Ainda que prestes a fazer um grande sacrifício, Isadora se mantém otimista. A tempestade, em seu peito, antes tão revolta, deu lugar a uma bonança com cheiro de terra molhada e alecrim.
Ela não sabia como, mas repentinamente passou a crer na possível intervenção de um milagre, capaz de colocar sua mãe de pé e assim, jamais casar-se contra a própria vontade.
Depois de conversar com Genuíno, de sentir seu toque e enamorar-se do seu sorriso, um portal de luz se abriu em seu caminho, e a voz da esperança decidiu sussurrar em seus sonhadores tímpanos: “Tudo dará certo”.
Com a mesa posta por dona Ana, todos acomodados e sem poder adiar a desagradável situação, Isadora sentou-se ao lado do pai. Os pais do noivo, senhor Pafúncio e dona Rebeca, não escondiam o entusiasmo de ver o filho encaminhado, ao lado de uma moça tão bela e prendada.
Senhor Antônio ajeitou a guaiaca* e, de pé, fez um breve pronunciamento:
- O coração desse “véio” campeiro, tá faceiro. Pois nesse momento, passo a mão da minha formosa “fia” a esse guri por quem tenho forte apreço. Fábio, Isadora é meu grande tesouro. Cuida bem dela.
- Será tratada e preservada como a joia rara que é. - disse o rapaz ao abrir uma garrafa de vinho, servir a taça de todos e levantar um brinde.
O coração da prenda disparou. A mão visivelmente trêmula fez com que um pouco da bebida derramasse sobre a tolha branca.
Seria esse um sinal de que a virgindade de sua essência estava prestes a ser maculada?
Isadora não se preocupava apenas com a virgindade do corpo, mas também com a virgindade da alma. Temia ser derrotada pela nova realidade, de mirar-se ao espelho e ver uma mulher triste, amarga, com os sonhos desfeitos em lágrimas.
Depois de aterrorizar-se com as próprias sombras, ela voltou a si e pensou: “Preciso acreditar na voz da esperança. Deus há de me libertar desse compromisso insano”.
Reagindo ao mal súbito, sorriu. E seu pai continuou: - Pena não ter tido tempo para um grande festejo. Mas o casório logo sai. E a festa será grande.
Dona Ana, ao sentir a dor da filha, prendeu uma lágrima no olhar, pois sabia que precisava manter -se calma.
- Com certeza. - disse o quase sogro de Isadora. – Será uma festa de arromba!
Os pais do noivo pareciam simpáticos, sobretudo a esposa, uma senhora elegante, de cabelo grisalho.
- Meu filho é um bom homem. Fará sua filha feliz. - disse.
Nesse fatídico momento, Fábio desembrulhou um delicado estojo, do qual retirou uma aliança cravejada de brilhantes e, com o pedido de licença, levou a joia à mão da mulher que ele escolheu para esposa.
O coração de Isadora voltou a acelerar, e tentou aceitar a ocasião como um pesadelo breve que logo daria lugar a belos sonhos.
- Viva os noivos! - bradou o velho Antônio, erguendo a taça transbordando de vinho.
Ao término do jantar, os pais de Isadora e do noivo continuaram a prosa na sala, e o rapaz convidou a noiva para um passeio.
- Podem ir, mas não demorem por ai. - disse Antônio.
Eles caminharam até o jardim onde Isadora há poucas horas vivera um dos melhores ou o melhor momento de sua vida, junto daquele que assemelhava-se à sua alma, e que de fato poderia fazê-la realizada.
- Estou muito feliz com o noivado. - disse Fábio.
- Desculpe... Mal nos conhecemos. Não sei bem o que dizer.
- Dá para perceber o teu desconforto. Mas logo isso passa.
Tentando quebrar o gelo, ele falou das fazendas e da quantidade numerosa de empregados que possuía junto ao seu pai. Falou também dos carros e das roupas caras, mostrando pertencer ao universo das coisas materiais, frias e perecíveis a qualquer ruído do tempo.
Em suas palavras não se ouvia nada que dissesse respeito ao amor, amizade, bondade. Isadora ouviu tudo com certo desdém. Ele percebeu o desgosto da moça, mas com o controle da situação em suas mãos, continuou a falar. Certo momento, pausou as palavras e fez menção de beijá-la.
- Não! - disse ela, enfaticamente.
- Por que, não? Agora temos um compromisso. Podemos nos beijar.
- Não estou pronta para isso.
- Que besteira! - exclamou ele a tomando pela cintura.
- Por favor. Não force!
- Está bem.
- Melhor voltarmos. Está tarde. Os lampiões das casas estão se apagando.
- Claro, minha noiva.
Ao entrar em casa, Isadora disse estar cansada, e despediu -se de todos.
De frente para a janela do seu quarto, respirou fundo, agradeceu a Deus por ter conseguido suportar aquela terrível provação sem ceder à tentação de sair correndo. E adormeceu pensando em Genuíno...
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Nota de rodapé
* A guaiaca é um acessório masculino parecido com um cinto, feito de tira de couro larga e fechamento em fivela.
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continua…
Ela não sabia como, mas repentinamente passou a crer na possível intervenção de um milagre, capaz de colocar sua mãe de pé e assim, jamais casar-se contra a própria vontade.
Depois de conversar com Genuíno, de sentir seu toque e enamorar-se do seu sorriso, um portal de luz se abriu em seu caminho, e a voz da esperança decidiu sussurrar em seus sonhadores tímpanos: “Tudo dará certo”.
Com a mesa posta por dona Ana, todos acomodados e sem poder adiar a desagradável situação, Isadora sentou-se ao lado do pai. Os pais do noivo, senhor Pafúncio e dona Rebeca, não escondiam o entusiasmo de ver o filho encaminhado, ao lado de uma moça tão bela e prendada.
Senhor Antônio ajeitou a guaiaca* e, de pé, fez um breve pronunciamento:
- O coração desse “véio” campeiro, tá faceiro. Pois nesse momento, passo a mão da minha formosa “fia” a esse guri por quem tenho forte apreço. Fábio, Isadora é meu grande tesouro. Cuida bem dela.
- Será tratada e preservada como a joia rara que é. - disse o rapaz ao abrir uma garrafa de vinho, servir a taça de todos e levantar um brinde.
O coração da prenda disparou. A mão visivelmente trêmula fez com que um pouco da bebida derramasse sobre a tolha branca.
Seria esse um sinal de que a virgindade de sua essência estava prestes a ser maculada?
Isadora não se preocupava apenas com a virgindade do corpo, mas também com a virgindade da alma. Temia ser derrotada pela nova realidade, de mirar-se ao espelho e ver uma mulher triste, amarga, com os sonhos desfeitos em lágrimas.
Depois de aterrorizar-se com as próprias sombras, ela voltou a si e pensou: “Preciso acreditar na voz da esperança. Deus há de me libertar desse compromisso insano”.
Reagindo ao mal súbito, sorriu. E seu pai continuou: - Pena não ter tido tempo para um grande festejo. Mas o casório logo sai. E a festa será grande.
Dona Ana, ao sentir a dor da filha, prendeu uma lágrima no olhar, pois sabia que precisava manter -se calma.
- Com certeza. - disse o quase sogro de Isadora. – Será uma festa de arromba!
Os pais do noivo pareciam simpáticos, sobretudo a esposa, uma senhora elegante, de cabelo grisalho.
- Meu filho é um bom homem. Fará sua filha feliz. - disse.
Nesse fatídico momento, Fábio desembrulhou um delicado estojo, do qual retirou uma aliança cravejada de brilhantes e, com o pedido de licença, levou a joia à mão da mulher que ele escolheu para esposa.
O coração de Isadora voltou a acelerar, e tentou aceitar a ocasião como um pesadelo breve que logo daria lugar a belos sonhos.
- Viva os noivos! - bradou o velho Antônio, erguendo a taça transbordando de vinho.
Ao término do jantar, os pais de Isadora e do noivo continuaram a prosa na sala, e o rapaz convidou a noiva para um passeio.
- Podem ir, mas não demorem por ai. - disse Antônio.
Eles caminharam até o jardim onde Isadora há poucas horas vivera um dos melhores ou o melhor momento de sua vida, junto daquele que assemelhava-se à sua alma, e que de fato poderia fazê-la realizada.
- Estou muito feliz com o noivado. - disse Fábio.
- Desculpe... Mal nos conhecemos. Não sei bem o que dizer.
- Dá para perceber o teu desconforto. Mas logo isso passa.
Tentando quebrar o gelo, ele falou das fazendas e da quantidade numerosa de empregados que possuía junto ao seu pai. Falou também dos carros e das roupas caras, mostrando pertencer ao universo das coisas materiais, frias e perecíveis a qualquer ruído do tempo.
Em suas palavras não se ouvia nada que dissesse respeito ao amor, amizade, bondade. Isadora ouviu tudo com certo desdém. Ele percebeu o desgosto da moça, mas com o controle da situação em suas mãos, continuou a falar. Certo momento, pausou as palavras e fez menção de beijá-la.
- Não! - disse ela, enfaticamente.
- Por que, não? Agora temos um compromisso. Podemos nos beijar.
- Não estou pronta para isso.
- Que besteira! - exclamou ele a tomando pela cintura.
- Por favor. Não force!
- Está bem.
- Melhor voltarmos. Está tarde. Os lampiões das casas estão se apagando.
- Claro, minha noiva.
Ao entrar em casa, Isadora disse estar cansada, e despediu -se de todos.
De frente para a janela do seu quarto, respirou fundo, agradeceu a Deus por ter conseguido suportar aquela terrível provação sem ceder à tentação de sair correndo. E adormeceu pensando em Genuíno...
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Nota de rodapé
* A guaiaca é um acessório masculino parecido com um cinto, feito de tira de couro larga e fechamento em fivela.
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continua…
Fonte:
Texto enviado pela autora
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