sábado, 10 de dezembro de 2022

Cecim Calixto (Cajado de Sonetos) IX


AOS CÃES LANTERNAS

Cadela linda sem nenhum pecado
Logrou a mim ao conceber sem pejo.
Pois, na hora extrema me faltou cuidado
E foi em vão querer frustrar o ensejo.

Ante o cenário me manti calado
Quase perplexo pelo seu desejo.
Minha alegria e a comoção do agrado
Foi ter as vidas que sorrindo vejo.

Sempre ao seu lado vi nascer os sete
Acomodados em macio carpete
Sob o carinho da guardiã materna.

Sei que os caminhos o destino muda
E no futuro eu terei a ajuda
E a proteção da singular lanterna.
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CONFIDÊNCIAS

Não te esqueças, desesperado espero,
Vencer a vida sem morrer primeiro.
Por seres tu a musa que venero
Jamais farei o teu formal letreiro.

Na minha alcova, sabes bem, não quero
Nenhum intruso como meu parceiro!
Pois o lugar é teu, amor, e vero
Desejo antigo do mortal troveiro.

Um pé de murta já plantei. Florindo
Irá sombrear o nosso lar infindo
E perfumar nosso modesto abrigo,

E as nossas almas da estelar altura
Serão autoras do laurel ternura
Sobre o concreto do eternal jazigo.
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O PEREGRINO

Quando nasceu o menestrel maior
No altar de palha recendeu a essência.
Ditosos reis fiéis ao seu redor,
Viram a estrela reluzir clemência.

A natureza a repetir de cor
O musical da divinal regência
E se escutava da capela mor
A anunciação da singular vivência.

Debruça o mundo sobre o berço pobre
Em honrarias ao menino nobre
Que transluzia o seu viver por nós.

E num roteiro de esperança e luz...
Fez alegria e não chorou na cruz,
Nem desprezou a multidão atroz.
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O PODER SUPREMO

Em frente à minha casa tem pinheiro
Apedrejado, mas ninguém reclama!
Tem flor da noite no caminho inteiro
Que ao trovador adora e o peito inflama.

No campo o quero-quero, herói guerreiro,
Defende o ninho na copiosa grama.
Somente o amor do nosso amado Obreiro
Tem o poder de amenizar o drama.

O mundo chora o depravado efeito;
Mas a natura já perdeu o jeito
De castigar a multidão ousada.

Por isto exijo meu espaço justo
Para afrontar o predador vetusto,
Usando o verso - a flamejante espada.
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PRESERVAR! PRESERVAR!

Jacarandá - meu caro irmão nativo,
Tenho-o no meu sítio onde plantei café.
E como filho quero tê-lo vivo
Com devoção, denodo e muita fé.

Toda elegância do seu porte altivo,
Dá sombra amena sobre o meu chalé.
O seu retrato numa tela arquivo
Com a legenda de imortal, até.

Que esta paixão pela floresta cresça
E todo humano da erosão se esqueça
Porque este mal já faz doer a vista.

Que a massa verde seja sempre viva
Sem aceitar qualquer venal deriva,
Para que a vida no futuro exista.

Fonte:
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.

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