domingo, 3 de novembro de 2019

Renato Benvindo Frata (O Amigo)

Ajeita a tralha e latinhas no isopor, a vara no bagageiro da Brasília. Pescaria promete.

Dia com sol, bonito, vento fraco.

Telefone toca, é Maurício dizendo que não vai.

"Que pena". Amigo bom taí, deu as cervejas, não pode pescar.

"A que horas volta?"- mulher pergunta.

"Seis, ou mais"- é a resposta.

Se apressa.

Chega no rio. Joga a isca na água.

Anzol enrosca numa rede.

Puxa devagar.

"Tá cheia". 32 lambaris, 9 bagrinhos, vivos.

Rede rodou à noite.

"Que sorte!”

Não vê ninguém que possa ser o dono.

Põe no embornal e sai,

"Amigo deu as cervejas, darei a peixada".

Chega, entra, nota silêncio e fogão frio,

"Será que foi almoçar na mãe?"

Escuta ruído.

Abre a porta do quarto, mulher trêmula na cama.

Debaixo, parte de perna.

Manda sair.

É o Maurício.

Fonte:
Renato Benvindo Prata. Azarinho e o caga-fogo. Paranavaí/PR: Eg. Gráf. Paranavaí, 2014.

Livro enviado pelo autor.

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