quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro da Marvila


As hortas e as pequenas quintas desapareceram em poucas décadas, com o advento da industrialização. As fábricas e as vilas operárias moldaram a paisagem de Marvila e o caráter da sua gente. Hoje, Marvila é um bairro a descobrir com urgência.

O sítio de Marvila, tão velho quanto a fundação da nacionalidade, é dos bairros mais típicos da zona oriental da cidade de Lisboa. Até o século XlX, sucediam-se agradáveis quintas nesta vasta zona de Lisboa e era grande a fertilidade das terras banhadas pelo Tejo. Por isso, Marvila era, até há pouco tempo, uma freguesia essencialmente rural, onde proliferavam as quintas e as hortas. Ainda hoje, os exemplos são fáceis de detectar: a Quinta dos Ourives, a da Rosa, a das Flores, a das Amendoeiras, a do Leal, a do Marquês de Abrantes ...

Estas propriedades eram exploradas, na sua maioria, por gente originária do norte do País, e abasteciam os mercados ambulantes espalhados pelo bairro e pela vizinhança e, mais tarde, por toda a Capital.

Ao antigo mercado da Praça da Ribeira, a mercadoria chegava transportada por carroças. Essa população originária do norte trouxe muitos dos seus hábitos e costumes, nomeadamente, a Feira da Espiga, que deve ter origem num costume dos hortelões nortenhos. Mas, de zona rural, Marvila transformou-se, com o passar dos anos, em zona urbana de fisionomia bairrista e fabril. Todavia, ainda hoje se vêem vestígios de uma grande atividade hortícola.

O Palácio do Marquês de Abrantes, na Rua de Marvila, ou o Palácio da Mitra, na Rua do Açúcar, são verdadeiros exemplos dos vários solares que ali foram edificados. Também os monumentos de caráter religioso abundavam, como o antigo Mosteiro de Marvila.

No século XX, continuou a instalação de unidades fabris desde a Rua do Açúcar até Braço de Prata. São deste período as tanoarias da Rua Capitão Leitão e os armazéns de vinhos de Abel Pereira da Fonseca (que, pouco antes de morrer disse aos seus descendentes: “enquanto o Tejo tiver água, nunca deve faltar vinho a Lisboa”). Hoje, estes armazéns estão transformados em centros culturais.

A atual Marvila, freguesia criada em 1959, é bem significativa da zona periférica de uma grande cidade europeia em franco crescimento. Beneficiou, consideravelmente, com a realização do grande evento que foi a Expo 98.

A Sociedade Musical nasceu a 3 de Agosto de 1885, em pleno Poço do Bispo, tendo sido transferida pouco tempo depois para o Pátio Marquês de Abrantes, vulgarmente conhecido como Pátio do Colégio. Esta coletividade centenária tem vindo assistir, do interior do seu palácio medieval, à vertiginosa transfiguração do seu bairro, em parte devido à realização da Expo 98.

Contudo, no pátio onde está instalada a sua sede, o cariz e as tradições ainda continuam populares. A Sociedade Musical que organiza a Marcha de Marvila, representa orgulhosamente na Avenida da Liberdade toda a área das freguesias de Marvila e do Beato.
 
MARCHA DE MARVILA
(Milenar Marvila)


Letra de Mário Silva
Música de Álvaro Martins


1ª Estrofe
Imaginação, futuro!...
Milênios, passados são!...
Outro tempo e outro mundo:
Marvila, quer tradição!
Foguetão vem do futuro
Pelo tempo viajando.
E, atravessando o “muro”,
Procura a animação.

1º Refrão
Santo António milagreiro
Como amigo e companheiro
Deslumbra’mente surgiu
Com resplendente clarão!
E o santo do passado,
Como um novo coração
Pro futuro é transportado
Já a dar inspiração !
(BIS)

2ª Estrofe
Este foguetão parou
Aterrando no passado!...
Veio ouvir os sons da alma
De novo, ser programado!
E surge um milagre novo!...
E tudo se transformou!...
Os “robots” já são o povo
Que a marcha antiga adaptou!

2º Refrão
De joelhos, o futuro
Pede ao Santinho perdão!
Por ter esquecido que a alma
É raiz da tradição.
Marvila aqui presente
Nesta festa popular:
Vê o terceiro milênio
A apar’cer e a raiar!
(BIS)

 
Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

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