sábado, 5 de julho de 2008

Roberto Bittencourt Martins (Ibiamoré)

Ibiamoré, o trem fantasma, composta por um conjunto que envolve mitos e a história rio-grandense. O cenário é Ibiamoré, cidade que se localiza na fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina. De lá o trem parte, sem respeitar fronteiras, passando por onze estações. Durante o percurso do trem fantasma, entram em cena muitas personagens, e vários narradores: heróis, índios, jesuítas, espanhóis, portugueses, imigrantes, mulatos, mestiços, estrangeiros. O conjunto de mitos termina com a da criação do Universo e do homem sob a ótica sulista. Já a História lembra os episódios que iniciam com a guerra jesuítica até a construção das primeiras estradas de ferro no final do século XIX.

'Entrou num trem cheio de passageiros, mas ninguém parecia vê-lo; procurava um lugar vago e não encontrava nenhum. Descobriu, já aflito, apenas uma cadeira no fundo. Sentou-se e, só então, pôde olhar com mais vagar para seus companheiros de viagem. Surpreendeu-se que estivessem todos de olhos fechados, adormecidos, mesmo com o trem parado. Somente quando o trem começou a andar é que lhe veio a idéia horrível de que todos estavam mortos. Quis gritar para que parassem o trem, queria sair - mas não conseguiu mover os lábios para falar'.

Este sonho dá o tom no romance Ibiamoré de Roberto Bittencourt Martins. No centro da trama encontramos a lenda do Trem Fantasma, localizada na fronteira sul do Brasil, entre o Rio Grande e as repúblicas platinas. Cada um dos capítulos corresponde a uma das onze estações imaginárias da Viação Férrea. Por trás da lenda está a irrupção da máquina no espaço virgem do campo.

O ideal pastoral foi utilizado para definir o significado do Novo Mundo desde o seu descobrimento. Os primeiros cronistas lançaram mão das imagens de Virgílio para descrever uma natureza selvagem e inóspita. Com o advento da industrialização, o idílio decai: o apito estrídulo da locomotiva irrompe na paz dos campos e os cantos dos pássaros, o mugido das vacas e o relinchar dos cavalos cedem lugar ao silvo do trem, emblema do progresso.

A interrupção da máquina no jardim aponta, no caso do Brasil, para o fim do Império [1870-1888], época em que as primeiras locomotivas corriam pelos trilhos recém-construídos. Em Ibiamoré encontramos, porém, um tempo histórico anterior: aparecem as figuras fundadoras do Rio Grande do Sul - Afonso Inácio, o capitão-menino, representante do português açoriano, o índio Teireté protestando contra a violência das guerras guaraníticas [1753-1756] e Frei Esteban Cruz, o padre jesuíta espanhol, difusor das letras e pai espiritual da lenda do Trem. Ao longo das narrações dos vários cronistas, Frei Esteban acaba por incorporar-se à lenda como padre sacrílego expiando suas culpas no fatídico trem.

O romance foi publicado em 1981. O livro, no seu duplo significado, mostra o progresso, representado pela idéia do trem e, ao mesmo tempo, denuncia a ruptura dos valores cultivados pelo gaúcho.

Fontes:
http://www.algosobre.com.br
http://www.dicadeteatro.com.br (imagem)

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