Fugindo ao clima intolerável da cidade, os dois amigos inseparáveis resolveram passar, este anuo, o verão em Paquetá. As dificuldades, como era natural, foram enormes. Ao fim de algum tempo encontraram, porém, duas casas na mesma praia, as quais se comunicavam pelo quintal, e foram alugadas, não só entre as demonstrações de alegria de D. Adalgiza, esposa do Dr. Archimedes, como entre as de D. Eleonora, mulher do tenente Pedreira.
- Magnífico! - aplaudiu a primeira, batendo as mãozinhas finas, brancas, de dedos afilados.
- Esplêndido! - confirmou a segunda, com as mesmas demonstrações de contentamento.
Mudados para a ilha encantadora, saíram os dois casais, uma tarde, a passeio, juntando conchas pela praia, até que foram ter ao local em que se levanta, entre a terra e o mar, um penedo de três ou quatro metros de altura, em cujo cimo se amontoava uma infinidade de pedras pequeninas, equilibrando-se com dificuldade.
- Olha, ali! Que é aquilo? - exclamou D. Eleonora, radiante com aquela vida de liberdade, apontando, com a sombrinha fechada, no rumo da pedra.
- Ah! É a "pedra dos namorados"! - explicou o Dr. Archimedes. - Essa pedra tem uma história curiosa.
E contou:
- É corrente aqui, na ilha, que este rochedo anuncia os casamentos. Os namorados que passam por aqui, atiram-lhe ao cimo uma pedra pequena, uma concha, ou coisa semelhante. Se ficar lá em cima, a pessoa terá de casar-se; se não, se a pedra rejeitar o objeto atirado, fazendo-o rolar para o chão, é sinal de que a pessoa não se casará.
- Que graça! - rouxinoleou, rindo, Dona Adalgiza.
E, voltando-se para os companheiros:
- Vamos experimentar?
- Mas... nós já estamos casados! - obtemperou a amiga.
- Não faz mal. Vamos!
Apanhados quatro seixos, aproximaram-se do penedo, e atiraram, cada um por sua vez. O primeiro ficou. O segundo, igualmente. O terceiro, da mesma forma. O quarto, também.
- Todos ficaram! - exclamou, com a sua jovialidade infantil, a linda D. Eleonora.
E acentuou, espichando-se, nas pontas dos pés:
- Olhem: a minha pedrinha ficou junto da do Dr. Archimedes, e a da Aldagiza bem juntinho da do Pedreira!
O tenente olhou, sério, o bacharel. O bacharel fitou, grave, o tenente. Sorriram, os dois.
E continuaram, os quatro, o seu passeio, apanhando, felizes, na areia úmida, as pequeninas conchas da praia…
Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.
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