Baitazar Danado Tribofe de Souza estava decidido. Diante do que vinha ocorrendo ultimamente, esta seria a única saída.
Baitazar beirava os 70 anos de idade, era jornalista e escritor, mas ultimamente nada ia bem. Muitas cobranças no jornal, gente com o nariz virado, outros com inveja, vinha provocando atritos por ninharias. Como escritor, parecia que a inspiração fugira dele como o diabo foge da cruz, e a musa... ah! A tal da musa, escafedeu-se nas brumas, e não foi de Avalon, não. Foi lá pros lados de Tocantins mesmo. A família abandonara-o, as filhas nem queriam papo com ele. Quando estava por cima, elas ficavam paparicando-o como abelha em volta do mel, agora que esta má fase vinha-o assolando, olhavam-no como se estivesse com uma moléstia contagiosa, e fugiam espavoridas. "Vade retro, Satanás".
Baitazar dizia que era só uma má fase, um azar momentâneo, mas parecia que era mesmo um baita azar danado. A vida perdera o sentido, seus olhos se perdiam nos milhares de livros que atolavam as estantes de sua casa, sem vontade alguma de ler algum. Oh, desânimo!
Decidira, após muita reflexão, que o melhor para si e para todos é que tirasse a própria vida.
Fim da tarde, encaminhou-se para a ponte mais próxima, resoluto. Subiu na murada da ponte, e olhou para o horizonte... somente via o vazio, o vazio de sua existência. Seria apenas mais um número na estatística de suicídios no país.
Alguns transeuntes estacaram ao ver a cena, e ficaram indecisos sobre qual atitude tomar. Até parentes e amigos (?) estavam próximos.
-"Não faz isso, meu chapa. A vida é tão boa. Deus fecha uma porta, mas abre uma janela. Sai daí!"
- "Pula mesmo, seu desgraçado. Nem a pensão você me paga mais. Vá lá, o Capiroto já tá te esperando."
- "Não, meu amigo. Fica firme. Não dê ouvidos a esta mulher desmiolada. Volte aqui para conversarmos". E o sujeito pensando com seus botões: "Volta mesmo, vou te encher de tanta bolacha, que nem com foto vão conseguir te reconstituir". E continuava cinicamente animando-o: - "A vida é bela. Vamos tomar uma loirinha estupidamente gelada".
Baitazar ficou no pula, não pula, uns o xingavam, outros o incentivavam a pular, e outros o animavam para continuar a vida adiante. Num canto, três mulheres discutiam entre si.
- "Tomara que ele pule, assim fico com o carro dele. Ah... a Maserati é minha!!!!
- "Tua uma ova! Eu também sou filha dele. Vamos dividir.
E a outra, mais burra que um jumento: - "Vamos dividir. Pegamos uma serra e vemos quem fica com o motor? Com os bancos? e..."
- "Tu tá chapada? Andou cheirando cola?"
Enquanto elas se estapeavam, uma garota de uns 15 anos, que nem estava aí para o que acontecia, ou nem se tocara, passa segurando uma pizza.
Ah, aquele cheiro de pizza quentinha saída do forno, o queijo derretendo, e Baitazar sentiu aquilo entrar em suas narinas de sopetão. Convenceu ela a lhe dar um pedaço, seria sua última refeição antes de dar término à sua vida.
- "Qual é, cara? Vai pular ou não? Pô. A novela começa daqui a pouco, e não posso perder o último capítulo." - uma mulher gritava, desesperada.
- "Pula! Pula!"
E enchia de gente, veio a polícia, os bombeiros, a televisão, só faltou a guarda nacional. O tumulto estava formado. Muitos achavam que ele estava dando discurso, e o apoiavam sem nem mesmo saber o que acontecia.
- "É isso mesmo! Você tem que protestar mesmo. Esta sem-vergonhice tem que acabar."
Tinha até um sujeito com uma viola que começou a cantar aquelas famosas dores de corno. Um vendedor ambulante vendia elixires milagrosos.
Enfim… a bagunça estava generalizada.
Baitazar chamou novamente a garota da pizza.
- "De onde é esta pizza? Menina, que delícia!."
- "Pula. Pula." "Discurso!!!" "Fica." "Vai." "Já ganhou!" "Engravidou a menina, tem que assumir!"
- "Quer saber? Que pizza! Deu uma fome danada. Eu vou é comer mais. Amanhã eu venho e pulo."
Desceu da amurada da ponte, e foi com a garota para a pizzaria. Deixou meio mundo com cara de tacho... outra vez.
Fonte:
Texto escrito por mim. Agora vou comer aquela pizza, com o Baitazar! Deu uma fome!!!
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