Prelúdio N°. 1
(Paradoxos)
Perdoa, meu amor...
- na alegria imprevista do reencontro
a nos perturbar ,-
este véu de tristeza, vaga nuvem
em meu olhar...
(O amor é mesmo assim, de paradoxo e extremos...)
Perdoa, meu amor,
só agora que te encontro é que me ponho a pensar
no tempo que perdemos...
Prelúdio N°. 2
(embriaguez)
Ah! encher minhas mãos com os teus cabelos louros
assim... nervoso como me vês...
E tomar tua cabeça, e beber, lentamente,
teus beijos, enternecidamente,
até a embriaguez...
Prelúdio N°. 3
(razão da noite)
Enchi minhas mãos de sol, com os teus cabelos
e eles escorreram como luz entre os meus dedos...
Agora que tenho as mãos vazias,
compreendo a razão desta noite
em meus dias...
Prelúdio N°. 4
(Tua boca)
Na tua boca entreaberta, úmida, viva
colhi o último suspiro do anjo
que expirava em teus olhos...
Prelúdio N°. 5
(Desejo)
Ao toque de tuas mãos, esse desejo que arde
em minha fronte, com a ardência de um sol de verão
serena
oh! minha amada,
( e é doce e misteriosa essa estranha emoção),
como o instante de sombra fresca e amena
quando uma nuvem cobre o sol, e sopra
na folhagem ressecada
a viração…
Prelúdio N°. 6
(Lembrança)
Ficou tua lembrança...
A lembrança de teus olhos vidrados
semicerrados,
de tua cabeça num gesto de criança
recostada em meu peito,
de teu cabelo desfeito...
(de teus cabelos em ondas de ouro
em teus ombros...)
Ficou tua lembrança
como uma flor azul de pólen de ouro,
a romper imprevistamente, de um modo que ruiu
em escombros…
Prelúdio N°. 7
(Traição)
Foi traição do destino bipartir nossos rumos
como um caminho frente a uma montanha,
para fazê-los de novo se encontrarem
muito tempo depois...
Para quê? Se cada um de nós podia ser um
isoladamente,
- se tínhamos que ser dois...
Dois, assim
como as margens de um mesmo caminho
que seguem, lado a lado, paralelamente,
até o fim...
Prelúdio N°. 8
(Era uma vez...)
O último anjo entremostrou-se nos restos
de tua timidez...
E eu te contava uma história:
Era uma vez…
Prelúdio N°. 9
(A eleita)
Que importa, se não és ?
Foste e serás a eleita,
a lembrança que foi, e há de ser onde eu for...
Que haja pois, se preciso, a renúncia perfeita
se não pode afinal ser perfeito esse amor...
Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. 3. SP: Ed. Theor, 1965.
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