quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Stanislaw Ponte Preta (A moça que foi a Paris)


Era uma vez uma mocinha. Não era dessas mocinhas de óculos não. Nem dessas que têm espinhas e as espinhas custam mais a sair do rosto e por isso elas vão sendo sempre as primeiras no colégio. Sim, porque – estranha coincidência - mocinha que tira primeiro na turma é sempre espinhenta.

Mas, voltando à mocinha desta história. Ela não tinha espinhas e nem usava óculos, também não precisava desses sutiãs que têm espuma de borracha para impressionar o eleitorado. Ela era muito bem feitinha de corpo. Tão bem feitinha que, um dia, sem que a família dela soubesse nem nada, saiu premiada pra rainha de já nem me lembro mais o que, com voto comprado.

Ela explicou depois que quem comprou os votos dela foi um "amiguinho".

A mocinha usava saia balonê, sabia dançar rock e falava um pouco de inglês (aprendido com oficiais de um porta-aviões que esteve aqui), mas o forte dela era ser soçaite. Ia nesses lugares bacanas, com deputados e gente bem, por causa de que ela era um bocado querida dessa gente. Por isso, foi uma surpresa para a família dela quando ela resolveu deixar essas futilidades pra lá e se dedicar à arte. Quem é de artimanha nunca se dá bem com arte - a gente costuma ouvir dizer. Mas com a mocinha, esta de que estamos falando, parecia ser diferente.

Ela chegou em casa e comunicou:

- Vou a Paris, aprender violino.

A família botou as mãos na cabeça (isto é, o pai botou a mão na cabeça, a mãe botou a mão na cabeça, o irmão mais velho - que já manjava as coisas - botou a mão na cabeça e diversas tias botaram a mão nas respectivas cabeças). Mas não adiantou nada, por causa de que ela manteve a coisa.

Quando quiseram saber onde ela ia arranjar dinheiro para a viagem e o curso de violino, ela explicou que ninguém precisava se preocupar; o tal "amiguinho" - que adorava violino - ia financiar tudo.

Então ela foi a Paris. Por estranha coincidência o amiguinho foi também, dias depois, e ela voltou feliz da vida.   

Não aprendeu a tocar bulhufas mas, em compensação, o filhinho que ela trouxe de lá, chama-se Violino. Numa homenagem.

Fonte:
Stanislaw Ponte Preta. Tia Zulmira e eu. 1961.

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