Quando era criança ninguém tinha medo de andar no escuro, e o caminho a percorrer para chegar à Igreja era bem longo. As sombras das árvores se projetavam à nossa frente, nos rodeavam e nós seguíamos tranquilamente na noite santa para ir à Missa do Galo; assim chamada aqui no Brasil, e que antigamente era celebrada à meia noite. Muitas vezes, nas vésperas do Natal já havia caído a neve, e isso tornava a noite mais silenciosa. O barulho dos passos era abafado; a paisagem linda.
Ao longe se notavam as luzes do pequeno lugarejo, no cume a Igreja, e o clima do verdadeiro do Natal, invadia os nossos corações. As últimas badaladas dos sinos, perdiam-se no ar gelado da montanha.
A gente caminhava às pressas para chegar logo, e depois da celebração, voltava cantando com a alma cheia de júbilo natalino. Havia em nosso ser a felicidade da simplicidade, da paz, da amizade, do calor da família unida, com o espírito cristão.
Os pés ficavam molhados e gelados; chegando, a mãe nos colocava perto do fogão a lenha quentinha deixado abastecido, e ainda emanava calor. Em cima dele havia as grandes panelas, com os caldos, ou com carne já quase assada para o almoço de Natal.
Lembro-me das gostosas comidas com cheiros deliciosos. As horas já haviam passado rapidamente, mas ganhávamos uma fatia de panetone e um pequeno gole de vinho doce. Depois precisávamos deitar logo, por que o Menino Jesus, se nos encontrasse acordados não deixaria presentes, mas na ansiedade era difícil pegar no sono.
Assim se foram os anos da inocência, da pureza e doçura de muitos Natais. Quando na manhã seguinte, debaixo da árvore de pinheiro verdadeiro, encontrávamos nossos presentes, talvez pobres, mas ficávamos muito felizes... logo começávamos brincar. Na cozinha quente os cheiros gostosos do café, dos doces que estavam na mesa misturavam-se com as das tangerinas penduradas na árvore. Havia este costume de pendurar frutas, balas, bombons de chocolates, enfeitados com fitas douradas. Nós escolhíamos qual comer primeiro, era uma festa! Da vidraça da cozinha podíamos ver o jardim; e a neve que havia pousado ao longo da noite, deixando nos galhos das árvores uns lindos bordados, tal qual uma branca e luminosa pintura.
Hoje, sozinha, à frente do meu pequeno presépio, das pequenas imagens antigas, que guardei daquele tempo... Jesus dorme.
A noite aqui não é silenciosa. A véspera de Natal tem outros costumes!
(crônica no jornal “A Cidade”, em 2015, parte publicada na coluna do leitor)
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