O PACHECO ESTÁ NOIVO de aliança e prestes a se casar com a coisinha mais adorável do bairro. A Puritana da Conceição. Uma moça bonita, de apenas dezessete anos, olhos verdes, alta, esbelta, os cabelos negros, repartidos, sem falar que possui um corpo escultural, de princesa (daqueles saídos dos fantásticos contos de fadas) que parece capaz de pegar fogo na hora e no lugar certos. Pacheco vai para a casa dela, todas as noites, porém, como é um homem evangélico e, acima de tudo respeitoso e consciente, não mantém relações mais íntimas com a jovem. Fica apenas nos abraços e beijos, deixando os finalmentes, para quando estiver devidamente em dia, ou seja, legalmente matrimoniado perante as sagradas leis da sua igreja e as bênçãos de Deus.
Nesta noite, os pombinhos, se acham na varanda do quarto dela, debruçados no parapeito, olhando à rua movimentada, quando cruza, em direção à pracinha da Matriz de Santa Perpétua, a Suzana Pinga Fogo. Pacheco, ao ver a cachopa, chama a atenção de Puritana.
— Amor, veja quem está passando aqui em frente!
Puritana, finge uma distração longe de ser verdadeira, dá uma espiadela breve e reconhece, de pronto, a ex-namorada de seu futuro marido.
— Não é a lambisgoia da Suzana com quem você teve um caso?
— Ela mesma, amor...
— Por quê? Está com saudades?
— Olhando para ela, me lembrei que frequentei a casa de seus pais, por quase um ano e meio...
— E daí?
— Me veio à memória o pensamento de que eu tinha, de fato, vontade me casar com ela, formar uma família, ter filhos...
Puritana, desliza os dedos pelos cabelos que lhe caem, em ondas espetaculares, até à altura da cintura.
— Por que lhe deu na telha remoer isto agora? Acaso está arrependido? Quer pedir arrego para ela?
Pacheco, carinhoso, abraça a garota.
— Não, é nada disto, minha fofa. Eu te amo. De forma alguma... quero pedir arrego ou reatar com a Suzana...
— Então...?
— No começo do nosso relacionamento eu achava ela bastante esperta e inteligente, meio tímida é verdade, mas dava para o gasto. Fiquei em dúvida quando me revelou que contou para a mãe dela —, imagine você, que doideira —, chegou ao ponto de se abrir para dona Pombinha, que sempre que a gente ia para o quarto dela, eu ficava sentado em sua cama até altas horas da noite, e que depois eu ia embora e que rolava somente uns beijinhos...
Toma fôlego e prossegue, muito sério.
— Em razão disto passei a ver nela uma pessoa meio burrinha e sem juízo... Onde já se viu falar destas particularidades logo para a mãe?
— Cá entre nós, vocês ficavam só sentados, ou...?
—... Ora, amor, às vezes eu dava umas deitadinhas. Me espichava... Mas veja bem, sem colocar a carroça diante dos bois. Melhor que ninguém, você sabe como sou e como ajo.
Faz nova pausa e conclui.
— Você tem consciência que jamais abusaria, ou melhor, fosse qual fosse as circunstâncias, euzinho me atreveria a ultrapassar o sinal, tirando algum tipo de proveito. Hoje somos noivos e logo lhe farei a minha esposa. Sua pessoa é a prova viva da minha integridade e de tudo o que estou afirmando...
Puritana se abre num sorriso meio malicioso e completa, com certo desdém na voz:
— Realmente, a sua fulaninha foi mesmo uma idiota. Bem diferente de mim, amor... Não chega nem aos meus pés...
— Por que diz isto, minha princesa?
— Porque eu não sou assim tão vulgar e nunca serei. Tampouco faria o que ela fez. A sua ex deu diploma para ela mesma de bobinha, de tola e sem experiência... O meu vizinho aqui do lado, o Gilberto, tem passado noites inteiras aqui no meu quarto, deitado aqui na minha cama, nós dois estudando para as provas do ENEM, e eu nunca disse nada à mamãe.
Nesta noite, os pombinhos, se acham na varanda do quarto dela, debruçados no parapeito, olhando à rua movimentada, quando cruza, em direção à pracinha da Matriz de Santa Perpétua, a Suzana Pinga Fogo. Pacheco, ao ver a cachopa, chama a atenção de Puritana.
— Amor, veja quem está passando aqui em frente!
Puritana, finge uma distração longe de ser verdadeira, dá uma espiadela breve e reconhece, de pronto, a ex-namorada de seu futuro marido.
— Não é a lambisgoia da Suzana com quem você teve um caso?
— Ela mesma, amor...
— Por quê? Está com saudades?
— Olhando para ela, me lembrei que frequentei a casa de seus pais, por quase um ano e meio...
— E daí?
— Me veio à memória o pensamento de que eu tinha, de fato, vontade me casar com ela, formar uma família, ter filhos...
Puritana, desliza os dedos pelos cabelos que lhe caem, em ondas espetaculares, até à altura da cintura.
— Por que lhe deu na telha remoer isto agora? Acaso está arrependido? Quer pedir arrego para ela?
Pacheco, carinhoso, abraça a garota.
— Não, é nada disto, minha fofa. Eu te amo. De forma alguma... quero pedir arrego ou reatar com a Suzana...
— Então...?
— No começo do nosso relacionamento eu achava ela bastante esperta e inteligente, meio tímida é verdade, mas dava para o gasto. Fiquei em dúvida quando me revelou que contou para a mãe dela —, imagine você, que doideira —, chegou ao ponto de se abrir para dona Pombinha, que sempre que a gente ia para o quarto dela, eu ficava sentado em sua cama até altas horas da noite, e que depois eu ia embora e que rolava somente uns beijinhos...
Toma fôlego e prossegue, muito sério.
— Em razão disto passei a ver nela uma pessoa meio burrinha e sem juízo... Onde já se viu falar destas particularidades logo para a mãe?
— Cá entre nós, vocês ficavam só sentados, ou...?
—... Ora, amor, às vezes eu dava umas deitadinhas. Me espichava... Mas veja bem, sem colocar a carroça diante dos bois. Melhor que ninguém, você sabe como sou e como ajo.
Faz nova pausa e conclui.
— Você tem consciência que jamais abusaria, ou melhor, fosse qual fosse as circunstâncias, euzinho me atreveria a ultrapassar o sinal, tirando algum tipo de proveito. Hoje somos noivos e logo lhe farei a minha esposa. Sua pessoa é a prova viva da minha integridade e de tudo o que estou afirmando...
Puritana se abre num sorriso meio malicioso e completa, com certo desdém na voz:
— Realmente, a sua fulaninha foi mesmo uma idiota. Bem diferente de mim, amor... Não chega nem aos meus pés...
— Por que diz isto, minha princesa?
— Porque eu não sou assim tão vulgar e nunca serei. Tampouco faria o que ela fez. A sua ex deu diploma para ela mesma de bobinha, de tola e sem experiência... O meu vizinho aqui do lado, o Gilberto, tem passado noites inteiras aqui no meu quarto, deitado aqui na minha cama, nós dois estudando para as provas do ENEM, e eu nunca disse nada à mamãe.
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Texto enviado pelo autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário