domingo, 11 de dezembro de 2022

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro da Madragoa


À beira do Tejo, Madragoa sempre foi um local de cruzamento de raças e culturas diferentes, sem distinção, albergava os negros que amanhavam os campos e dava abrigo aos pescadores que fainavam no rio, e, na memória dos mais velhos, ainda ecoa o pregão das varinas.

A lenda conta que o bairro nasceu dos milhares de grãos de areia que as gaivotas transportaram para ali. A origem do nome perde-se no tempo. Há quem afirme que a palavra corresponde ao apelido de uma fidalga madeirense “Mandragam” ou que vem de “Madre de Goa”. Antes do terremoto, no século XVll, o bairro tinha o nome de “Moçambo” e não era mais do que uma pequena póvoa habitada essencialmente por pessoas de origem africana.

No passado, parte da Madragoa foi um aglomerado de conventos e palácios, onde viveram as Trinas, as Bernardas ou as Inglezinhas. Mas foram os trabalhadores que deram vida ao bairro. Entre os séculos XVlll e XlX, a população sofreu grandes alterações. Nessa altura, veio para Lisboa muita gente da região da ria de Aveiro, em especial de Ovar, daí o nome ovarinas. Comercializavam legumes frescos e peixe. Posteriormente, grande parte destas pessoas optou por ficar na Madragoa. Na maioria, eram casais de pescadores e varinas. Era habitual ouvi-las apregoarem o peixe de canastra à cabeça.

De entre muitas das obras arquitetônicas da Madragoa, destaca-se o Palácio dos Duques de Aveiro, a Casa dos Marqueses de Abrantes e a mais antiga e modesta das capelas lisboetas, a Capela dos Mártires. Também lá se encontra a Embaixada de França, onde Gil Vicente (depois do Castelo de São Jorge), deu início ao teatro português.

No coração do bairro, está a sede do Esperança Atlético Clube, fundado a 16 de Agosto de 1936. O clube organiza muitas iniciativas no campo cultural, como é o caso da Festa de São Martinho, do Dia da Criança ou da Festa de Natal. E desde 1982, o Esperança Atlético Clube é responsável pela organização das marchas populares da Madragoa. Em 1988, alcançou o Primeiro Prêmio de Canto e o segundo lugar na classificação global. No ano a seguir, o clube atingiu o quarto lugar da global e o Primeiro Prêmio de Coreografia.

MARCHA DA MADRAGOA
(Marcha Nova da Madragoa)

Letra de Frederico de Brito
Música de Raúl Ferrão


Hoje é que a marcha vai
Que a Madragoa é linda
Vai de chinela vai
Pois é varina ainda.
Leva um arco e um balão,
Perna ao léu, e toca a andar,
É que a Madragoa
Corre Lisboa
Sempre a cantar.

Uma varina tem
Um riso bom que alastra;
Se uma tristeza vem,
Cabe-lhe na canastra.
Arraiais de São João,
Quem os tem para nos dar?
Só este bairro infindo
Que é o mais lindo
Da beira mar.

Andam balões no ar,
Quem é que não alcança
A espr’ança de os achar,
Aqui na velha Espr’ança.
Dê a volta pelas Madres,
P’lo Castelo do Picão,
Venha bailar com ela,
À luz da vela
Do meu balão.

E se quiser cantar
O vira das varinas,
Já não precisa andar
Cantando pelas esquinas;
Vai pedir ao Guarda-Mor
Que lhe guarde uma qualquer,
Que lhe guarde uma qualquer,
Que tenha nos olhitos,
Os mais bonitos
Balões que houver.

(refrão)

Cabe toda a Lisboa
Na Madragoa
Que é pequenina;
E a Madragoa calma
Cabe na alma duma varina.

Sem que ninguém a gabe,
Tem não sei quê no jeito.
Só o meu bairro sabe,
Como ela cabe
Dentro do peito.

Colo da ave marinha
Olhos de tentação,
Sempre tão maneirinha
Cabe inteirinha
Num coração.


Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

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