sábado, 16 de setembro de 2023

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 18

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.
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Nas ondas dos teus cabelos
quero aprender a nadar;
Desprezo o risco que corro,
não me importa de afogar.
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Tens os dentes tão miúdos
como pedrinhas do sal,
a fala tão temperada
que me chega a fazer mal...
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Boca de cravo da Índia,
dentes de marfim lavrado,
quando meus olhos te viram
meu corpo fez um pecado.
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Tua voz me põe doente...
Teu sorriso é amarração...
Teu andar machuca a gente…
Pobre do meu coração!
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Morena, beiço de rosa,
claros dentes de marfim,
no meio do teu resono,
dá um suspiro por mim.
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Se alguém nos surpreender
não tenhas nenhum desgosto:
Escondo-me, bem quietinho,
nas covinhas do teu rosto.
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Menina, quando morreres,
tapa esta cara com um véu:
Não quero que a terra coma
esta carinha do céu!
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Venha cá, meu botão de ouro,
minha semente de prata,
esse sorriso me alegra,
esse semblante me mata.
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Não tenho medo das ondas,
das ondas bravas do mar...
As ondas deste teu peito
é que me hão de matar.
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Vou-me embora, tenho pressa,
tenho muito que fazer,
tenho que parar rodeio
no peito do bem-querer.
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Manjericão de Lisboa
tem a folha verde escura,
nos braços de uma morena
tenho a minha sepultura.
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Duas coisas neste mundo
são minha grande paixão:
Perna grossa cabeluda,
Peito em pé no cabeção.
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Não tenho medo de ti,
nem da faca mais pontuda;
Tenho medo, quando vejo
perna grossa cabeluda.
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Muita perna tenho visto,
perna fina, perna grossa...
Mas as pernas mais bonitas
são as das moças da roça.
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Queridinha de minh'alma,
tem pena dos teus pezinhos,
não andes assim descalça,
tem pena dos pobrezinhos!
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Menina dos pés pequenos
deixe-os estar, porque tira?
Quanto mais o pé se esconde,
mais a viola suspira...
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Vi o teu rastro na areia
e me pus a considerar
que teu corpo tem tal mimo,
que teu rastro faz chorar...
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Alecrim da beira d'água
de viçoso está tremendo.
As moças de Porto-Alegre
de faceiras estão morrendo.
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Requebra, meu bem, requebra,
machuca este coração...
Quebra este teu requebrado
mais do que mão de pilão!
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Meu amor é pequenino,
do tamanho de um botão;
Assim mesmo é que eu o quero,
para o trazer no coração.
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Menina do oratório,
quero ser seu sacristão...
Para dar a badalada
à beira do coração.
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Se em troca do teu afeto
exiges o afeto meu,
já não tens razão de queixa;
o meu coração é teu!
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0 inferno não me aterra,
nem a morte me apavora;
meu coração só se rende
aos pés daquela que adora.
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Canta o galo, rompe o dia,
cai o sereno no chão.
Eu também quero cair
dentro do teu coração.
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Meu coração de babosa,
baba aqui, baba acolá.
0 meu coração palpita,
Faz lá dentro tá, tá, tá...

Fonte: Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919. Disponível em Domínio Público.

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