sexta-feira, 14 de abril de 2023

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 11

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.


Abalo o pé da roseira,
mas não o posso arrancar.
Quem não tem bens de raiz
glórias não pode alcançar.
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As rosas é que são belas,
são os espinhos que picam,
mas são as rosas que caem...
são os espinhos que ficam...
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Chovam raios e coriscos,
parta-se o mar em pedaços,
hei de amar o meu benzinho
com todos seus embaraços.
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Cravo goivo, amor perfeito,
metido em tua almofada...
No dia em que não te vejo,
não como, não faço nada.
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Cravo, não bulas com a rosa,
deixa a rosa na roseira...
Tu bem sabes que é pecado
bulir com moça solteira.
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Cresce a lua, cresce o mar,
Cresce a planta, cresce a flor,
Só não cresce na tu'alma
a raiz do meu amor.
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Do jardim deste teu peito
quero dois botões de rosa,
e quero teu coração,
das flores a mais mimosa.
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És uma roseira fina,
bem enflorada a meu gosto,
os botões estão no seio,
a rosa aberta é teu rosto.
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Eu passei por um craveiro,
tirei um cravo com a unha.
Quem toma o amor dos outros,
não tem vergonha nenhuma.
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Lá detrás daquele cerro,
é o sertão do Seridó.
Faço carinhos a todos,
mas quero bem a ti só.
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Lá d'outra banda do rio
está uma rosa por se abrir.
Quem me dera ser sereno
para nessa rosa cair!
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Logo mando quatro cravos,
todos quatro por abrir...
Meus braços estão abertos,
sempre que tu queiras vir.
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Meu benzinho, se eu pudesse,
fazia a noite maior...
Dava um nó na lua cheia,
outro nos raios do sol.
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Meu botão de rosa branca,
teu aroma me entristece,
hoje em dia, minha rosa,
quem mais faz menos merece.
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Muito lindo é o céu
pra onde Deus nos criou:
Sem primeiro padecer
nunca ninguém o gozou.
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Ó lua, dá-me teu brilho,
bela rosa, as tuas cores.
Primavera, as tuas galas,
para enfeitar meus amores.
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0 mar se desmancha todo,
em rendas junto da praia.
Também andam meus amores
na renda da tua saia.
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Passeia, meu bem, passeia,
por paragens que eu te veja,
inda que a boca não fale,
meu coração te festeja.
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Plantei um pé de roseira,
nasceu um de maravilha,
estou falando com a mãe
mas com sentido na filha.
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Rebenta o raio feroz,
derruba sem compaixão,
castiga o orgulho da terra
que se levantou do chão…
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Roseira, dá-me uma rosa,
craveiro, dá-me um botão,
que em troca do teu afeto,
dar-te-ei meu coração.
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Sereno da madrugada
caiu no talo da couve.
Quem me dera que eu caísse
nos braços de quem me ouve!
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Subi às portas das nuvens,
cavalgando num trovão,
desci nas cordas das chuvas
com dez coriscos na mão.
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Tive um canteiro de estrelas,
de nuvens tive um quintal,
para dar ao meu amor
se não me quisesse mal.
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Vamos viver na campina,
como vive a planta e a flor,
gozando em suave paz
a suave lei do amor.
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Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.

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