AOS CÃES LANTERNAS
Cadela linda sem nenhum pecado
Logrou a mim ao conceber sem pejo.
Pois, na hora extrema me faltou cuidado
E foi em vão querer frustrar o ensejo.
Ante o cenário me manti calado
Quase perplexo pelo seu desejo.
Minha alegria e a comoção do agrado
Foi ter as vidas que sorrindo vejo.
Sempre ao seu lado vi nascer os sete
Acomodados em macio carpete
Sob o carinho da guardiã materna.
Sei que os caminhos o destino muda
E no futuro eu terei a ajuda
E a proteção da singular lanterna.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
CONFIDÊNCIAS
Não te esqueças, desesperado espero,
Vencer a vida sem morrer primeiro.
Por seres tu a musa que venero
Jamais farei o teu formal letreiro.
Na minha alcova, sabes bem, não quero
Nenhum intruso como meu parceiro!
Pois o lugar é teu, amor, e vero
Desejo antigo do mortal troveiro.
Um pé de murta já plantei. Florindo
Irá sombrear o nosso lar infindo
E perfumar nosso modesto abrigo,
E as nossas almas da estelar altura
Serão autoras do laurel ternura
Sobre o concreto do eternal jazigo.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
O PEREGRINO
Quando nasceu o menestrel maior
No altar de palha recendeu a essência.
Ditosos reis fiéis ao seu redor,
Viram a estrela reluzir clemência.
A natureza a repetir de cor
O musical da divinal regência
E se escutava da capela mor
A anunciação da singular vivência.
Debruça o mundo sobre o berço pobre
Em honrarias ao menino nobre
Que transluzia o seu viver por nós.
E num roteiro de esperança e luz...
Fez alegria e não chorou na cruz,
Nem desprezou a multidão atroz.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
O PODER SUPREMO
Em frente à minha casa tem pinheiro
Apedrejado, mas ninguém reclama!
Tem flor da noite no caminho inteiro
Que ao trovador adora e o peito inflama.
No campo o quero-quero, herói guerreiro,
Defende o ninho na copiosa grama.
Somente o amor do nosso amado Obreiro
Tem o poder de amenizar o drama.
O mundo chora o depravado efeito;
Mas a natura já perdeu o jeito
De castigar a multidão ousada.
Por isto exijo meu espaço justo
Para afrontar o predador vetusto,
Usando o verso - a flamejante espada.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
PRESERVAR! PRESERVAR!
Jacarandá - meu caro irmão nativo,
Tenho-o no meu sítio onde plantei café.
E como filho quero tê-lo vivo
Com devoção, denodo e muita fé.
Toda elegância do seu porte altivo,
Dá sombra amena sobre o meu chalé.
O seu retrato numa tela arquivo
Com a legenda de imortal, até.
Que esta paixão pela floresta cresça
E todo humano da erosão se esqueça
Porque este mal já faz doer a vista.
Que a massa verde seja sempre viva
Sem aceitar qualquer venal deriva,
Para que a vida no futuro exista.
Fonte:
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário