quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Leon Eliachar (A solução)


Marilene completou dezoito anos, disse para o pai:

— De hoje em diante, vou trabalhar. Quero ser uma moça independente.

E mergulhou no mundo dos anúncios classificados, deixando-se envolver pela avalanche de promessas: “Procura-se moça bonita para serviço de futuro imediato”. Só quando chegou lá foi que viu que o seu futuro não era tão imediato assim. “Procura-se moça que tenha sorriso bonito, olhos bonitos, lábios bonitos e cabelos bonitos, para fotografias.” Só então descobriu que não era fotogênica. “Procura-se jovem de dezoito anos para fazer companhia a um senhor de cinquenta. Exigem-se referências.” Marilene entendia cada vez menos de anúncios: não atinava por que um velho de cinquenta exigia referências de uma moça de dezoito.

Lápis vermelho na mão, gilete na outra, ia riscando e recortando as futuras decepções. Saía cedo de casa, voltava exausta, dizia para o pai:

— Até agora, nada.

E o pai:

— Filha minha só é independente depois que recebe o primeiro salário.

Em menos de uma semana, Marilene abandonou o ilusório mundo dos “procura-se” e passou a se dedicar ao complicado mundo dos “oferece-se”. Dias e dias bolando a forma de redigir o seu próprio anúncio: “Oferece-se, moça de dezoito anos”, parou um pouco, pensou em que atividade gostaria de se empregar. Seu sonho era ser manequim, desfilar para as grandes casas de moda, mas não tinha altura. Pensou em ser datilografa, mas não sabia escrever à máquina. Pensou em ser secretária de uma firma americana, mas não sabia inglês. Pensou em ser artista de cinema, mas não tinha vocação. Pensou em ser decoradora, mas não tinha a menor aptidão para a arte. Olhou de novo para o anúncio que estava redigindo, concluiu:

— Vai assim mesmo.

No dia seguinte, saiu o anúncio: “Oferece-se, moça de dezoito anos”. Seu telefone não parou. Hoje, Marilene é uma moça completamente independente, com mais de quinze empregos.

Fonte:
Leon Eliachar. A mulher em flagrante. Publicado em 1965.

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