Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.
A bonina é disfarçada,
quem me dera ser assim!
É bem asneira morrer
por quem não morre per mim.
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A bonina é flor da noite,
não abre senão de tarde:
Não há mal que sempre dure,
nem bem que não se acabe.
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A folha da bananeira
de comprida amarelou;
A boca de meu benzinho
de tão doce açucarou.
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A folhinha do alecrim
cheira mais, quando pisada:
Há muita gente que é assim,
mais ama se desprezada.
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Alecrim verde cheiroso,
tem o cheiro diferente.
Este nosso doido amor
dá combate a muita gente.
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As florzinhas do coqueiro,
vem o vento, vão ao chão:
Fazem assim os meus olhos
se passa o meu coração.
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Cajueiro, cajueiro,
quem te botará no chão?...
Debaixo das tuas ramas
foi a minha perdição...
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Cravo roxo no meu peito
logo me cai a semente.
É melhor morrer de um tiro
que de ti viver ausente.
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Do pinheiro nasce a pinha,
da pinha nasce o pinhão,
da mulher nasce a firmeza,
do homem a ingratidão.
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Eu passei por um craveiro,
tirei um cravo com a unha.
Quem toma o amor dos outros
não tem vergonha nenhuma.
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Eu sou como a flor da murta
daquela que cai no chão.
Quanto mais carinhos faço,
mais desenganos me dão...
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Lá detrás daquela serra
tem um pé de pimenteira,
para se botar na boca
de quem for mexeriqueira.
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Limoeiro é pau de espinho
donde nasce a penitência.
Acharás neste meu peito
dobrada condescendência.
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Logo mando quatro cravos
todos quatro por abrir...
Meus braços estão abertos,
sempre que tu queiras vir.
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Meu coração é um jardim.
todo enfeitado de grades,
Com suspiros, não-me-deixes,
mal-me-queres e saudades.
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Nasce a lima da limeira
de uma semente que tem.
Não pode haver desavença
de dois que se querem bem.
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Não há quem tire do pasto
tiririca e carrapicho.
Minha cegueira por ti
é mais que amor, é rabicho.
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No jardim da formosura
eu fui colher um jasmim,
mas a morte traiçoeira
colheu-o antes de mim.
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0 amor que vai ser meu
anda na flor do poejo,
pulando de galho em galho,
eu fazendo que não vejo.
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0 coqueiro de sabido
foi-se por naquela altura,
pensando que eu não sabia
quando tem fruta madura.
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0 cravo também se muda
do jardim para o deserto.
De longe também se ama,
quem não pode amar de perto.
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Plantei o milho num mês
e no outro embonecou:
Mandei-te um beijo outro dia,
lá se foi e não voltou.
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Quatro flores no meu peito
fizeram sociedade:
Sempre-viva, amor perfeito,
martírio roxo e saudade.
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Se a perpétua cheirasse,
era a rainha das flores.
Como a perpétua não cheira,
Perpétua não tem amores.
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Sou como a hera que sobe,
se acha muro de feição,
mas quando o muro se acaba,
pendem os ramos pelo chão.
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Vinde cá, meu limão doce,
saboroso de comer.
Não descubras meu segredo
que a ti só dei a saber.
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Vinde ó, meu cravo d'ouro,
minha semente de prata,
a tua vista me alegra
o teu retiro me mata.
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Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.
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