VICTOR MANUEL CAPELA BATISTA
Dum jardim pleno de flores
salta sempre graciosa,
pra rima dos trovadores
a beleza duma rosa.
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Poema de Portugal
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Lisboa (1919 – 2004) Porto
O Anjo
O Anjo que em meu redor passa e me espia
E cruel me combate, nesse dia
Veio sentar-se ao lado do meu leito
E embalou-me, cantando, no seu peito.
Ele que indiferente olha e me escuta
Sofrer, ou que, feroz comigo luta,
Ele que me entregara à solidão,
Pousava a sua mão na minha mão.
E foi como se tudo se extinguisse,
Como se o mundo inteiro se calasse,
e o meu ser liberto enfim florisse,
e um perfeito silêncio me embalasse.
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Trova de Porto/ Portugal
EMÍLIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES
Uma rosa perfumada,
numa jarra recolhida,
é como vida passada,
que existiu, mas não é Vida.
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Soneto de Portugal
FAUSTINO DA FONSECA JÚNIOR
Angra do Heroísmo, 1871 – 1918, Lisboa
Lira da mocidade
Os versos na mocidade
Todos fazem, e a razão
É serem necessidade
Aos risos do coração.
O futuro cor de rosa,
O mundo cheio de encantos;
A nossa alma jubilosa
Não chorou amargos prantos.
Desde o ar que se respira,
Ao céu da cor de safira,
Tudo ri e diz – Amar!
E contemplando a beleza,
O sorrir da natureza,
Sabemos todos cantar.
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Trova de Portugal
MARIA RUTH BRITO NETO
... Quatro letras que são cor,
... Que são mulher e formosa,
...que são frescura de flor,
quando se soletra... Rosa!
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Poema de Lisboa/Portugal
CRIS ANVAGO
Acredito
Acredito no compasso
Das palavras que dançam
No papel colorido
Pauta perfumada de tons quentes
Acredito no livro ainda não escrito
Onde o coração transborda
Nas palavras que balançam
No olhar ternurento de quem as lê
Na sensibilidade de quem as sente
Acredito na melodia que ainda não foi tocada
Mas que está em construção
Nas mãos de um violinista
Acredito no quadro ainda não pintado
Mas já imaginado no pincel
Que replica as emoções do pintor
Acredito no amor que renasce todos os dias
Com toques de arte ainda não descoberta
Sonhada na ponta dos dedos
Acredito no AMOR
Num mundo mais colorido
Imaginado e vivido…
Acredito!
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Trova Popular
Fui no livro do destino
minha sorte procurar,
corri folhas encontrei:
eu nasci para te amar.
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Soneto de Portugal
DIOGO BERNARDES
Ponte da Barca, 1530 – 1605, Lisboa
[3]
Da branca neve, e da vermelha rosa
O Céu de tal maneira derramou
No vosso rosto as cores, que deixou
A rosa da manhã mais vergonhosa.
Os cabelos (d’amor prisão formosa)
Não d’ouro, que ouro fino desprezou,
Mas dos raios do Sol vo-los dourou,
Do que Cíntia também anda invejosa.
Um resplendor ardente, mas suave,
Está nos vossos olhos derramando
Que o claro deixa escuro, o escuro aclara;
A doce fala, o riso doce, e grave
Entre rubis, e perlas lampejando
Não tem comparação por coisa rara.
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Trova do Rei dos Trovadores
ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ
A luz desse olhar tristonho
dos olhos teus, faz lembrar
essa luz feita de sonho
que a lua deita no mar.
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Poema de Lisboa/Portugal
CÉLIA EVARISTO
Dança dos dias
Os dias passeiam
nos biquinhos dos pés,
dançando graciosamente
no palco da vida.
Dançam, rodopiam…
De lés a lés,
vigorosamente,
ouvem-se aplausos
de uma loucura desmedida.
Sorrisos que brilham,
alma deliciada.
Felicidade que se mostra
numa bela gargalhada.
Dançam, rodopiam…
Por vezes, a desilusão.
Lágrimas desmedidas
que emergem da solidão.
É o tempo quem reina,
sem hesitação,
seguindo o compasso
desta canção.
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Trova de Lisboa/Portugal
FERNANDO PESSOA
1888 – 1935
Eu bem sei que me desdenhas
Mas gosto que seja assim,
Que o desdém que por mim tenhas
Sempre é pensares em mim.
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Soneto de Portugal
FREI AGOSTINHO DA CRUZ
Ponte da Barca, 1540 – 1619, Setúbal
Da contemplação a mesma
Dos solitários bosques a verdura,
Nas duras penedias sustentada,
Nesta serra, do mar largo cercada,
Me move a contemplar mais formosura.
Que tem quem tem na terra mor ventura,
Nos mais altos estados arriscada,
Se não tem a vontade registrada
Nas mãos do Criador da criatura?
A folha que no bosque verde estava,
Em breve espaço cai, perdida a flor,
Que tantas esperanças sustentava.
Por isso considere o pecador,
Se quando na pintura se enlevava
Não se enlevava mais no seu pintor.
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Trova de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Tua demora, “frequente”,
fez-me ver com amargor,
que sou mendiga e carente
das migalhas deste amor!…
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Poema de Lisboa/Portugal
ANTERO JERÓNIMO
Envolve com a tua claridade
A concavidade do meu âmago
Com feixes dourados de serenidade
Afasta a inclemência desta cegueira
Chama-me à transparência da razão
Acentua-me o brilho do olhar
Com a luz líquida da emoção
Incendia o peito desnudado
O restolho que antes foi trigo
Onde morremos pra nascer de novo
Sê o entardecer que amanhece em mim
A canícula que alimenta novas paixões
A luz quente que dá forma às sensações
Abraça-me na fugacidade do momento
Sê o sol do meu feliz contentamento.
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Trova Potiguar
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN 1951 - 2013, Natal/RN
Construí dentro de mim,
com minh’ alma enternecida,
um teatro onde, por fim,
pude encenar minha vida!…
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Soneto de Aveiro/ Portugal
JOAQUIM DE MELO FREITAS
1852 – 1923
Misterioso abismo
Tépido sonho de luz
corpo, que destila aroma
sublime e claro axioma
espargindo amor a flux!
Uma vertigem produz
teu olhar, o seio, a coma,
voluptuoso sintoma
que a fantasia traduz.
Débil flor, que o sol admira
beijando com azedume
as estrelas de safira...
mas ninguém sequer presume
que o meu coração expira
na mortalha do ciúme.
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Trova de Faro/ Portugal
ISIDORO CAVACO
As rosas da natureza
quando contigo cruzaram
ao ver a tua beleza
envergonhadas murcharam.
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Soneto de Coimbra/ Portugal
EUGÉNIO DE CASTRO
1869 – 1944
A coroa de rosas
A fim, oculto amor, de coroar-te,
de adornar tuas tranças luminosas,
uma coroa teci de brancas rosas,
e fui pelo mundo afora, a procurar-te.
Sem nunca te encontrar, crendo avistar-te
nas moças que encontrava, donairosas,
fui-as beijando e fui-lhes dando as rosas
da coroa feita com amor e arte.
Trago, de caminhar, os membros lassos,
acutilam-me os ventos e as geadas,
já não sei o que são noites serenas...
Sinto que vais chegar, ouço-te os passos,
mas ai! nas minhas mãos ensanguentadas
uma coroa de espinhos trago apenas!
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Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
A regra é tirar vantagem,
porém prefiro a exceção:
– quero a inocente coragem
dos puros de coração!
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Soneto de Ilhavo/ Portugal
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
De tudo o que partiu sem ter partido
(Maria Celeste Salgueiro Seabra in "Ânsia de infinito", p. 22)
“De tudo o que partiu sem ter partido”
Eu guardo nas gavetas da memória
Misturado nas lamas dessa escória
Um brilhante, de todos, o mais querido.
Tudo o que eu fiz morreu, sem alarido
Da vaidade a herança é ilusória
Farta, a riqueza é sempre transitória
E o futuro, de sonhos, é tecido.
Mas uma coisa eu guardo com desvelo:
Um louro caracol do meu cabelo
Que a minha mãe cortou em pequenino.
E mesmo sem ter caixa eu guardo ainda
De todas essas coisas a mais linda:
Os ecos dos meus risos de menino.
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Trova da Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Dessa cruel liberdade
de ofender, há quem abuse
a esquecer de que a verdade
um dia talvez o acuse!
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Hino de Caraguatatuba/SP
Caraguatatuba bonita
Esplendor de beleza rara!
Caraguatatuba onde habita
O cortês e gentil caiçara
Nas fímbrias da serra que aos céus se levanta
À margem formosa de imensa baía
Se estende uma terra que aos olhos encanta
A terra onde as praias têm mais alegria
Se sois dentre as joias a mais reluzente
Se dentre as cidades vós tendes mais vida
Então não sois obra divina somente
Sois obra de Deus pelos homens polida
Caraguatatuba bonita
Esplendor de beleza rara!
Caraguatatuba onde habita
O cortês e gentil caiçara
Oh! Terra, vós tendes um mar cristalino
Que tanto vos beija em carícias de irmão
Que traz ondulante um murmúrio divino
O suave murmúrio de Deus na amplidão
Vós tendes na frente uma ilha gigante
Que às nuvens se lança a perder-se de vista
A exemplo da ilha erguei-vos vibrante
E glória sereis brasileira e paulista
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Trova de Avis/ Portugal
FERNANDO MÁXIMO
Navegando em mar de rosas
aos teus braços aportei;
foi das coisas mais formosas
esse porto onde atraquei!
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Soneto de Portugal
AUGUSTO GIL
Porto, 1873 – 1929, Lisboa
De profundis clamavi ad te domine*
Ao charco mais escuso e mais imundo
chega uma hora no correr do dia
em que um raio de sol, claro e jucundo,
o visita, o alegra, o alumia;
pois eu, nesta desgraça em que me afundo,
nesta contínua e intérmina agonia,
nem tenho uma hora só dessa alegria
que chega às coisas ínfimas do mundo!...
Deus meu, acaso a roda do destino
a movimentam vossas mãos leais
num aceno impulsivo e repentino,
sem que na cega turbulência a domem?!
Senhor! não é um seixo que esmagais;
olhai que é – o coração de um homem!...
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*De profundis clamavi ad te domine : Eu te clamei das profundezas, Senhor
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Trova de Portugal
GABRIEL DE SOUSA
Paredes, 1912 – 1997, Porto
O porvir já vem traçado
nas linhas da nossa mão,
mas poderá ser moldado
se tivermos ambição.
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
O mergulhão, a silva e o morcego
O mergulhão, a silva e o morcego
Fizeram sociedade: entram no emprego
De embarcarem, levando por contrato
Metais o mergulhão, a silva fato;
O morcego, sem fundo, foi forçado,
Para a carga, a valer-se do emprestado.
Tal tormenta lhes deu, que lá ficaram
Os bens, e eles com custo se salvaram:
O mergulhão da praia agora gosta,
A ver se os seus metais deram à costa:
A silva, quando o fato nela embarra,
Cuidando que é o seu, a ele se agarra:
O morcego de dia não se atreve
A sair, temendo esses a quem deve.
Fatal vício o da sórdida avareza,
Porque além de meter os seus amigos
Em imensos trabalhos e perigos,
Por tenaz se converte em natureza.
No que procura o seu, não é defesa;
Mas hesita tormentos e castigos
Naqueles que perdendo os bens antigos,
Qual silva, nos alheios fazem presa.
O que intenta negócio do emprestado,
Manda a quem lhe emprestou muito presente;
Lá vai lucro, e talvez que vá dobrado.
Se houve perda, retira-se da gente,
Por andar do credor envergonhado,
Sente muito, e o que empresta ainda mais sente.
Um comentário:
Gratidão Poeta!! É uma honra para mim! Beijinhos
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