Urbe antiga, povoada pelo mouros escorraçados pela conquista cristã da cidade. A Mouraria é um labirinto de ruas que sobem da Praça do Martim Moniz em direção ao Castelo de São Jorge. Tão estreitas que, por vezes, o sol apenas consegue espreitar com esforço.
Tão antigo como a nacionalidade, o bairro da Mouraria, após a conquista de Lisboa, em 1147, por D. Afonso Henriques, foi o local escolhido para albergar os mouros que se mantiveram na cidade. Era um território próprio que formava um núcleo populacional afastado dos cristãos. Mas antes da vitória dos cruzados, toda aquela zona era formada por hortas e terras de cultivo.
Os mouros dedicavam-se ao fabrico de azeite e à olaria, ofícios de que restam ainda alguns vestígios, como os velhos lagares. No reinado de D. Manuel l, com a expulsão dos mouros e dos judeus, uma parte do bairro alojou populações cristãs, formando-se assim uma Mouraria a que podemos chamar aristocrática, onde se incluem o Coleginho – o primeiro colégio jesuíta do mundo - a Igreja de São Lourenço e o Palácio da Rosa.
O bairro ganhou má fama quando os marginais e as prostitutas passaram a ser frequentadores assíduos. Como, em regra, uns e outros se dedicavam ao fado, acabou por nascer a fama de que a Mouraria, o fado “canalha”, as cenas de facada e malandragem estavam ligadas por uma espécie de “cordão umbilical”.
Não é possível falar da Mouraria e da Rua do Capelão sem recordar a Severa, célebre fadista que ali morou e morreu com apenas 26 anos de idade.
O labirinto de ruas que compunha a parte baixa da Mouraria desapareceu na primeira metade do século XX, dando lugar ao espaço que é hoje o Largo de Martins Moniz. Com elas desapareceram: a antiga Igreja Paroquial, o Palácio do Marquês do Alegrete e o respectivo Arco.
O Grupo Desportivo da Mouraria, fundado em 1 de Maio de 1936, e que se transformou numa das mais populares e castiças coletividades de Lisboa, organiza a marcha da Mouraria. Neste grupo, em tempos chamado os "Leões da Mouraria", pratica-se luta greco-romana, ginástica, boxe, futebol e tênis de mesa. A coletividade continua a ter como principais objetivos promover o desporto e a cultura. E, neste último caso, o expoente máximo são as sessões na famosa “Catedral do Fado Vadio”.
MARCHA DA MOURARIA
(Boêmia e Fadista)
(Boêmia e Fadista)
Letra de Ester Jesus Correia
Música de José Manuel Jesus
Música de José Manuel Jesus
Em todos os bairros de Lisboa,
O amanhecer
É fonte da nossa inspiração,
Mas Mouraria
Tu és o verso
Sempre perfeito da nossa canção.
Da guia até às olarias
Gente boa,
Um bairro que acorda a sorrir
És mouraria
És de Lisboa
És sempre dança
E a noite a cair.
Salta a fogueira
Dança a marcha e canta o fado,
Convida um beijo
É noite de Santo António.
Tenho um desejo
De acender um balão, pois então!
E de fazer amor
Sempre a teu lado.
Salta a fogueira
Dança a marcha e canta o fado,
Convida um beijo
É noite de Santo António.
Tenho o desejo
De acender um balão, pois então!
No meio do arraial.
Janelas abertas pra ver
A marcha passar,
As quadras com um sabro bairrista
Saem dos cravos
Dos mangericos
Feitas de sonho, grito de um fadista.
A boemia é sina de viver
Na mouraria,
Lisboa de voz sentida e quente
É uma chama
É um alento
É madrugada
De um povo que sente.
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