quinta-feira, 8 de abril de 2021

Caldeirão Poético XLIII

Antônio Francisco Pereira
Queluzito/MG

A TRAVESSIA


O meu encontro com a Morte quero
que seja assim: leal e sem receio.
Ela virá me receber, espero,
tão consciente como a Vida veio.

Uma me entregará à outra de frente,
pois entre ambas não deve haver rodeio.
Mas pretendo ouvir, mesmo inconsciente,
a conversa das duas (eu, no meio).

Dirá a Vida: "Cuida bem de sua alma
como cuidei do corpo que se evade".
E a Morte então responderá com calma:

"Fica tranquila, minha irmã rival.
Só não colherá o Bem, na eternidade,
quem antes dela semeou o Mal".
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Eugênia Carra'h
Fortaleza/CE

AS PÉROLAS DA VIDA
(PALAVRA CANTADA)


Numa arca ou concha, bem guardada,
Minúscula joia e, com muito carinho,
Regada com o amor; seiva emprestada,
E aquele abrigo transformado em ninho.

Assim cuidada nessa espera longa,
E embora longa pareça a espera,
Desde que jamais se interrompa,
Chegará sã e salva, forte e bela!

E a arca ou concha agora aberta,
Expõe com júbilo preciosa pérola:
Não só um ser mas, mais uma vida.

Umas "serão jogadas aos porcos",
Com certeza outras serão adornos,
Pelas escolhas que o coração dita.
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José M. M. Pedro
Lisboa/Portugal

ANTES QUE SURJA O AMOR


Longo percurso ainda temos de percorrer
Antes que surja o Amor! Julgamos finda
A nossa missão, antes de estar cumprida
É mais uma das loucuras do nosso viver.

Sim, o percurso é longo, é uma subida
Agreste e íngreme e traz tanto que sofrer!
É necessária toda a coragem pra não correr
O risco de "sair" numa paragem proibida...

Oculta dos outros mundos, então, estas cidades
Em que nós vivemos, e para nela caminhar
É necessário toda a agudeza de uma fera.

De olhos atentos... e com passos leves,
Caminho pé ante pé... quase a arrastar
Na direção dos píncaros das altas auréolas!
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Oswaldo Francisco Martins
Jequié/BA

AMOR E BEM VERDADEIROS


Na visão de gente reta,
Que transborda de carinho,
Que remove todo espinho,
Há a paz maior como meta.

Jaz respeito e tem amor.
Linda estrela-amor cadente
Permanece então ardente
Alegrando-nos feito o humor.

Céu descortinado brilha
E em sua batuta há Deus
Sobre todos filhos Seus

E o bem que se compartilha.
Com acenos para o bem
Há fé e preces sãs, também,
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Oswald Barroso
Cariri/CE

AMOR SEM MEDIDA


Tu me ensinaste a amar sem ter medida
sem ter limite, sem temer o inesperado.
E com teu corpo de paixão nunca contida
eu aprendi que o grande amor é sempre ousado.

Nas fundas águas de um mar desconhecido
ao meu amor, ao meu desejo insaciado,
meu coração é como um barco, que impelido
vai navegando em horizonte ilimitado.
 
Mesmo sabendo que o amor é perecível
e do abismo no meu rumo atravessado,
jogo o meu barco para além do previsível

e corro o risco desse mar encapelado,
pois meu amor fez de possível o impossível
e já não teme mesmo amar sem ser amado.

Fonte:
Luciano Dídimo (org.). 100 sonetos de 100 poetas.
Fortaleza/CE: Expressão Gráfica e Ed., 2019.

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