Ana Amélia
O BAMBUAL
A brisa passa e o bambual murmura...
Porém tão mansamente que parece
um gemido, uma súplica, uma prece,
esse murmúrio cheio de ternura.
Subitamente a brisa em vento cresce.
Tolda-se o céu, um raio já fulgura.
Então o bambual ruge, em tortura;
a chuva torrencial sobre ele desce.
Enroscam-se os bambus convulsamente,
varrendo o chão ao peso da torrente.
Enorme vegetal! Domado agora,
tem os uivos de dor de um leão ferido;
mas eu leio, através do teu rugido,
que tens um coração que pulsa e chora.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
Antônio Siqueira
ALEGRIA DE VIVER
Deixo a inquietude da constante lida,
em busca de beleza e de esplendor;
e, assim, de alma liberta, nesta vida,
para os teus braços corro, meu amor!
É a ventura que, agora, me convida
a desfrutar a primavera, em flor,
dos teus carinhos que me dão guarida
e dos teus beijos, onde há mais sabor!
Nunca é tarde demais para querer,
quando se tem o coração sorrindo
na sublime alegria de viver.
E, em te querendo, como sempre quis,
nessa felicidade me iludindo,
sou, dos mortais, o menos infeliz.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
Augusta Campos
MÃOS
Tenho saudade de umas mãos amigas,
mãos de silêncios doces e eloquentes,
mãos que teciam versos e cantigas
na luz dourada e mística dos poentes.
Resta-me, agora, o peso das fadigas.
E, agora, em minhas mãos sós e frementes,
em vez da ardência das paixões antigas,
sinto horas frias de emoções ausentes.
Mãos amigas, amantes, namoradas,
mãos que embalaram ternas madrugadas
e acalentaram formas e segredos.
Em minhas mãos morreram primaveras.
E eu tenho, agora, inverno e vãs esperas
e saudades chorando nos meus dedos.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
Barreto Filho
SONETO
O teu caminho é longo, e hás de, triste e cansada,
repousar num vergel que do fim muito diste.
É longo o meu caminho, e hei de, cansado e triste,
dormir onde não for ainda uma pousada.
No meu lento pendor eu tenho a alma fanada,
mas nessa luta vã meu coração resiste.
E tu, tu que a princípio aos álamos sorriste,
estás pálida assim ao meio da jornada.
Pelo mesmo caminho ambos juntos seguimos...
O teu trêmulo andar é um voo de alegrias,
e enches cada rosal de carícias e mimos.
Tu não me olhavas nunca, e eu também não te olhava;
e, contudo, eu fiquei sabendo que sorrias,
e ficaste também sabendo que eu chorava.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
Barreto Sobrinho
CONSELHOS... CONSELHOS...
Quando eu, aflito e desolado, faço
um fervoroso apelo, aos que andam rindo,
e peço apoio a um poderoso braço,
para acalmar o meu martírio infindo,
dão-me conselhos... e se vão fugindo...
—“Tenha calma (diz um), este embaraço
há de ter fim...” E alegre vai seguindo,
desfrutando a fortuna, a cada passo...
—“Seja forte (diz outro), tudo passa...”
E eu, a ficar aqui, nesta desgraça,
no mesmo estado, no feral castigo!...
Só minha mãe já não me dá conselhos!...
Vendo de pranto os olhos meus vermelhos,
inclina o colo e vem chorar comigo!...
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
Caio Maranhão
SÓCRATES
Sócrates, o mais justo e sincero dos sábios
do seu tempo, que é bom e sensato e erudito,
com o riso da inocência a transbordar dos lábios,
impassível, enfrenta o tribunal de Anito...
Depois — segundo consta em velhos alfarrábios —
condenado a morrer sem provas de delito,
com sublime altivez, sem ódios nem ressábios,
exproba a acusação iníqua de Melito!
E brada Apolodoro, em fúria, após a liça:
— “Já não suporto mais a dor que isso me custa!
É falso o veredito! É torpe essa justiça!"
E Sócrates, divino, erguendo a fronte augusta,
profere esta lição esplêndida e castiça:
"— E queres que a sentença, acaso, seja justa?!...”
ALEGRIA DE VIVER
Deixo a inquietude da constante lida,
em busca de beleza e de esplendor;
e, assim, de alma liberta, nesta vida,
para os teus braços corro, meu amor!
É a ventura que, agora, me convida
a desfrutar a primavera, em flor,
dos teus carinhos que me dão guarida
e dos teus beijos, onde há mais sabor!
Nunca é tarde demais para querer,
quando se tem o coração sorrindo
na sublime alegria de viver.
E, em te querendo, como sempre quis,
nessa felicidade me iludindo,
sou, dos mortais, o menos infeliz.
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Augusta Campos
MÃOS
Tenho saudade de umas mãos amigas,
mãos de silêncios doces e eloquentes,
mãos que teciam versos e cantigas
na luz dourada e mística dos poentes.
Resta-me, agora, o peso das fadigas.
E, agora, em minhas mãos sós e frementes,
em vez da ardência das paixões antigas,
sinto horas frias de emoções ausentes.
Mãos amigas, amantes, namoradas,
mãos que embalaram ternas madrugadas
e acalentaram formas e segredos.
Em minhas mãos morreram primaveras.
E eu tenho, agora, inverno e vãs esperas
e saudades chorando nos meus dedos.
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Barreto Filho
SONETO
O teu caminho é longo, e hás de, triste e cansada,
repousar num vergel que do fim muito diste.
É longo o meu caminho, e hei de, cansado e triste,
dormir onde não for ainda uma pousada.
No meu lento pendor eu tenho a alma fanada,
mas nessa luta vã meu coração resiste.
E tu, tu que a princípio aos álamos sorriste,
estás pálida assim ao meio da jornada.
Pelo mesmo caminho ambos juntos seguimos...
O teu trêmulo andar é um voo de alegrias,
e enches cada rosal de carícias e mimos.
Tu não me olhavas nunca, e eu também não te olhava;
e, contudo, eu fiquei sabendo que sorrias,
e ficaste também sabendo que eu chorava.
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Barreto Sobrinho
CONSELHOS... CONSELHOS...
Quando eu, aflito e desolado, faço
um fervoroso apelo, aos que andam rindo,
e peço apoio a um poderoso braço,
para acalmar o meu martírio infindo,
dão-me conselhos... e se vão fugindo...
—“Tenha calma (diz um), este embaraço
há de ter fim...” E alegre vai seguindo,
desfrutando a fortuna, a cada passo...
—“Seja forte (diz outro), tudo passa...”
E eu, a ficar aqui, nesta desgraça,
no mesmo estado, no feral castigo!...
Só minha mãe já não me dá conselhos!...
Vendo de pranto os olhos meus vermelhos,
inclina o colo e vem chorar comigo!...
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Caio Maranhão
SÓCRATES
Sócrates, o mais justo e sincero dos sábios
do seu tempo, que é bom e sensato e erudito,
com o riso da inocência a transbordar dos lábios,
impassível, enfrenta o tribunal de Anito...
Depois — segundo consta em velhos alfarrábios —
condenado a morrer sem provas de delito,
com sublime altivez, sem ódios nem ressábios,
exproba a acusação iníqua de Melito!
E brada Apolodoro, em fúria, após a liça:
— “Já não suporto mais a dor que isso me custa!
É falso o veredito! É torpe essa justiça!"
E Sócrates, divino, erguendo a fronte augusta,
profere esta lição esplêndida e castiça:
"— E queres que a sentença, acaso, seja justa?!...”
Fonte:
Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.
Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.
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