segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Renato Frata (Oportunidades)

Meu pai, de grata memória, embora às vezes, tivesse problemas com a bebida, era um homem que prezava como ninguém os preceitos de honestidade e decência. Seus oito filhos, se todos estivessem vivos, confirmariam esse caráter. Para não dizer que ela era duro até consigo que, tendo trabalhado por anos como vendedor-cobrador por esses rincões do Paraná desprovido de bancos e financeiras, carregava por um mês inteiro, até a prestação de contas no Estado de São Paulo, malas de dinheiro que recolhia das cobranças feitas para o patrão. E nunca teve que se explicar do porquê da falta de uma nota. Não, sua decência jamais permitiria ultrajar a conduta por um deslize, por pequeno fosse.

Uma vez, num jogo caseiro de canastras com apostas “leite de pato”, alguém da mesa surrupiou um coringa e ele, tendo visto, apenas olhou para a pessoa que, constrangida, a devolveu ao monte. Pois, não satisfeito, pediu licença, embaralhou novamente as cartas, colocou-as de volta à mesa e disse a que todos ouvissem: – “Vamos cuidar do que temos e de que poderemos ter, pois a ocasião, faz o ladrão.”

Muitos não entenderam o que quis dizer, mas aquele que havia agido matreiramente avermelhou as orelhas, encolheu-se e tossiu, sinal de que a lição servira. Eu, que sapeava, ri de orgulho.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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