Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.
A cantiga que se canta,
não se torna a recantar;
O amor que se despreza
não se torna a procurar.
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As cantigas que eu sabia,
todas me hão esquecido.
A que meu bem me ensinou
nunca me sai do sentido.
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A viola sem a prima,
a prima sem o bordão,
parece mãe sem a filha,
a irmã sem seu irmão.
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Cantemos, meu bem, cantemos,
cantemos, e bem juntinhos;
Os anjos cantam nos céus
nós também somos anjinhos.
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Dizei-me o que significa,
o que vem significar:
Caminhar para tão longe,
cantando pra não chorar.
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Eu hei de morrer cantando,
pois que chorando nasci,
para ver se recupero
o que chorando perdi.
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— Eu não canto desafio,
nem que me paguem a vintém,
que não quero andar pegado
na abertura de ninguém.
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Eu não canto por cantar,
nem por ser bom cantador,
canto por matar saudades
que tenho do meu amor.
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Eu tenho um saco de versos
dependurado no oitão;
Se duvidares de mim,
eu dou co’o saco no chão.
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Fui andando pela rua,
fui cantando o meu dandão;
As meninas 'tão dizendo:
ele é feio, mas é "bão".
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Minha viola de pinho
pra tudo tu tens de dar:
Uns cantam pra divertir,
os outros pra não chorar.
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Minha viola mais canta,
quanto mais sofro na vida.
Sou como cana no engenho:
Mais doce, mais espremida.
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Não sei se ria ou se chore,
não sei que faça de mim:
Eu cantando dobro penas,
chorando penas sem fim.
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No lugar aonde eu canto
todos tiram-me o chapéu;
Cada repente que eu tiro
corre uma estrela no céu.
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O errar numa cantiga
não se deve admirar,
que o melhor atirador
erra um pássaro no ar.
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Quando eu pego por aqui,
e pego por acolá,
sou mesmo que dor de dente,
quando pega a "pinicá".
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Quem canta seu mal espanta,
quem chora seu mal aumenta.
Eu canto pra disfarçar
este mal que me atormenta.
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Quem me vê andar cantando,
pensará com bem razão
Que eu ando alegre da vida ...
Sabe Deus, meu coração!
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Quem me vê andar cantando
pensará que estou contente,
eu canto pra disfarçar,
dão dar gosto a muita gente.
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Quem quiser cantar comigo
sente na ponta do banco,
que eu conheço gado bravo
de noite só pelo arranco.
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Sou cantador afamado:
Se toco a prima e o bordão,
atrás de mim vou levando
a gente deste sertão.
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Viola tu também amas,
também tu sentes paixão.
O teu corpo de madeira
tem forma de coração.
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— Você diz que sabe muito,
pois me destrinche esta conta:
Vinte cinco guardanapos,
dois vinténs em cada ponta.
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Você me mandou cantar,
pensando que eu não sabia,
pois eu sou como cigarra,
quando canta, leva o dia.
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Vou começar os meus versos
com voz alegre cantando
pr’amor de que os circunstantes
não passem a noite chorando.
Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.
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