sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Irmãos Grimm (Os duendes)


Um sapateiro tinha ficado muito pobre, sem que lhe coubesse a culpa. E por fim só lhe restava um pedaço de couro, para um único par de sapatos. Cortou-o à noite, a fim de aprontá-lo na manhã seguinte e, como tinha a consciência tranquila, deitou-se calmamente, fez as sua orações e adormeceu.

No outro dia, depois da prece matinal, quando ia sentar-se para iniciar o trabalho, viu os sapatos, prontinhos, em cima da mesa. Ficou assombrado, sem encontrar explicação para aquilo. Tomou-os na mão e examinou-os cuidadosamente. Haviam sido feitos com tal capricho, sem nenhum ponto errado, que pareciam uma verdadeira obra de arte.

Logo depois entrou um freguês e, como os sapatos lhe agradassem muito, pagou mais por eles. Com esse dinheiro, o sapateiro pode comprar couro para dois pares. Cortou-os à noite, disposto a trabalhar neles no dia seguinte. Mas não foi preciso: ao levantar-se, lá estavam eles, prontinhos da silva. E também não faltaram os compradores, que lhe deram dinheiro suficiente para que adquirisse couro para quatro pares. Também a esses ele encontrou terminados no outro dia. E assim continuou acontecendo. O calçado que cortava à noite, encontrava concluído na manhã seguinte. Começou a ter boa renda e, por fim, tornou-se um homem rico.

Certa noite, pouco antes do Natal, o sapateiro, que já havia cortado o couro para o próximo dia, antes de deitar-se, disse à mulher:

- Que tal se esta noite ficássemos acordados para ver quem nos presta tão grande auxílio?

A mulher concordou e foi acender uma vela. Depois o casal escondeu-se num canto da sala, atrás de umas roupas ali penduradas.

Ao soar a meia-noite, apareceram dois ágeis e graciosos homenzinhos, muito pequeninos e sem roupa alguma, que se sentaram à mesa do sapateiro. Apanharam todo o couro cortado e, com seus dedinhos, se puseram a costurar, bater e puxar e foi com tanta ligeireza que o sapateiro, assombrado, mal podia acreditar nos seus olhos. Não cessaram até que tudo estivesse pronto e depois desapareceram rapidamente.

No dia seguinte, a mulher disse:

-  Os anõezinhos nos tornaram ricos e devemos mostrar-lhes a nossa gratidão. Com certeza sentem muito frio, andando assim nuzinhos, sem nada em cima do corpo. Sabes de uma coisa? Farei para cada um deles uma camisinha, um casaco, colete e calça, e um par de meias de tricô. Tu poderás fazer-lhes uns sapatos.

Ao que lhe respondeu o homem:

– Parece-me boa ideia!

E, à noite. em vez de couro cortado, puseram os presentes sobre a mesa; depois esconderam-se para ver o que fariam os homenzinhos.

À meia-noite chegaram eles, saltitando, e logo se dispuseram a começar  o trabalho. Quando porém, em vez de couro cortado, encontraram as graciosas peças de roupas, ficaram no princípio admirados, mas logo mostraram imensa alegria. Vestiram-se com incrível rapidez e, alisando as roupas no corpo, puseram-se a cantar:

Não somos rapazes bonitos e elegantes?
Por que continuarmos sapateiros como antes?

Depois saltaram e dançaram, brincando em cima de cadeiras e bancos. Por fim saíram dançando porta fora. Desse dia em diante, nunca mais apareceram. Mas o sapateiro viveu bem pelo resto de sua vida e sempre teve sorte em todos os negócios que fez.

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