sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Jaqueline Machado (A Casa dos Espíritos)


Quanto vive o homem afinal? Vive mil anos ou um só? Vive uma semana ou vários séculos? Por quanto tempo morre o homem? O que significa para sempre?

É com essa instigante epígrafe que se dá o início da obra "A Casa dos Espíritos" da chilena Isabel Allende.

A trama trata sobre as trajetórias de duas famílias que formam os pilares da história. O primeiro pilar é a abastada e importante família Del Valle, de Severo e Nívea (que significa neve). Somos apresentados à família Del Valle quando Severo e Nívea se sentam em uma igreja sufocante com seus onze filhos vivos e ouvem o sermão cheio de fogo e enxofre de um padre.

Severo, o pai, aspirante a político, e a mãe, Nívea, lutavam pelo direito ao voto das mulheres. A família Del Valle tem lugar de destaque na sociedade. Eles têm duas filhas: Rosa, a imaculada, com os cabelos verdes, e Clara, que era uma clarividente que se comunicava com o outro mundo, e anotava suas memórias em cadernos.

No outro pilar, a família Trueba, a viúva Ester e os filhos Esteban e Férula se unem para unir Esteban e Clara para formar uma nova família que habitará a grande casa da esquina, no chamado Bairro Alto, onde viviam os afortunados da sociedade,

A casa dos espíritos é uma trama que mistura realidade, espiritualidade e fantasia.

A realidade é demonstrada ao reclamar as desigualdades perturbadoras da sociedade. E o eterno equilibrar-se entre as coisas do mundo físico representada pela rudez e materialismo do fazendeiro Esteban, e as coisas do espírito, representadas pelas intuições e clarividências de Clara, principalmente, depois, ao se tornarem um casal. E a fantasia surge mágica no aspecto físico de Rosa: a bela! Que possuía uma beleza perturbadora, parecia ter sido feita de uma matéria diferente da raça humana. Quando nasceu, a parteira deu um grito de espanto, Rosa era branca, lisa, como uma boneca de porcelana, com o cabelo verde e os olhos amarelos. A criatura mais linda desde os tempos do pecado original, disse a parteira se benzendo.

Ao crescer, a beleza acentuou-se ainda mais. Quando moça, sua pele azulada, os cabelos amarelos, os gestos silenciosos, ofereciam-lhe uma graça marítima, tinha qualquer coisa de peixe... Parecia um ser mitológico. E o cachorro da família, Barrabás, que ao crescer, agigantou-se, também faz alusão à fantasia do livro.

Se violência e atividade são traços masculinos, gentileza e passividade são traços femininos, “A Casa dos Espíritos” mostra que isso não significa que os homens realizam coisas e mudam fatos. Pelo contrário, as mulheres na “Casa dos Espíritos” efetuam mudanças mais duradouras e drásticas do que qualquer um dos homens. Ao passo em que os homens lideram revoluções que derrubam governos, os dons femininos promovem feitos mais duradouros.

A Casa dos Espíritos é uma obra que nos faz refletir sobre o tempo e suas dimensões, sobre o que é finito ou infinito, sobre o que é corpo, o que é espírito, sobre o que é capaz de desassociar o que é magia, do que é real. Será que nos reinos universais, os conceitos de bom e ruim existem?

Na minha humilde opinião aliada à febre do meu inquietante sentir, diz... Todos os tipos de reinos e vidas existem, e suas energias habitam em nós, senão, jamais seriam imagináveis. Só é possível imaginar o que existiu, existe ou existirá... Os olhos da alma não podem imaginar o que de fato é desconhecido...

Fonte:
Texto enviado pela autora.

Nenhum comentário: