terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Aristides Dias (O Imaginário popular)


Acho que na maioria das cidades pequenas do Brasil existe um personagem folclórico e muitas “estórias” criadas pelo imaginário popular. Quem nunca ouviu relatos do boto que se transformou num moço bonito e emprenhou a cunhantã na beira do rio? Quem nunca ouviu falar da Cobra Grande? Essas lendas fazem parte da cultura popular, principalmente na Amazônia.

Em Óbidos, por exemplo, se a Cobra Grande se mexer, racha a parede da igreja, tinha a mulher que virava porca e o homem que virava cavalo. Como surgiu tudo isso até hoje eu não sei, mas sei como surgiu alguns boatos desse tipo que deixou a gente da pequena Cidade Sentinela em polvorosa.

O escritor obidense e comerciante na época, Cornélio Santos, diz em seu livro “Lembranças de um obidense” na página 67, 68 que quando decidiu atravessar para a Vila Flexal, em uma viagem de pesquisa, resolveu ir de caminhão. Para chegar até lá, tinha que atravessar o lago Mamauru. Como não tinha balsa na época, resolveu fretar um batelão.

O trabalho que deu para colocar o veículo na embarcação demorou bastante e só conseguiu sair para o seu destino às 20h. Na travessia, uma canoa com seis homens remando, puxava o casco com o caminhão em cima e, para nortear os remadores, de vez em quando ele acendia o farol do carro na sua potência máxima.

A travessia durou a noite toda, com o ligar e desligar do farol, chegando ele para a Vila Flexal por volta das 4 horas da manhã. Alguns dias depois ao chegar em Óbidos, sua mãe e irmã estavam muito nervosas e suplicaram para que ele não viajasse mais pelo lago Mamauru, pois lá tinham visto uma Cobra Grande e a cidade só falava nisso.

Depois de ouvir vários relatos, ele resolveu falar com os pescadores que diziam ter vistos a tal Cobra Grande e disse que foi ele que atravessou o lago com o carro e contou toda a história... mas de nada adiantou seu esforço, os pescadores não acreditaram em seu relato e a Cobra Grande continuou amedrontando por muito tempo o povo da região.

Outro relato que tive, foi de um amigo que servia no Quartel de Óbidos, onde funcionava o 4º Grupo Artilharia de Costa. Certo dia, em seu momento de folga, foi atrás de um “rabo de saia” lá pras bandas do porto, onde tinha navio desembarcando e o movimento era pra lá de bom pra esse tipo investimento. Depois de algumas cervejas, o amigo conseguiu o que queria.

Pagou a conta, pegou a parceira e saiu no rumo do Laguinho, na época não existia essas habitações de hoje, tinha muito mato, a cidade ainda era bem pequena e a energia era desligada às 22h, se não me engano.

Muito bem, como brasileiro dá um jeito pra tudo, ele se deitou em cima de uns murerus e foi curtir a noite enluarada com o céu cheio de estrelas. Quando estava no bem-bom, chegou um bêbado querendo tirar “água do joelho”, justamente na sua direção. Quando ele viu a coisa, deu um grito, berrou, e o bêbado saiu em disparada. Antes que os curiosos aparecessem, ele pegou a dama e sumiu de lá.

No dia seguinte, a cidade só falava de um assunto: que o estivador fulano de tal tinha visto uma visagem pras bandas do Laguinho na noite anterior. Ao ficar sabendo dos comentários, num suspiro aliviado, meu amigo disse: “escapei por pouco de ser o assunto do dia”. E o fato entrou como mais uma “estória” da imaginação popular.

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