quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 16


A luz da fé, não se apaga,
por ser chama do Senhor!
Ela brilha e se propaga
até nas cinzas do amor!
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Chuva fina, noite calma,
e ao lado da solidão,
há mais saudade em minha alma
que gotas d'água no chão!
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Como imaginar, supor,
num sentido mais profundo,
que um vírus sem cara e cor
mudasse a cara do mundo?!...
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Como quem pedem socorro,
famintas e seminuas,
lá se vão descendo o morro
mais crianças pelas ruas!
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Depois que a tarde declina
e o véu da noite aparece,
Deus põe na prece divina
a luz da divina prece!
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Descobri que alguns queixumes
das ondas sempre a chorar,
é porque sentem ciúmes
das rochas beijando o mar!
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Em meio a uma luta intensa,
contra a ausência, o que me importa,
é ver que tua presença
puxou o trinco da porta!
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É muito bom, que se saiba,
que neste mundo de ateus,
não há reino, que não caiba
nas conchas das mãos de Deus!
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Escondi, no olhar aflito,
a dor, do instante do adeus!.,.
Mas vi, no olhar do infinito,
a aflição dos olhos meus!
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Na face, as crateras curvas,
que os anos todos nos dão...
São trilhas das águas turvas
por onde as mágoas se vão!
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Na intenção de protegê-las
de alguém que possa alcançá-las,
Deus pôs distante as estrelas
para o poeta exaltá-las!
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Na ampulheta desta vida,
o tempo crava as esporas,
e apressa a própria batida
dos passos cruéis das horas!
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Na velhice, não se esqueça,
dos mimos que o tempo traz;
Quanto mais branca a cabeça
mais brilha o branco da paz!
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Na vida há tantos hiatos,
reticências e deslizes
que às vezes, meus próprios atos,
nem sempre são tão felizes!
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Nossas mãos, já bem velhinhas,
pelo tempo, castigadas...
Carregam nas entrelinhas
nossa infância de mãos dadas!
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Nem sempre a aurora é de luz;
porque vejo em todo canto,
criança arrastando a cruz
da dor, da fome e do pranto!
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No espaço entre duas fendas,
uma aranha fiandeira
fez duas redes de rendas;
a dela e a da companheira!
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Numa dor desesperada,
no porto, o moleque arteiro,
viu que o mar trouxe a jangada
mas não trouxe o jangadeiro!
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Ó, tempo, atrevido e mudo,
por que finge que não passa?
Mas passou e apagou tudo
que escrevi no chão da praça!
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Por que prender na gaiola
um sabiá inocente,
se o canto dele consola
o pranto dele e o da gente?!...
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Quando o amor nos faz trapaça,
é qual duna que se alteia,
que cada vento que passa
muda o bordado da areia!
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Que voltes logo, eu te peço;
pois, teu lugar no meu ninho
a espera do teu regresso,
cansou de ficar sozinho!
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Rendeira, tu tens por lema
ser campeã nas contendas,
tecendo um lindo poema
com versos feitos de rendas!
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Se o teu adeus, ainda dói,
já tanto tempo depois...
É, que a distância, ainda rói
o que restou de nós dois!
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Vi naquela cruz aflita
me acenando entre os escombros,
que aquela cruz tão bonita
fotografava os meus ombros!
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Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

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