terça-feira, 22 de novembro de 2022

Trovas Populares Brasileiras – 2


Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. com o 4.,
sistema ABCB. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.
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A minha alma de velho
anda agora renovada;
a paixão é que nem sono
chega sem ser esperada.
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Ave Maria! Meu Deus!
Quando eu me arreliar
faço aleijado correr,
quem não tem olho enxergar.
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Branco e preto, preto e branco
isto de cor não procede...
Do escuro é que vem a luz,
o dia à noite sucede.
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— Compadre, você me diga
mas me diga num arranco:
– Porque é que galinha preta
por força põe ovo branco.
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Eu já fui na sua casa
e já sei o que ela é.
A fartura que eu vi nela
foi pulga e bicho de pé.
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Eu não vou na tua casa,
pra tu não vires na minha.
Tens a boca muito grande,
acabas minha farinha.
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Eu sou maior do que a terra,
maior do que o mar profundo.
Eu sou maior do que o céu
maior do que todo o mundo.
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Eu sou maior do que Deus,
maior do que Deus eu sou.
Eu sou maior no pecado
porque Deus nunca pecou.
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Fabião nós somos velhos
e velhos não valem nada,
porque só vale quem ama
quem traz a alma enganada.
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Minha mãe chama-se caca,
minha avó Caca Maria.
Em casa tudo era Caco,
Sou filho da Cacaria.
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Não há papel nesta vila
nem tinta neste convento,
não há pássaro de pena,
que escreva tal sentimento.
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Não tenho medo das alma:
– Da cobra, faca e trovão,
mas renego mulher velha
que vive a botar paixão.
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Não tenho modo de homem
nem do ronco que ele tem:
O besouro também ronca,
vai-se ver, não é ninguém.
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Ora, louvado seja Deus!
Ora, Deus seja louvado!
De cabeça para baixo
este mundo anda virado.
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— Ó seu moço inteligente,
faça favor de dizer:
Em cima daquele morro
quanto capim pode ter?
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— Ó seu moço inteligente,
faça favor de dizer:
Vinte e cinco par de gatos
quantas unhas podem ter?
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O tatu é homem pobre,
que não tem nada de seu,
tem uma casaca velha
que o defunto pai lhe deu.
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Passei o Paranaíba
navegando numa balsa.
Os pecados vêm da saia,
pois não podem vir da calça.
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Quando estou no meu destino,
sou cabra de gênio cru:
engulo brasa de fogo,
faço a vez de cururú.
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Quem quiser brincar comigo
venha pra o meio da areia:
Se for homem leva bala.
se for mulher leva peia.
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Quem se foi para tão longe,
e deixou seu passarinho,
quando vier não se anoje
de encontrar outro no ninho.
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Se encontrar outro no ninho,
hei de fazê-lo voar,
que eu não fui fazer meu ninho
pr’outro nele se deitar.
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Se o raio não queimou,
se o gado não comeu,
em cima daquele morro
tem o capim que nasceu.
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Sim senhor, destrincharei,
conforme me parecer:
Doze patacas e meia
quatro mil réis vem a ser.
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Uma coisa me admira
e me produz confusão:
– É ver o vapor correr
sem unha, sem pé, nem mão.

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.
Algumas palavras das trovas foram convertidas para o português atual.

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