sábado, 17 de abril de 2021

A. A. De Assis (Maringá Gota a Gota) A primeira revista de Maringá


“A redação era a casa de cada um de nós”

Criador da primeira revista de Maringá, Antonio Augusto Assis, viveu os entraves do início dos impressos do interior. Mais conhecido por assinar seus textos como A. A. de Assis, o professor aposentado pelo departamento de Letras da UEM (Universidade Estadual de Maringá), jornalista e escritor por paixão, Antonio Augusto de Assis, idealizou a Maringá Ilustrada, primeira revista de Maringá.

Nasceu em São Fidélis, interior do Rio de Janeiro, 285 km da capital carioca. Migrou em direção ao Sul ainda jovem, passando, primeiro, por Bauru (SP) e só em janeiro de 1955 Assis mudou-se para Maringá. Seu primeiro contato com o jornalismo foi aos 16 anos, quando escreveu um artigo para o jornal O Fidelense. Ele já passou por diversos periódicos maringaenses, entre os quais A Hora, O Jornal de Maringá, A Tribuna de Maringá, A Folha do Norte do Paraná e na primeira revista, a Maringá Ilustrada, que depois se chamou Norte do Paraná. Também trabalhou na Rádio Cultura.

Assis conversou com a equipe do jornal Matéria Prima. Contou como foi fazer a primeira revista de Maringá e as “aventuras” de noticiar os fatos da cidade e do interior do Paraná.

Confira abaixo:

1) A Maringá Ilustrada foi uma revista comemorativa. Como surgiu a ideia de fazer o que viria a ser a primeira revista da cidade?

- Aristeu Brandespim era um colega e contador de Maringá e resolveu me chamar para criar a revista. Ele era sonhador e quis fazer a revista para comemorar os dez anos de Maringá. Convidou a mim e Ary de Lima, a primeira safra do jornalismo da cidade. Primeiro, Aristeu começou a vender anúncios, para garantir que a publicação fosse para as ruas. E a gráfica era em São Paulo, porque aqui não tinha. Enquanto ele vendia publicidade, a gente [Assis e Ary de Lima] escrevia a história dos primeiros dez anos de Maringá, registrando a vida dos pioneiros que fundaram o município. Posso dizer que fizemos o primeiro registro histórico da cidade.

2) E a cidade tinha potencial jornalístico nessa época?


- A cidade tinha cerca de 30 mil habitantes. Não tinha potencial. Ela tinha mais peito do que potencial. As pessoas que vieram, arriscavam tudo para fazer de Maringá uma boa cidade para se viver. Na revista a gente se reservou a escrever mais a história do que realmente notícias, porque aqui não acontecia muita coisa. Eu ajudei a publicar, no que pode se chamar a primeira grande notícia de impacto da cidade. Foi a queda de um dos aviões da Esquadrilha da Fumaça, no aniversário de Maringá, que bateu num mastro do centro da cidade e caiu na caixa d’água da estação ferroviária. Eu e o Taborianski [Edgar Taborianski, fotógrafo da revista] estávamos lá e publicamos a foto dos destroços do avião, um grande furo jornalístico.

3) Depois do sucesso da Maringá Ilustrada, Aristeu Brandespim e o senhor deram continuidade à produção de revistas. A seguinte foi a Norte do Paraná em Revista (NP). Como era a produção?

- Como ela agradou tanto, Aristeu resolveu criar uma revista permanente. E como ele queria mais do que Maringá, mudou o nome da revista para Norte do Paraná. Mas depois da 4ª ou 5ª edição ela repercutiu para todo o Estado e mudamos o nome para Nôvo Paraná. E o escritório era na casa de cada um de nós. Nos reuníamos na casa do Aristeu para discutir o que seria publicado, não existia um local [uma sede] da revista. A gente tinha um Jeep e cobríamos todo o norte do Paraná. Depois de um tempo ela ganhou expressão e criamos escritórios em Curitiba e Londrina. A equipe, composta [no começo] por mim, Frank [Franklin Vieira] Silva, Ademar Schiavone e Ademaro Barreiros, viajava de avião, carro, ônibus e trem para atender o Estado inteiro.

4) A revista durou cerca de duas décadas. A que se deve o sucesso desse impresso?

- A revista teve sucesso pelo jeito que a escrevíamos. A gente escrevia o que interessava ao povo do interior do Paraná, que era sobre eles mesmos. Não era fofoca, publicávamos notícias diferentes. Nós corríamos por diversas cidades para fazer matérias que não fossem apenas desastres ou crimes, sempre procuramos achar algum detalhe do cotidiano do cidadão. Além disso, ela era impressa com um ótimo papel e também ótima fotografia. Os fotógrafos eram Jasson Figueredo e Edgar Taborianski. A revista fazia o estilo da cidade. A cabeça do jornalista era a cabeça da cidade. Ela só acabou quando Aristeu morreu, ele levou a revista com ele para o túmulo. E como já estávamos dispersos em outros trabalhos resolvemos deixar [de lado] a publicação.

5) Não era tão fácil ser jornalista em Maringá na época. Quais eram os maiores problemas enfrentados?

- Na verdade as dificuldades eram superadas pelo sonho. Eu e os companheiros pagávamos pelo sonho. Existiam problemas que a gente enfrentava, como escrever em máquinas de escrever, mandar publicar em São Paulo, que demorava quase dois meses para voltar impressa para Maringá. Esses eram os maiores problemas da revista, porque o resto… a gente era sonhador, não importava o problema, a gente estava realizando um sonho.

6) Como o senhor disse, a revista publicava algo diferente. Conte uma curiosidade da revista.

- Uma das reportagens mais marcantes eu fiz junto com Frank Silva. A gente contou a história das primeiras damas das cidades do interior, entre Londrina e Paranavaí. Em vez de mostrar o prefeito, mostrávamos suas mulheres, que ninguém conhecia. Convencemos os prefeitos a fazer isso, já que eles estavam sempre na mídia. Ficou uma reportagem muito bonita, que mostrava a importância das mulheres dos políticos, que conviviam com a vida agitada dos maridos políticos. Aproveitamos para mostrar a importância da família no trabalho desses prefeitos.

(Matéria extraída do site "Jornal Matéria Prima")

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