui, vendo um espelho se quebrar.
Sorrir me leva ao que me enleva e me abençoa,
Minha alma voa, pois é preciso sonhar
E para amar é só criar um sonho à toa,
Pois é tão boa a sensação de não chorar.
Rejuvenesço, eu mereço este momento
De ver o vento expondo as pétalas no ar,
Pois toda vez que o vento cria outro rebento,
Eu polinizo um novo tempo em meu olhar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
LABAREDA
Teu amor se chega quando te incendeias,
Quando quem tu amas se virtualiza,
Quando a paixão permite que tu creias
Que há mais que um desejo em tua pele lisa.
O amor é lágrima que não desliza
No espasmo da dor das vísceras latentes,
Quando um riso tênue surge e nem avisa
Que há mais amor na dor que só tu sentes.
Teu amor é filho dessa solidão
Tão silenciosa que, sutil, te habita,
Que afaga a pele do teu coração
Quando a emoção sufoca a dor que grita.
Teu amor se chega como um invasor
De múltiplas faces, múltiplos desejos...
Quando ele se vai, já replantou a dor
Feita de prazer que existe em cada beijo.
O amor é teu riso, quando ele se solta,
Mexe em teus anseios e se alimenta
Dessa fantasia livre à tua volta...
O amor só volta... quando tu te ausentas.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
LÍRICOS ANSEIOS
Falo de amor... sou redundante... Incorrigível!
Parece incrível, mas até nas reticências,
Evoco a musa mais etérea ... ou mais tangível,
Dessas que surgem das mais líricas essências.
Quando me expresso ao falar de um sentimento,
Sou como o vento, toco as pétalas do amor
E cada verso que me dou, é o momento
Mais Inefável desse encontro com essa flor.
Por excelência, adjetivo essa ternura
Que dura o tempo da mais pura abstração,
Meu coração, liricamente só procura,
O amor que cura minha dor de solidão.
É assim que canto o maior amor que sinto,
Não minto a dor, é impossível disfarçar,
Mas meu olhar desvenda sempre o labirinto
Do sonho extinto que eu preciso ressonhar.
Lírico e lúdico, desenho, brinco, exprimo
Meus mais sensíveis sentimentos, quando escrevo...
Jamais me atrevo a ser o outro, quando rimo,
Meu verso é primo do amor, em alto relevo.
Seja quem for a minha musa... não nomeio
Meus devaneios... eles só têm um destino:
Abençoar, com meu mais lírico enleio,
O riso leve dos anseios... de um menino.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
QUANDO A NOSSA DOR FAZ POESIAS
O amor é o nosso ponto de partida
em tudo que façamos... a razão
não sabe controlar um coração,
quando nossa emoção comanda a vida.
Não penses que só tu tens incertezas,
mágoas, medos, raivas... melancolias,
pois quando a nossa dor faz poesias,
copia simplesmente das tristezas.
Nem sempre o que te dói é o que perfura,
há pobres sem saber o que é pobreza
e quem é infeliz por natureza,
nem sempre compreende a alma pura.
A água não desgasta a pedra dura...
apenas acomoda-a em seu leito,
assim é o coração: só dói no peito,
quando não tem mais jeito, a amargura.
Doutor nenhum conserta a criatura,
poeta, sim, engana até a dor,
e engana-se a si mesmo...ele é doutor
em conversar com a dor com mais ternura.
Quem diz que é grão-mestre em autoajuda,
mas não pratica nada do que ensina,
semeia um amor que não germina,
retira a proteína que o acuda.
A vida tem um tempo, o destino
não manda nos desígnios de Deus,
por isto, aprimora os gestos teus
e ensina-te com cada desatino.
Nós somos seres únicos, porém
somente somos dignos de nós,
quando passamos ter a mesma voz
daqueles que só querem nosso bem.
Fonte:
Luiz Poeta. Nuvens de versos. Campo Mourão/PR: Ed. Jfeldman, 2020.
Luiz Poeta. Nuvens de versos. Campo Mourão/PR: Ed. Jfeldman, 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário