quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) – Capitulo 14 : Poema em laços de fita

 
Ao amanhecer, Isadora teve um despertar sereno. Logo avistou, sobre a penteadeira, o rolo preso em fitas. Era o poema de Genuíno. Descobriu o corpo, colocou os pés no chão e, lentamente, apanhou o papel. Desfez o nó do laço e, escorada à cabeceira da cama, começou a ler o que a ela fora escrito:

De peito aberto

“ De peito aberto, coração pulsante,
olhar atento, sorriso infante...
Aqui estou, a mirar o céu, pedindo ao vento que desenhe o rosto teu.
Mas o vento sente ciúmes de ti, e levou as nuvens embora nas asas de um colibri.

Reclamei ao tempo e tive tonturas, calafrios.
É a natureza rivalizando comigo,
mas por ti, meu amor, não temo o perigo.
E te visito na ilusão do meu pensar ...

Ah, pode o mundo não querer, o tempo reclamar,
mil demônios tentarem impedir, mas é contigo,
linda rosa, flor do jardim da minha alma
que hei de me casar.

Tu és a natureza, e eu sou teu cuidador.
Nada te faltará. Sou teu anjo protetor,
em todas as noites, em todos os dias,
em todas as estações te farei cantar...

Sei que pareço um tolo a dizer-te estas palavras
cheias de açúcar, mas fico bobo ao perceber,
que nasci para te fazer feliz.
Feliz como nunca foste antes de encontrar.

E ao Patrão velho, senhor da existência,
tiro o meu chapéu e me ponho a agradecer,
missão mais bela do que essa,
juro que nunca vi acontecer.
     
Nossas almas foram entrelaçadas enquanto
dançávamos a sorrir naquele baile bonito.
Se de um lado a vida quis assim,
esta mesma vida em seu reverso, há de se calar.
E não te deixarás longe de mim...
    
Vamos juntos construir nossa casa, plantar flores,
formar família. Conservar bons amigos,
ser exemplo de fé.

Vem comigo, prenda minha, mostrar para o mundo,
o que é felicidade!

Com carinho, teu Genuíno.

 Ao ler os últimos versos, Isadora dobrou o papel com cuidado, pois o poema já estava a desmanchar-se, molhado em sua chuva de lágrimas…
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continua...

Fonte:
Texto enviado pela autora

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