(Folclore do Sergipe)
Havia um homem viúvo que tinha duas filhas pequenas, e casou-se pela segunda vez. A mulher era muito má para as meninas; mandava-as como escravas fazer todo o serviço e dava-lhes muito.
Perto de casa havia uma figueira que estava dando figos, e a madrasta mandava as enteadas cuidar dos figos por causa dos passarinhos.
Ali passavam as crianças dias inteiros, espantando-os e cantando:
Havia um homem viúvo que tinha duas filhas pequenas, e casou-se pela segunda vez. A mulher era muito má para as meninas; mandava-as como escravas fazer todo o serviço e dava-lhes muito.
Perto de casa havia uma figueira que estava dando figos, e a madrasta mandava as enteadas cuidar dos figos por causa dos passarinhos.
Ali passavam as crianças dias inteiros, espantando-os e cantando:
“Xô, xô, passarinho,
Aí não toques teu biquinho,
Vai-te embora pra teu ninho…”
Aí não toques teu biquinho,
Vai-te embora pra teu ninho…”
Quando acontecia aparecer qualquer figo picado, a madrasta castigava as meninas. Assim foram passando sempre maltratadas.
Quando uma vez, o pai das meninas fez uma viagem, a mulher enterrou-as vivas. Quando o homem chegou a mulher lhe disse que as suas filhas tinham caído doentes e lhe tinham dado grande trabalho, e tomado muitas mézinhas (remédio caseiro), mas tinham morrido. O pai ficou muito desgostoso.
Aconteceu que nas covas das duas meninas, e dos cabelos delas, nasceu um capinzal muito verde e bonito, e quando dava o vento o capinzal dizia:
“Xô, xô, passarinho,
Aí não toques teu biquinho,
Vai-te embora pra teu ninho…”
Aí não toques teu biquinho,
Vai-te embora pra teu ninho…”
Andando o capineiro da casa a cortar capim para os cavalos, deu com aquele capinzal muito bonito, mas teve medo de o cortar, por ouvir aquelas palavras. Correndo foi contar ao senhor.
O senhor não o quis acreditar, e mandou-o cortar aquele mesmo capim, porque estava muito grande e verde. O capineiro foi cortar o capim, e quando meteu a foice ouviu aquela voz sair de baixo da terra e cantando:
«Capineiro de meu pai,
Não me cortes os cabelos;
Minha mãe me penteava,
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira
Que o passarinho picou.»
Não me cortes os cabelos;
Minha mãe me penteava,
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira
Que o passarinho picou.»
O capineiro, ouvindo isto, correu para casa assombrado, e foi contar ao senhor que o não quis acreditar, até que o negro insistiu tanto que ele mesmo foi, e mandando o negro meter a foice, também ouviu a cantiga do fundo da terra.
Então mandou cavar naquele lugar e encontrou as suas duas filhas ainda vivas por milagre de Nossa Senhora, que era madrinha delas.
Quando chegaram em casa acharam a mulher, morta por castigo.
Fonte:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Lisboa/Portugal: Nova Livraria Internacional, 1885.
Disponível em Domínio Público.
Atualização do português por J.Feldman
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Lisboa/Portugal: Nova Livraria Internacional, 1885.
Disponível em Domínio Público.
Atualização do português por J.Feldman
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