Antigamente uma personagem chamada Nama-kuru** matava muita gente e, por isso, todos o odiavam e queriam mata-lo, mas nunca conseguiam vê-Io.
Estava uma viúva chorando a morte do marido quando Nama-kuru disse: "Vou ter com ela". No outro dia a mulher foi apanhar camarão à beira do rio e Nama-kuru, andando na sua frente sem se deixar ver, jogava-lhe peixes que ela apanhava com facilidade. Então a mulher gritou: "Quem é que me dá esses peixes? Quero vê-lo! Por que se esconde? Ensina-me como se apanha tantos peixes!".
Nama-kuru respondeu:
"Ensinar-te-ei se me abres a porta da tua casa!".
Replicou a muIher: "Vem quando quiseres, abrir-te-ei a porta da casa".
De noite, quando os filhos da viúva estavam dormindo, Nama-kuru foi ter com ela, que o recebeu com muita alegria e o tratou bem. Nama-kuru trazia muito moqueado: tatu, peixe, inambu, paca etc e tudo lhe entregou.
Ela, porém, escondeu-o, e todos os dias comia sem partilhar com os filhos. Entretanto, Nama-kuru, todas as noites ia ter com a muIher e com ela comia e bebia.
Uma noite os filhos da viúva acordaram e descobriram o mau proceder da mãe. Disseram: "Nossa mãe não gosta mais de nós, vamos fugir!".
Assim fizeram. No outro dia, fugiram para o mato onde cavaram um buraco para se esconderem. A mulher não chorou a fuga dos filhos.
Quando ela ia à roça deixava sempre a cuia de manicuera*** para Nama-kuru beber. Um dia, enquanto ela estava trabalhando na roça, os filhos entraram em casa e misturaram na cuia de manicuera um forte veneno de cipó****, e depois fugiram.
Nama-kuru veio, fumou primeiro um grande cigarro, depois bebeu a manicuera com veneno e morreu. A viúva queria sepulta-Io na terra, mas ele não quis e foi sepultar-se no firmamento. Seu sepulcro está no grupo de estrelas que rodeiam o Cruzeiro do Sul.
Como a viúva tinha coabitado com Nama-kuru, deu à luz um filho que (ela) costumava colocar sempre em um atura*****, amarrado debaixo do telhado. Quando (ela) ia tomar banho, os filhos entravam em casa para ver o irmãozinho. Como ia crescendo muito devagar, um dia, quando a mãe estava na roça, os filhos levaram o irmãozinho para o mato. Lá cortaram galhos de imbaúba, amarraram com eles os pés do pequeno, colocaram-no perto de uma planta de batatas. Ele comeu as folhas e cresceu muito depressa. Quando foram vê-lo, deu um pulo e fugiu: tinha virado veado.
Por isso a mulher indígena, quando está para dar à luz, não come carne de veado porque teme que o filhinho morra.
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* Uaupés: Os índios que vivem às margens do Rio Uaupés e seus afluentes – Tiquié, Papuri, Querari e outros menores – integram atualmente 17 etnias, muitas das quais vivem também na Colômbia, na mesma bacia fluvial e na bacia do Rio Apapóris (tributário do Japurá), cujo principal afluente é o Rio Pira-Paraná. Esses grupos indígenas falam línguas da família Tukano Oriental (apenas os Tariana têm origem Aruak) e participam de uma ampla rede de trocas, que incluem casamentos, rituais e comércio, compondo um conjunto sócio-cultural definido, comumente chamado de “sistema social do Uaupés/Pira-Paraná”. Este, por sua vez, faz parte de uma área cultural mais ampla, abarcando populações de língua Aruak e Maku.
As etnias que estão na região do Rio Uaupés são, além dos Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Mirity-tapuya, Pira-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuca, Kotiria, Tatuyo, Taiwano, Yuruti (as três últimas habitam só na Colômbia). Estão no noroeste da Amazônia, às margens do Rio Uaupés e seus afluentes
**É uma lenda "dos Tukanos sobre o Cruzeiro do Sul". Nama é 0 nome tukano do veado, ungulado da familia Cervídeos.
*** Manicuera: suco de mandioca amarga (Manihot esculenta Cranz) que, pela fervura, perde a toxicidade do ácido cianídrico.
**** Cipó: trata-se do timbó, 0 veneno de pesca preparado corn vários cipós Lonchocarpus sp.
***** Atura: 0 cesto-cargueiro feito de cipó imbé (philodendron imbé) que as mulheres costumam trazer às costas pendendo de uma embira que lhes contorna a testa e que é de fabricação exclusiva dos indios Maku.
Estava uma viúva chorando a morte do marido quando Nama-kuru disse: "Vou ter com ela". No outro dia a mulher foi apanhar camarão à beira do rio e Nama-kuru, andando na sua frente sem se deixar ver, jogava-lhe peixes que ela apanhava com facilidade. Então a mulher gritou: "Quem é que me dá esses peixes? Quero vê-lo! Por que se esconde? Ensina-me como se apanha tantos peixes!".
Nama-kuru respondeu:
"Ensinar-te-ei se me abres a porta da tua casa!".
Replicou a muIher: "Vem quando quiseres, abrir-te-ei a porta da casa".
De noite, quando os filhos da viúva estavam dormindo, Nama-kuru foi ter com ela, que o recebeu com muita alegria e o tratou bem. Nama-kuru trazia muito moqueado: tatu, peixe, inambu, paca etc e tudo lhe entregou.
Ela, porém, escondeu-o, e todos os dias comia sem partilhar com os filhos. Entretanto, Nama-kuru, todas as noites ia ter com a muIher e com ela comia e bebia.
Uma noite os filhos da viúva acordaram e descobriram o mau proceder da mãe. Disseram: "Nossa mãe não gosta mais de nós, vamos fugir!".
Assim fizeram. No outro dia, fugiram para o mato onde cavaram um buraco para se esconderem. A mulher não chorou a fuga dos filhos.
Quando ela ia à roça deixava sempre a cuia de manicuera*** para Nama-kuru beber. Um dia, enquanto ela estava trabalhando na roça, os filhos entraram em casa e misturaram na cuia de manicuera um forte veneno de cipó****, e depois fugiram.
Nama-kuru veio, fumou primeiro um grande cigarro, depois bebeu a manicuera com veneno e morreu. A viúva queria sepulta-Io na terra, mas ele não quis e foi sepultar-se no firmamento. Seu sepulcro está no grupo de estrelas que rodeiam o Cruzeiro do Sul.
Como a viúva tinha coabitado com Nama-kuru, deu à luz um filho que (ela) costumava colocar sempre em um atura*****, amarrado debaixo do telhado. Quando (ela) ia tomar banho, os filhos entravam em casa para ver o irmãozinho. Como ia crescendo muito devagar, um dia, quando a mãe estava na roça, os filhos levaram o irmãozinho para o mato. Lá cortaram galhos de imbaúba, amarraram com eles os pés do pequeno, colocaram-no perto de uma planta de batatas. Ele comeu as folhas e cresceu muito depressa. Quando foram vê-lo, deu um pulo e fugiu: tinha virado veado.
Por isso a mulher indígena, quando está para dar à luz, não come carne de veado porque teme que o filhinho morra.
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* Uaupés: Os índios que vivem às margens do Rio Uaupés e seus afluentes – Tiquié, Papuri, Querari e outros menores – integram atualmente 17 etnias, muitas das quais vivem também na Colômbia, na mesma bacia fluvial e na bacia do Rio Apapóris (tributário do Japurá), cujo principal afluente é o Rio Pira-Paraná. Esses grupos indígenas falam línguas da família Tukano Oriental (apenas os Tariana têm origem Aruak) e participam de uma ampla rede de trocas, que incluem casamentos, rituais e comércio, compondo um conjunto sócio-cultural definido, comumente chamado de “sistema social do Uaupés/Pira-Paraná”. Este, por sua vez, faz parte de uma área cultural mais ampla, abarcando populações de língua Aruak e Maku.
As etnias que estão na região do Rio Uaupés são, além dos Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Mirity-tapuya, Pira-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuca, Kotiria, Tatuyo, Taiwano, Yuruti (as três últimas habitam só na Colômbia). Estão no noroeste da Amazônia, às margens do Rio Uaupés e seus afluentes
**É uma lenda "dos Tukanos sobre o Cruzeiro do Sul". Nama é 0 nome tukano do veado, ungulado da familia Cervídeos.
*** Manicuera: suco de mandioca amarga (Manihot esculenta Cranz) que, pela fervura, perde a toxicidade do ácido cianídrico.
**** Cipó: trata-se do timbó, 0 veneno de pesca preparado corn vários cipós Lonchocarpus sp.
***** Atura: 0 cesto-cargueiro feito de cipó imbé (philodendron imbé) que as mulheres costumam trazer às costas pendendo de uma embira que lhes contorna a testa e que é de fabricação exclusiva dos indios Maku.
Fontes:
– P. Alcionilio Brüzzi Alves da Silva SDB. Crenças e lendas dos Uaupés. Ediciones Abya-Yala, 1994.
– Sobre os Uaupés: Povos indígenas do Brasil.
– P. Alcionilio Brüzzi Alves da Silva SDB. Crenças e lendas dos Uaupés. Ediciones Abya-Yala, 1994.
– Sobre os Uaupés: Povos indígenas do Brasil.
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