terça-feira, 27 de abril de 2021

Luiz Damo (Poemas Escolhidos) VI

ÁGUAS

Quantas águas já moveram moinhos
mas hoje, dormem no fundo do mar,
ajudaram a desbravar caminhos
sem jamais do trajeto reclamar.

Transformaram caudalosos espinhos
em novas razões para caminhar,
carregando nos seus braços magrinhos
pesadas pedras sem desanimar.

De origens humildes e tão franzinas
vertentes serenas e borbulhantes,
sempre calmantes, limpas, cristalinas.

Sem um rumo certo, passos constantes
foram alimento para as turbinas
deixando os lares mais aconchegantes.
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PREÇO DA VIDA

O preço da vida, às vezes, é a morte,
de tantos que morrem sem nada ver
e o vento que nem sempre segue o norte
de longe a lembrança nos faz sofrer.

Outros prosseguem, numa luta forte,
sentem sob os pés tudo estremecer
e o amargo pranto talvez só conforte
uns poucos passos antes de morrer.

Muitos atalhos ao longo da estrada
simples hiato na mata dos sabores
velho e rude prato na mesa errada.

Sem saber por certo quais os valores
que andam à frente de cada jornada
há quem deixe a paz pra comprar temores.
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TERNURA

Se de Deus sede sente o caminhante
nos caminhos que sulcam esta terra,
mergulha na água viva que lhe dera
a chancela de mudar seu semblante.

Seja eterno o terno dom que lhe gera
novo afeto, noutro teto, aconchegante,
verta paz, converta em luz fulgurante,
todo o sinal onde o mal prepondera.

Que a fonte forme a ponte circulante
muito forte que à morte firme espera,
dando alento ao momento mais gritante.

Quando em tudo vemos dor fatigante
surge a voz com poder que recupera,
todo o passo em compasso relutante.
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VALORES

Dos muitos dotes que outrora valiam,
alguns se perderam na caminhada,
outros morreram porque só traziam
meras ilusões, sonhos e mais nada.

Hoje, o que temos são novos valores,
considerados fortes vanguardeiros,
de cada passo, eternos mediadores,
brilhando nos céus de tantos roteiros.

Sempre ligados nas transformações,
brilhantes frutos das lutas sociais,
temos nas mãos suas confirmações.

Ninguém pode com formas radicais
querer mudar as próprias convicções,
nem por pressões inconstitucionais.
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VOLTAS DA VIDA

Muitas voltas por nós já foram dadas
outras tantas quiçá, venhamos dar,
nesta vida palmilhando as estradas
sem ter medo de talvez fracassar.

Forte luz, procuramos dar à vida,
para que outras tantas possam brilhar,
mas nem sempre a vitória pretendida,
chega e traz mais vigor pra incentivar.

Quem souber caminhar entre os espinhos
sem nunca desviar dos seus caminhos
pode obter tudo o quanto quer buscar.

Nada tem que não possa ser obtido,
mesmo que parecer tudo perdido
e as chamas do querer já não brilhar.

Fonte:
Luiz Damo. Pétalas do Quotidiano. Caxias do Sul/RS: Lorigraf, 2012.
Livro enviado pelo autor.

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