segunda-feira, 26 de abril de 2021

Paulo Leminski (Versos Diversos) 11

 féretro para uma gaveta
 
esta a gaveta do vício
rimbaud tinha uma
muitas hendrix
mallarmé nenhuma

esta a gaveta
de um armário impossível
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fazia poesia

e a maioria saía
tal a poesia que fazia

fazia poesia

e a poesia que fazia
não é essa
que nos faz alma vazia

fazia poesia

e a poesia que fazia
era outra filosofia

fazia poesia

e a poesia que fazia
tinha tamanho família

fazia poesia

e fez alto
em nossa folia

fazia tanta poesia
ainda vai ter poesia um dia
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entro e saio

dentro
é só ensaio
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a máquina
engole página
cospe poema
engole página
cospe propaganda

MAIÚSCULAS
minúsculas

a máquina
engole carbono
cospe cópia
cospe cópia
engole poeta
cospe prosa

MINÚSCULAS
maiúsculas
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

você para
a fim de ver
o que te espera

só uma nuvem
te separa
das estrelas
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não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino
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o sol escreve
em tua pele
o nome de outra raça

esquece
em cada uva
a história do céu
do vento
e da chuva
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confira

tudo que respira
conspira
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ana vê alice
como se nada visse
como se nada ali estivesse
como se ana não existisse

vendo ana
alice descobre a análise
ana vale-se
da análise de alice
faz-se Ana Alice
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riso para gil
teu riso
reflete no teu canto
rima rica
raio de sol
em dente de ouro

“everything is gonna be alright”

teu riso
diz sim
teu riso
satisfaz

enquanto o sol
que imita teu riso
não sai

Fonte:
Paulo Leminski. Polonaises. 
Curitiba: Ed. do Autor, 1980.

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