segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

George Abrão (Amigos anônimos)


Numa rua próxima à que eu moro, aqui em Maringá, existe uma casa de família japonesa da qual fazia parte uma senhora bastante idosa, muito simpática, que ficava sempre no jardim da residência. Como eu sempre faço o mesmo trajeto para ir ao mercado ou a feira, a cada vez que voltava com alguma compra e passava frente à sua casa, eu a cumprimentava e ela, muito alegre, me perguntava:

- Foi fazer compras para esposa?

À minha resposta afirmativa, ela dizia:

- Que bonito “ere”, esposa gosta muito, não?

E emendava:

- É “aremão”?

E eu:

- Não, minha senhora, sou descendente de árabes!

- Árabe? - Ela dizia - Não parece! Achei que era “aremão”!

E isso acontecia sempre que ela me via, sendo o diálogo também mais ou menos igual. Passado algum tempo eu já estranhava quando não a via, pois a simpatia da senhora nipônica era contagiante. Só que nunca perguntei o seu nome, nem ela perguntou o meu, tornamo-nos amigos anônimos.

De repente, parei de vê-la e achei que estivesse viajando. Só que, depois de muitos dias, comentei com a minha esposa sobre a ausência da minha amiga e ela resolveu conversar com uma nossa vizinha, também japonesa, e perguntar sobre a velha senhora.

Aí tivemos a triste notícia que ela havia falecido já há algum tempo, exatamente na época que parei de vê-la.

Agora, a cada vez que passo diante da residência da família, lembro-me com saudade da minha amiga, e peço a Deus que lhe tenha dado o bom lugar que ela merecia.

Fonte:
George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017.
Ebook enviado pelo autor.

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