sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 3

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.


A Bahia é terra boa,
como outra mais não há.
Eu gosto dela de longe,
eu aqui e ela lá...
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Adeus, Curitiba triste,
alegre Campos Gerais…
Eu sou aquele que disse
que a S. Paulo não vou mais.
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As idades neste mundo
têm os quinhões desiguais:
O moço pode, não sabe,
velho quer, não pode mais.
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As línguas soltas do mundo
não as deixam descansadas:
atrás das viúvas correm
mesmo as pedras das calçadas.
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De Minas Gerais — o ouro,
de Montevidéu — a prata,
de Portugal — a rainha,
do Rio Grande — a mulata.
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Dois noivos e dois casados
lado a lado passeavam...
Parecia que os dois pares
um ao outro se invejavam.
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Eu de cima, ela de baixo,
que namoro mal logrado!
Ela com dor na garganta,
eu de pescoço espichado.
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Eu não quero tomar mate
quando os ricos 'stão tomando,
quando chega para os pobres
os pauzinhos 'stão nadando...
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Eu vi a morte pescando
de caniço e samburá.
Quando a morte pesca peixe
que fome não há por lá!
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Eu vou dar a despedida
como deu o quero-quero:
Depois da festa acabada,
pernas para que te quero?
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Fui soldado, sentei praça,
Sentei-me numa guarita;
Sou chefe, sou comandante
De toda «china» bonita.
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Meu amor, canastra velha,
samburá, cesto sem fundo.
Eu bem quero, mas não posso
tapar a boca do mundo.
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Para que portas trancadas
desfeita, zanga e rigor?
Não vê que têm mais poder,
a mocidade e o amor?
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Pintor que pintou a Ana,
também pintou Leonor:
Se Ana saiu formosa,
que culpa tem o pintor?
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Principiei a amar de pé,
ao depois fui agachado,
fui mais tarde de gatinhas,
afinal, fui apanhado.
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Quando eu vim de minha terra
muita menina chorou,
só a ladra, de uma velha,
muita praga me rogou.
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Quem quiser ter vida longa,
fuja sempre que puder…
de médico, boticário,
melão, pepino e mulher!
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Quem quiser tomar amores,
há de ser co'a cozinheira,
que ela tem os beiços grossos
de lamber a frigideira.
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Quem vier a Pernambuco
traga contas pra rezar.
Pernambuco é purgatório
onde as almas vem penar.
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Quer o rico, quer o pobre,
todos tem seu amorzinho:
O rico com seu dinheiro,
o pobre com seu carinho.
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Seja menos confiado,
sua cara de pamonha!
Bem que diz lá o ditado,
quem ama não tem vergonha.
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Você me chamou de feio,
sou feio, mas sou dengoso,
também o tempero é feio,
mas faz o prato gostoso.
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Você quando tem presunto
não convida pra jantar,
mas quando tem seu defunto
me chama pra carregar.
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Vou-me embora desta terra,
mineiro está-me chamando.
Mineiro tem um costume,
chama a gente, vai andando,

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.

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