quarta-feira, 21 de abril de 2021

Carolina Ramos (Poemas Escolhidos) 11

TANTOS ANOS DEPOIS...

Vinte e cinco anos de feliz união...

Naquele dia em que nos conhecemos,
teria sido bom... tão bom seria!,
se os ternos corações, que nós dois temos,
passassem a pulsar em sintonia!

Quantas dores de amor nós dois sofremos!
Quanta angústia nossa alma evitaria
se as mãos unidas, como agora temos,
ontem se unissem pela poesia.

Mas ninguém foge à sua própria sina!
O tempo que nos sobra, hoje, é só nosso...
e os segundos que voam, quem domina?!

Busquemos, juntos, a felicidade!
Se podes ser feliz e eu também posso,
que o amor nos una pela eternidade!
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RUSGA

Nada dói tanto quanto a despedida
a separar, de um golpe, almas que choram
ao sentir que no adeus se esvai a vida
e tudo o mais que em vida mais adoram!

Assino a carta... e, uma vez mais, relida,
as emoções nas lágrimas se escoram,
retardando a sentença não cumprida,
com temor de arriscar a paz que imploram.

Nosso acervo de amor tem grande saldo!
E esta rusga, tão frágil, se desmente,
ante a ternura que nos dá respaldo!

Se afogo o adeus, num pranto de revolta,
é que esse adeus, dorido e reticente,
nas entrelinhas... leva o apelo: – Volta!
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INTERLÚDIO

Quando a manhã se aloure e o sol amorne as folhas,
o orvalho guarde ainda o arco-íris e recolhas,
filtrada em ouro, a luz que a própria vista embaça,
talvez tudo se iguale em tons pasteis cambiantes,
talvez sejam iguais os pálidos instantes,
se a saudade te fere e a solidão te abraça!

Mas, se a vida desperta… e, na explosão das cores,
o sol acorda e esplende em múltiplos fulgores,
hás de fugir da inércia e do seu beijo frio,
se afastares de ti o abismo escuro e fundo
e se, vencendo a dor, num renascer fecundo,
teu coração se negue a continuar coração vazio!
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ARTE PLENA

Com músicas, versos, telas
e inspiração desmedida,
artistas fazem mais belas
as belas coisas da vida!


A olhar o mundo, com visão serena
de quem ama o que fez e, apaixonado,
reconhece a presença da arte plena
e do talento nunca superado,

notou, o Criador, o quão pequena
era a alma do ser recém criado!
E temeu-lhe o futuro que condena
um sonho ao nada, quando mal sonhado!

E, então, a luz brilhou na noite escura!
E reacendeu-se a flama das conquistas!
- Num mágico lampejo de ternura,

dando-lhes alma e coração de sobra,
Deus criou, tão sensíveis, os Artistas,
humanizando, assim, a própria Obra!
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NÃO CREIAS

Tem cautela... não creias na Poesia!
Poeta sonha… às vezes se arrebata,
burla a si mesmo, abraça a fantasia
e, da palavra, esquece a força exata!...

Volúvel, num constante devaneio,
o Poeta é incapaz de amar alguém!
E, se ama esquece, no incontido anseio
de amar Vida, seu supremo bem!

Sua Poesia, de ilusões repleta,
ilude quando ri, ou quando chora!
Não creias na Poesia… no Poeta...
E, muito menos, no que eu disse agora!

Se fora como eu disse, menos dura
seria a vida de um Poeta! Vida
sem resquícios de mágoa ou de amargura,
e a saudade, até doce... não dorida!

Pode o Poeta rir... mesmo chorando!
E enganar... ao compor falsa alegria,
mas, nunca esconde o amor! E, menos, quando
o entrega inteiro aos braços da Poesia!

O Poeta, quando ama de verdade,
tem seu Amor tal força impressentida,
que assume dimensão de Eternidade
indo além... muito além da própria Vida!

Fonte:
Carolina Ramos. Destino: poesias. São Paulo: EditorAção, 2011.
Livro enviado pela poetisa.