A manhã era linda, enfeitada de sol, e um doce prenúncio de primavera pairava no ar, despertando em Ana Maria recordações que ela desejava esquecer...
Fora num dia assim, de límpido céu azul que, em um dos seus habituais passeios, ela se detivera, surpresa e encantada, diante de uma velha mansão do Morumbi, cujos muros exibiam flores de rara beleza.
Amando as plantas e as flores, Ana Maria possuía em sua casa, valiosa coleção de samambaias do Amazonas, vasos enormes de rendilhadas avencas e inúmeras plantas ornamentais.
Nos canteiros bem tratados dos jardins, floresciam tulipas e gerânios, rosas e goivos, lírios e gladíolos de todas as cores... Uma lindeza i
No entanto, com tantas maravilhas em sua casa, Ana Maria não esquecia as flores daquela mansão.
Procurou-as, por muitos lugares: nas floriculturas, em exposições... até que um dia o marido aconselhou:
- Desista desse capricho, querida! Há tanta flor enfeitando o nosso jardim...
Ela concordara. Chegou quase a esquece-las, mas a cada primavera sempre arranjava um jeitinho de passar em frente da mansão... Lá estavam elas, magníficas, a enlaçar o velho muro de pedras, cada vez mais vistosas, cada vez mais belas!
Foi quando uma ideia assaltou seu coração; por que não pediria à alguém da casa, uma mudazinha qualquer? Era só estacionar o carro ali mesmo e quem sabe o problema estaria resolvido...
Ela desceu do carro sentindo-se feliz. Pelo menos, tentaria mais uma vez!...
As janelas da mansão estavam todas fechadas; os pesados portões aferrolhados. Mesmo assim, ela tomou coragem e apertou a campainha. Durante longos minutos esperou, para ouvir, de repente, pelo interfone uma interpelação:
- Quem é?
- Desejaria falar com uma pessoa da casa. Seria possível?
A voz se tornou rude, quase severa...
- Há um carro defronte do portão. É seu?
- É, sim.
- Faça o favor de esperar. Atenderei em breve.
O interfone foi interrompido bruscamente e após alguns instantes, a portinhola do visor se abriu e alguém apareceu, perguntando:
- O que deseja, senhora?
- Eu poderia falar com a dona da casa, por favor?
- Não há ninguém em casa. A família está viajando... O seu nome?...
Meio encabulada, Ana Maria respondeu:
- Bem, na verdade não conheço os moradores daqui... Vim apenas para pedir um gentileza... um favor...
E ela falou bem depressa:
- Seria possível, eu obter uma mudazinha dessas lindas flores que tanto enfeitam os muros de pedra?!...
A resposta foi maravilhosa:
- Com todo prazer, senhora! Faça o favor de entrar.
Radiante, Ana Maria agradeceu e só então encarou o desconhecido.
Era um homem magro, de aparência humilde que disse:
- Vou logo atender o seu pedido, senhora... Não deseja que eu ponha seu carro na garagem? O lugar aqui é perigoso! Tem tido muitos assaltos... Dê-me as chaves, que eu faço o serviço...
Ela agradeceu encantada com a cortesia e ficou admirando o jardim.
Era belíssimo.
Quando o serviçal voltou, Ana Maria falou das flores que a haviam enfeitiçado há tanto tempo; mas ele não pareceu muito interessado nisso...
- Siga-me! disse, com firmeza. Vamos entrar na mansão.
- Eu não quero aborrecer ninguém. Posso esperar aqui fora...
Nesse instante arregalou uns olhos assustados. O homem estava com um revólver nas mãos!
- Não tente gritar!… avisou apontando a arma. A coisa é mais séria do que pensai E passe-me a bolsa, as joias e esse cordão de ouro!…
Aterrorizada, ela entregou tudo, até a aliança de brilhantes e a pulseira relógio que pertencera à sua bisavó!...
Trêmula, subiu a escada de mármore que a levava ao hall da mansão ouvindo o aviso que o brutamontes vociferou:
- ...E não fale uma palavra com ninguém, nem comente o que se passou aqui.
Empurrada para dentro de uma sala, Ana Maria encontrou duas senhoras guardadas por um homem mascarado. Uma delas, aflita perguntou patética:
- A senhora... também pertence ao bando?!... Será que irão nos matar?
Estremeci diante da afronta, mas não pude responder. Como explicar minha presença naquela casa e dizer que ali viera pedir uma simples muda de planta?
Fiquei paralisada, sem dizer uma única palavra... O pesadelo continuava...
Dois outros homens entraram na sala, vasculhando móveis... revistando gavetas, amontoando aparelhos eletrônicos...
Fomos levadas então para um quarto pequeno, com a recomendação que muito nos assustou:
- Se desejam viver, não chamem a polícia, nem gritem por socorro!... Não brincamos em serviço!
Enquanto as duas senhoras, abraçadas, resmungavam baixinho e me olhavam com evidente desconfiança, eu lastimava comigo mesmo, a pouca sorte que tivera... Chegar justamente na hora de um assalto, àquela mansão do Morumbi, perdendo minhas joias, levando um susto terrível e ficando sem carro!!!
Fora num dia assim, de límpido céu azul que, em um dos seus habituais passeios, ela se detivera, surpresa e encantada, diante de uma velha mansão do Morumbi, cujos muros exibiam flores de rara beleza.
Amando as plantas e as flores, Ana Maria possuía em sua casa, valiosa coleção de samambaias do Amazonas, vasos enormes de rendilhadas avencas e inúmeras plantas ornamentais.
Nos canteiros bem tratados dos jardins, floresciam tulipas e gerânios, rosas e goivos, lírios e gladíolos de todas as cores... Uma lindeza i
No entanto, com tantas maravilhas em sua casa, Ana Maria não esquecia as flores daquela mansão.
Procurou-as, por muitos lugares: nas floriculturas, em exposições... até que um dia o marido aconselhou:
- Desista desse capricho, querida! Há tanta flor enfeitando o nosso jardim...
Ela concordara. Chegou quase a esquece-las, mas a cada primavera sempre arranjava um jeitinho de passar em frente da mansão... Lá estavam elas, magníficas, a enlaçar o velho muro de pedras, cada vez mais vistosas, cada vez mais belas!
Foi quando uma ideia assaltou seu coração; por que não pediria à alguém da casa, uma mudazinha qualquer? Era só estacionar o carro ali mesmo e quem sabe o problema estaria resolvido...
Ela desceu do carro sentindo-se feliz. Pelo menos, tentaria mais uma vez!...
As janelas da mansão estavam todas fechadas; os pesados portões aferrolhados. Mesmo assim, ela tomou coragem e apertou a campainha. Durante longos minutos esperou, para ouvir, de repente, pelo interfone uma interpelação:
- Quem é?
- Desejaria falar com uma pessoa da casa. Seria possível?
A voz se tornou rude, quase severa...
- Há um carro defronte do portão. É seu?
- É, sim.
- Faça o favor de esperar. Atenderei em breve.
O interfone foi interrompido bruscamente e após alguns instantes, a portinhola do visor se abriu e alguém apareceu, perguntando:
- O que deseja, senhora?
- Eu poderia falar com a dona da casa, por favor?
- Não há ninguém em casa. A família está viajando... O seu nome?...
Meio encabulada, Ana Maria respondeu:
- Bem, na verdade não conheço os moradores daqui... Vim apenas para pedir um gentileza... um favor...
E ela falou bem depressa:
- Seria possível, eu obter uma mudazinha dessas lindas flores que tanto enfeitam os muros de pedra?!...
A resposta foi maravilhosa:
- Com todo prazer, senhora! Faça o favor de entrar.
Radiante, Ana Maria agradeceu e só então encarou o desconhecido.
Era um homem magro, de aparência humilde que disse:
- Vou logo atender o seu pedido, senhora... Não deseja que eu ponha seu carro na garagem? O lugar aqui é perigoso! Tem tido muitos assaltos... Dê-me as chaves, que eu faço o serviço...
Ela agradeceu encantada com a cortesia e ficou admirando o jardim.
Era belíssimo.
Quando o serviçal voltou, Ana Maria falou das flores que a haviam enfeitiçado há tanto tempo; mas ele não pareceu muito interessado nisso...
- Siga-me! disse, com firmeza. Vamos entrar na mansão.
- Eu não quero aborrecer ninguém. Posso esperar aqui fora...
Nesse instante arregalou uns olhos assustados. O homem estava com um revólver nas mãos!
- Não tente gritar!… avisou apontando a arma. A coisa é mais séria do que pensai E passe-me a bolsa, as joias e esse cordão de ouro!…
Aterrorizada, ela entregou tudo, até a aliança de brilhantes e a pulseira relógio que pertencera à sua bisavó!...
Trêmula, subiu a escada de mármore que a levava ao hall da mansão ouvindo o aviso que o brutamontes vociferou:
- ...E não fale uma palavra com ninguém, nem comente o que se passou aqui.
Empurrada para dentro de uma sala, Ana Maria encontrou duas senhoras guardadas por um homem mascarado. Uma delas, aflita perguntou patética:
- A senhora... também pertence ao bando?!... Será que irão nos matar?
Estremeci diante da afronta, mas não pude responder. Como explicar minha presença naquela casa e dizer que ali viera pedir uma simples muda de planta?
Fiquei paralisada, sem dizer uma única palavra... O pesadelo continuava...
Dois outros homens entraram na sala, vasculhando móveis... revistando gavetas, amontoando aparelhos eletrônicos...
Fomos levadas então para um quarto pequeno, com a recomendação que muito nos assustou:
- Se desejam viver, não chamem a polícia, nem gritem por socorro!... Não brincamos em serviço!
Enquanto as duas senhoras, abraçadas, resmungavam baixinho e me olhavam com evidente desconfiança, eu lastimava comigo mesmo, a pouca sorte que tivera... Chegar justamente na hora de um assalto, àquela mansão do Morumbi, perdendo minhas joias, levando um susto terrível e ficando sem carro!!!
Fonte: Cláudio de Cápua. Era uma vez… (coletânea de contos). Comptexto: outubro 1989.
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