DE VOLTA ÀS RAÍZES
Viajando por caminhos olvidados,
Eunice, deslumbrada, se reclina
às janelas de tempos já passados
que a luz do seu talento descortina.
E vêm à tona vultos embuçados
viver de novo as sagas da campina,
atravessando escarpas e valados,
ao sol, à chuva, ao vento ou à neblina.
Nessa volta saudosa até as raízes,
ela nos mostra, em gama de matizes,
o que foi nossa terra e nossa gente.
E nos envolve tanto em seu relato
que nos sentimos parte do retrato,
quais fantasmas roubados ao presente.
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GRAÇAS À MINHA CIDADE
Itararé que amo tanto,
que me viste, pequenina,
da brisa ao meigo acalanto,
a correr pela campina,
ou de teus rios num recanto,
me envolver na espuma fina,
ver o sol no eterno encanto
ir descansar na colina...
Segui sempre te querendo,
e extasiada estou vivendo
a sublime maravilha
de entre sonhos tão antigos,
ter IRMÃOS nos meus amigos,
e me chamares de FILHA!
(Declamada pela autora ao receber seu título de CIDADÃ ITARAREENSE)
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GRUTA DAS ANDORINHAS
Um cataclismo parte o chão rochoso
E o rio se atira para o novo leito;
em paredões de granito limoso,
corre o Itararé, rude e violento.
Agora para, retomando alento,
na gruta escura, no silêncio umbroso,
mas logo segue aos saltos, barulhento,
e some, além, esquivo e misterioso,
À tarde, as andorinhas, em revoadas,
descem, doidas, quais flechas disparadas,
buscando nas cavernas o degredo.
E o mistério do rio... sempre inviolável...
Nada se sabe do abismo insondável.
Só as andorinhas... mas guardam segredo.
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RIO VERDE
Mudaste quase nada... eu mudei tanto, tanto,
que nem sabes quem. sou, se me encontras agora;
mas tu conservas sempre o teu eterno encanto,
és ainda o meu doce e lindo rio de outrora.
Ao sabor da água verde e da calma sonora,
eu flutuava, feliz, ao teu meigo acalanto,
e os sonhos que afagava, então, a mil por hora,
vinham estimular-me o cérebro, entretanto.
És sempre o mesmo rio, as encantadas águas
Em que segues levando as delícias e as mágoas,
rolando ao mesmo tom, mesma tranquilidade.
Não mudaste... eu mudei... porém, se na memória,
revives, como eu, daquele tempo a história,
hás de estar, como estou... morrendo de saudade.
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RUA SÃO PEDRO
Nossa rua comprida, tão bonita...
Sobre a raiz da árvore eu sentava,
e quanta vez corri, chorosa e aflita,
quando um “bicho peludo” me queimava!
Bonito quando as tropas de boiada
ou de mulas, que vinham lá do Sul,
passavam lentas, em fila espaçada,
erguendo poeira para o céu azul!
Meus pais e alguns amigos, na calçada,
divertidos, a olhar a criançada,
sorviam goles de bom chimarrão.
E à noite, em roda, sob a luz da lua,
nosso riso inocente enchia a rua,
na cadência feliz de uma canção!
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Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Folhas esparsas: sonetos. Itu/SP: Ottoni, 2006.
Livro enviado pela poetisa.
Dorothy Jansson Moretti. Folhas esparsas: sonetos. Itu/SP: Ottoni, 2006.
Livro enviado pela poetisa.
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