O termo crônica tem origem no latim “chronica” e do grego “Khrónos” (tempo). No início do cristianismo, significava o relato dos fatos em sua ordem cronológica. Com o surgimento da imprensa, no século XIX, a crônica começou a aparecer nos jornais, sendo que a primeira foi publicada no Journal des Débats de Paris, em 1799.
Até hoje, a crônica é um tipo de texto muito comum em jornais e revistas, além dos sites e blogs. São geralmente mais compactos e costumam ser narrados em primeira pessoa, o que dá um ar mais pessoal e próximo do leitor.
A crônica é um dos gêneros literários mais ecléticos e, por essa razão, se apresenta de várias formas:
>> Descritiva: explora a caracterização de seres animados e inanimados em um espaço vivo como uma pintura, precisa como uma fotografia ou dinâmica como um filme publicado;
>> Narrativa: se baseia em uma história, assim como o conto. O que difere é que na crônica existe a opinião do autor embutida. Pode ser narrada em primeira e na terceira pessoa;
>> Dissertativa: opinião explícita, com argumentos mais sentimentalistas do que racionais. Escrita tanto na primeira pessoa do singular quanto na do plural;
>> Narrativo-descritiva: descreve e mostra fatos do dia a dia. Narrada em primeira na terceira pessoa do singular;
>> Humorística: tem linguagem informal e é marcada pela ironia e pela comédia;
>> Lírica: com uma linguagem poética e metafórica, comunica emoções, sentimentos como paixão e saudade, por exemplo;
>> Poética: apresenta versos poéticos em forma de crônica, expressando sentimentos e reações de um determinado assunto;
>> Jornalística: apresenta notícias ou fatos do cotidiano. Pode ser policial, desportiva etc.;
>> Histórica: baseada em fatos reais ou históricos;
>> Crônicas de viagem: narra experiências de viagens vividas pelo autor.
A crônica pode não ser o gênero mais aclamado pela Literatura, mas a verdade é que ela atrai um grande número de fãs pelo mundo. Escritores encontram nela um lugar de conversa com o seu público, em que podem se expressar sem tantas formalidades e regras. Leitores veem na crônica uma oportunidade de estarem mais próximo dos escritores e de saber o que pensam, como se estivessem conversando com eles.
Muitos escritores conseguem se destacar escrevendo este gênero. Um exemplo disso é Mia Couto, um escritor que transita por vários gêneros e que escreve crônicas aclamadas pelo público do mundo todo. Outro escritor conhecido pelas suas crônicas é o Luis Fernando Veríssimo, que usa o humor para tratar de temas do cotidiano com maestria.
Para falar sobre crônicas, entrevistamos o escritor Rubem Penz, professor da Metamorfose e criador da Santa Sede, que ministra cursos e oficinas de crônicas. Confira a entrevista na íntegra:
Na sua opinião, quais as características da crônica que mais atraem o leitor?
A crônica seduz o leitor por diversas razões, e elas estão todas relacionadas com as exigências de seu suporte – a coluna do jornal. A primeira que destaco é a informalidade pois, em função dela, o leitor se vê próximo ao autor. Trocando confidências, até. Isso humaniza a relação, tornando-a equânime, franca, descompromissada. Verdadeira.
A segunda característica que atrai leitores é o estilo: são textos breves, fluidos, sedutores do começo ao final. Como “tomar um cafezinho” com o cronista, alguém bom de papo, é a oportunidade de colocar em dia os assuntos do momento.
A terceira é a promessa. São escritores que marcam dia e hora para o próximo encontro, para quando se comprometem em trazer outra vez pontos de vista surpreendentes e relevantes sobre algo que dialogue com a vida do leitor. Enfim, encanta na crônica a soma de relevância, estilo e informalidade.
Se a crônica pode ser considerada o meio do caminho entre o artigo e o conto, como fazer para reconhecê-la? Quais os elementos que a diferem dos dois gêneros citados?
A crônica é um texto antropofágico por natureza – permite que o autor se alimente de outros gêneros (literários ou não) e, postos em sua coluna, transforme-os em crônica. Porém, com o artigo – ou ensaio – e o conto esse fenômeno é ainda mais profundo, uma vez que carregam duas matrizes diferentes na sua própria gênese.
De um lado, os ensaios dos ingleses (como disse Vinicius de Moraes) se transformaram na crônica artigo. Nela, o escritor apresenta um ponto de vista sobre determinado tema. De outro lado, o flâneur dos franceses inspirou autores como João do Rio a contar histórias colhidas de seu trânsito pela sociedade carioca, em folhetins, retirando das tramas a oportunidade de reflexão – raiz da crônica conto.
Quando comparamos a formalidade do artigo/ensaio (filosófico ou de humanidade) e do conto (literário) com a informalidade da linguagem crônica, somos capazes de perceber com clareza as nuances que os diferenciam. Lembrando sempre: a crônica, antes mesmo de ser um “o quê”, é um “quando” e um “onde”.
Quais os escritores de crônicas que mais te inspiram?
O primeiro de todos, disparado, é Luis Fernando Veríssimo. Dele, sou mais do que leitor: sou discípulo. Sua verve humorística conversa com autores como Woody Allen na arte de criticar a sociedade de modo sutil, ferino e elegante. Além do mais, LFV é o mais criativo do gênero, marca distintiva que persigo em minha produção. Depois, elenco uma tríade formadora da crônica brasileira a partir de meados do século XX: Rubem Braga, Antônio Maria e Paulo Mendes Campos. Outros autores que movem minha inspiração são Drummond, Vinicius, Scliar e Caio F. – este desenhando os contornos da crônica intimista ao lado de Clarice Lispector. Ainda assim, procuro sempre acompanhar todos.
Que dicas você gostaria de dar para quem gosta de crônica e pretende escrever este gênero?
Em primeiro lugar, ler diversos cronistas. Então, perseguir – e encontrar – sua voz própria. Crônica é o autor, um texto com impressão digital em todas as palavras. Ela precisa ser um crime imperfeito: cheio de marcas, modus operandi e rastros para denunciar a autoria. E isso só é possível escrevendo. Muito. Por fim, criar uma rotina e uma periodicidade de produção. Diferentemente do clichê da espera pelas musas, a inspiração jamais virá até o cronista – será dele a iniciativa. E quem ajuda nisso é o prazo. Aliás, eis aí uma das grandes vantagens de cursar uma oficina de crônicas: a imperiosa necessidade de escrever sob demanda. Só isso já ensina muito!
Até hoje, a crônica é um tipo de texto muito comum em jornais e revistas, além dos sites e blogs. São geralmente mais compactos e costumam ser narrados em primeira pessoa, o que dá um ar mais pessoal e próximo do leitor.
A crônica é um dos gêneros literários mais ecléticos e, por essa razão, se apresenta de várias formas:
>> Descritiva: explora a caracterização de seres animados e inanimados em um espaço vivo como uma pintura, precisa como uma fotografia ou dinâmica como um filme publicado;
>> Narrativa: se baseia em uma história, assim como o conto. O que difere é que na crônica existe a opinião do autor embutida. Pode ser narrada em primeira e na terceira pessoa;
>> Dissertativa: opinião explícita, com argumentos mais sentimentalistas do que racionais. Escrita tanto na primeira pessoa do singular quanto na do plural;
>> Narrativo-descritiva: descreve e mostra fatos do dia a dia. Narrada em primeira na terceira pessoa do singular;
>> Humorística: tem linguagem informal e é marcada pela ironia e pela comédia;
>> Lírica: com uma linguagem poética e metafórica, comunica emoções, sentimentos como paixão e saudade, por exemplo;
>> Poética: apresenta versos poéticos em forma de crônica, expressando sentimentos e reações de um determinado assunto;
>> Jornalística: apresenta notícias ou fatos do cotidiano. Pode ser policial, desportiva etc.;
>> Histórica: baseada em fatos reais ou históricos;
>> Crônicas de viagem: narra experiências de viagens vividas pelo autor.
A crônica pode não ser o gênero mais aclamado pela Literatura, mas a verdade é que ela atrai um grande número de fãs pelo mundo. Escritores encontram nela um lugar de conversa com o seu público, em que podem se expressar sem tantas formalidades e regras. Leitores veem na crônica uma oportunidade de estarem mais próximo dos escritores e de saber o que pensam, como se estivessem conversando com eles.
Muitos escritores conseguem se destacar escrevendo este gênero. Um exemplo disso é Mia Couto, um escritor que transita por vários gêneros e que escreve crônicas aclamadas pelo público do mundo todo. Outro escritor conhecido pelas suas crônicas é o Luis Fernando Veríssimo, que usa o humor para tratar de temas do cotidiano com maestria.
Para falar sobre crônicas, entrevistamos o escritor Rubem Penz, professor da Metamorfose e criador da Santa Sede, que ministra cursos e oficinas de crônicas. Confira a entrevista na íntegra:
Na sua opinião, quais as características da crônica que mais atraem o leitor?
A crônica seduz o leitor por diversas razões, e elas estão todas relacionadas com as exigências de seu suporte – a coluna do jornal. A primeira que destaco é a informalidade pois, em função dela, o leitor se vê próximo ao autor. Trocando confidências, até. Isso humaniza a relação, tornando-a equânime, franca, descompromissada. Verdadeira.
A segunda característica que atrai leitores é o estilo: são textos breves, fluidos, sedutores do começo ao final. Como “tomar um cafezinho” com o cronista, alguém bom de papo, é a oportunidade de colocar em dia os assuntos do momento.
A terceira é a promessa. São escritores que marcam dia e hora para o próximo encontro, para quando se comprometem em trazer outra vez pontos de vista surpreendentes e relevantes sobre algo que dialogue com a vida do leitor. Enfim, encanta na crônica a soma de relevância, estilo e informalidade.
Se a crônica pode ser considerada o meio do caminho entre o artigo e o conto, como fazer para reconhecê-la? Quais os elementos que a diferem dos dois gêneros citados?
A crônica é um texto antropofágico por natureza – permite que o autor se alimente de outros gêneros (literários ou não) e, postos em sua coluna, transforme-os em crônica. Porém, com o artigo – ou ensaio – e o conto esse fenômeno é ainda mais profundo, uma vez que carregam duas matrizes diferentes na sua própria gênese.
De um lado, os ensaios dos ingleses (como disse Vinicius de Moraes) se transformaram na crônica artigo. Nela, o escritor apresenta um ponto de vista sobre determinado tema. De outro lado, o flâneur dos franceses inspirou autores como João do Rio a contar histórias colhidas de seu trânsito pela sociedade carioca, em folhetins, retirando das tramas a oportunidade de reflexão – raiz da crônica conto.
Quando comparamos a formalidade do artigo/ensaio (filosófico ou de humanidade) e do conto (literário) com a informalidade da linguagem crônica, somos capazes de perceber com clareza as nuances que os diferenciam. Lembrando sempre: a crônica, antes mesmo de ser um “o quê”, é um “quando” e um “onde”.
Quais os escritores de crônicas que mais te inspiram?
O primeiro de todos, disparado, é Luis Fernando Veríssimo. Dele, sou mais do que leitor: sou discípulo. Sua verve humorística conversa com autores como Woody Allen na arte de criticar a sociedade de modo sutil, ferino e elegante. Além do mais, LFV é o mais criativo do gênero, marca distintiva que persigo em minha produção. Depois, elenco uma tríade formadora da crônica brasileira a partir de meados do século XX: Rubem Braga, Antônio Maria e Paulo Mendes Campos. Outros autores que movem minha inspiração são Drummond, Vinicius, Scliar e Caio F. – este desenhando os contornos da crônica intimista ao lado de Clarice Lispector. Ainda assim, procuro sempre acompanhar todos.
Que dicas você gostaria de dar para quem gosta de crônica e pretende escrever este gênero?
Em primeiro lugar, ler diversos cronistas. Então, perseguir – e encontrar – sua voz própria. Crônica é o autor, um texto com impressão digital em todas as palavras. Ela precisa ser um crime imperfeito: cheio de marcas, modus operandi e rastros para denunciar a autoria. E isso só é possível escrevendo. Muito. Por fim, criar uma rotina e uma periodicidade de produção. Diferentemente do clichê da espera pelas musas, a inspiração jamais virá até o cronista – será dele a iniciativa. E quem ajuda nisso é o prazo. Aliás, eis aí uma das grandes vantagens de cursar uma oficina de crônicas: a imperiosa necessidade de escrever sob demanda. Só isso já ensina muito!
Fonte:
Escrita Criativa
Escrita Criativa
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